2 coisas sobre inovação que Nikola Tesla nos ensina
Semana passada tive a sorte de poder visitar a exposição “Nikola Tesla, man of the future” em Ljubljana, em homenagem ao 160º aniversário de seu nascimento em Smiljan, Croácia.
Tesla foi um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Ele nasceu em uma família de intelectuais; o pai era pastor, cultíssimo, e sabia bem a importância de uma formação. O moço teve acesso às melhores escolas da época e cedo já foi identificado como uma criança superinteligente, que não se conformava com um “isso não é possível”. Para se ter uma ideia de quão prolífica era sua mente, Tesla morreu com cerca de 300 registros de patente em seu nome. Sim, você leu certo: três centenas de inventos originais. É culpa dele a existência do motor e o gerador de corrente alternada, o rádio, a comunicação wireless, a lâmpada fluorescente e o controle remoto por rádio, entre outras coisas revolucionárias. Todo estudante de engenharia elétrica conhece o nome porque Tesla virou unidade de medida de indução magnética (ele revolucionou esse campo também, com suas teorias sobre campos magnéticos). Sem falar das importantes contribuições à robótica e à computação. O sujeito definitivamente não era fraco não.
E o mais bacana é que ele não restringia suas áreas de interesse à física, eletricidade e mecânica: gostava poesia a tal ponto que, após horas de pesquisa exaustiva sobre motores de corrente alternada, resolveu caminhar com seu amigo em um parque de Budapeste enquanto recitava Fausto, de Goethe. Fausto, minha gente! De Goethe! Ele sabia os versos de cor. E mais: com isso descobriu a solução e desenhou-a na areia, com a ajuda de um galho de árvore. Interessado também por filosofia e linguística, falava 8 idiomas (sérvio, italiano, tcheco, francês, inglês, latim, húngaro e alemão!), gostava de música erudita e era um gourmet.
Pois bem, o moço recebeu toda a formação que precisava na Europa, mas não conseguia desenvolver suas ideias. Aí conseguiu uma carta de recomendação para trabalhar com ninguém menos que Thomas Edison e emigrou para os Estados Unidos.
Não sei se todo mundo sabe, mas naquela época os engenheiros eletricistas eram divididos em dois times, rivais de morte: os que acreditavam que a melhor solução era corrente contínua (o princípio da pilha, com os polos positivo e negativo bem definidos) e os da corrente alternada (os polos não eram fixos e se alternavam várias vezes por segundo). Era o time CC (corrente contínua) contra o CA (corrente alternada).
Bem, se a gente considerar que Edison também era um gênio do mesmo calibre, não deve ter sido fácil a convivência entre os dois. Principalmente porque Edison era do time CC e Tesla era do CA. Depois de alguns anos trabalhando juntos, não teve mais jeito, a não ser a separação definitiva.
A sorte apareceu quando ele conseguiu vender a patente do sistema de corrente alternada ao empreendedor e também inventor George Westinghouse, que usou o princípio em uma demonstração espetacular na Feira Mundial de Chicago. Graças a isso, conseguiu o contrato para a instalação de uma usina nas Cataratas no Niágara e, mais tarde, para o todo o sistema de transmissão e distribuição de energia elétrica dos Estados Unidos.
O que ficou para mim dessa história toda como resumo do que Tesla nos ensina?
1. Não basta ter conhecimento, criatividade, capacidade técnica e ousadia. É preciso um ambiente que favoreça a inovação. A Europa, naquela época, com todo seu conhecimento e erudição não ajudou, e os Estados Unidos, com sua cultura empreendedora de riscos, ganhou uma das cabeças mais brilhantes da história. Aliás, uma não, a maioria dos gênios europeus encontrou lá campo fértil para o desenvolvimento de suas ideias, que inclui redes de relacionamentos, acesso ao dinheiro, ferramentas e materiais.
2. Não basta ter conhecimento técnico. A maioria esmagadora dos grandes visionários tem cultura geral ampla e rica, não apenas entendem de um assunto específico. Na cabeça deles convivem em paz matemática, física, eletromagnetismo, poesia, gramática, música, culinária e arte, entre outras coisas. Para ter ideias, é preciso repertório, isso é, colecionar o máximo possível de experiências nas mais diversas áreas do conhecimento. Os gênios sempre souberam disso.
Para quem quiser saber mais a respeito do ambiente de inovação e do perfil do profissional inovador, aqui tem mais artigos: De onde vêm as boas ideias, Inovação: quando voar não basta, Quando a inovação chegou na cozinha, Criatividade sem inovação.
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