Para que não se percam mais Turings

Hoje aconteceu a Parada Gay aqui em Berlin, mais conhecida como Christopher-Street Day. O nome vem de uma rua de New York, onde, em 28 de junho de 1969, num bar chamado Stonewall, houve a primeira manifestação pública contra a homofobia. Com o tempo, vários países da Europa adotaram o final de junho para fazer a festa (o Brasil também).

Nesse ano, mais um motivo chama atenção para o fato: hoje é também o aniversário do nascimento de Alan Turing, precursor da informática e um dos maiores gênios matemáticos que a Inglaterra já produziu. Todo mundo que trabalha com informática já ouviu falar da Máquina de Turing, um protótipo de um dos primeiros computadores. Alan inventou o conceito de algoritmo e, além disso, era filósofo. Durante a Segunda Guerra Mundial ajudou os militares a decifrar os códigos criptografados dos nazistas com a máquina criada por ele chamada Enigma.

"d" minúsculo com muito orgulho (e coerência)…

Sábado, dia 6 de junho, vai ser aberta a 13a edição da dOCUMENTA, talvez a mais importante exposição de arte contemporânea do mundo. O evento acontece a cada 5 anos na cidade alemã de Kassel, a mais ou menos 400 km de Berlin.

A exposição dura exatos 100 dias e movimenta artistas, colecionadores, curadores, críticos e todo o povo que faz e acontece na cena das artes ao redor do globo.

Episódio 7: Reichstag

Fiquei um tempo sem postar vídeos sobre Berlin por dois motivos: até a semana passada só choveu nessa terra, sendo que os dias eram muito curtos; ficava difícil de filmar e fotografar. Agora, que os dias estão mais longos e ensolarados, estou sem meu cinegrafista amador durante a semana (vamos ver se agora a coisa volta a engrenar).

O fato é que achei esse material sobre o Reichstag que foi filmado ainda no ano passado, mas eu ainda não tinha tido editado (vajei para o Brasil logo depois e acabei me esquecendo).

Esse é um dos passeios mais imperdíveis para quem vem a Berlin; vem comigo!

O que o cachorro viu

“What the dog saw”é o mais novo livro do Malcom Gladwell (já falei do moço aqui) e reúne suas melhores colunas no jornal The New Yorker, onde escreve desde 1996.

O livro é dividido em três partes: a primeira fala de pioneiros, obsessivos e outras variedades de gênios menores e é o conjunto de textos que mais gostei. Ele relata histórias de pessoas comuns, porém, bem-sucedidas no que fazem, e tenta entender o que passa pela cabeça delas no processo de tomada de decisão.

Fahrenheit 451

No final da adolescência, nos anos 1980, lembro que fiquei muito impressionada com as obras chamadas distópicas (o termo foi cunhado em oposição a utopia, que quer dizer literalmente não-lugar, ou um mundo idealizado, tão perfeito que não existe). Na distopia, os mundos criados também não existem, mas ao contrário de maravilhosos, eles são versões variadas de infernos totalitaristas.

Pois depois de tanto tempo me caiu nas mãos uma outra obra distópica da mesma época que ainda não tinha lido: Fahrenheit 451 (Ray Bradbury). Já tinha ouvido falar e até conhecia a história, mas acabei deixando pra lá e esquecendo.

Fiquei atraída novamente pelo tema quando vim a Berlin em 2010 só para visitar (nem sonhava em morar aqui ainda) e pude conhecer o memorial do artista judeu Micha Ullman na Bebel Platz. Eu já explico o que uma coisa tem a ver com a outra. É que foi nessa praça, em frente à Universidade Humboldt, que em 10 de março de 1933, os nazistas promoveram uma fogueira enorme para queimar mais de 20 mil livros que contradiziam o regime. Na minha infinita ignorância, achava que esse tipo de coisa só tinha acontecido na idade média, muito apropriadamente denominada Idade das Trevas. E não vou enganar ninguém, fiquei bem chocada ao saber de um ato desses em pleno século XX.

Aula de anatomia. Só que ao contrário.

Olha, não quero estragar o natal de ninguém, mas não consegui esperar passar essa euforia pelo menino Jesus e sua respectiva família para mostrar mais algumas pérolas da arte renascentista que encontrei em alguns museus por aqui.

É claro que não fotografei os quadros mais lindos, pois há livros, sites e blogs que conseguem fazer isso muito melhor do que eu. Mas duvido que eles tenham esse meu olho podre para descobrir obras de arte com fundo trash…rsrsrsr

Então, já que o assunto é a pauta dessa semana em todo lugar, que tal um olhar diferente?

Ele chutou o pau da barraca 95 vezes…

Esse fim de semana teve um passeio da escola para conhecer a cidade de Wittenberg. Na verdade, a cidade se chama Lutherstadt Wittenberg, ou “Wittenberg, cidade de Lutero”.
Apesar de eu não ser nem um pouco ligada em assuntos religiosos, a impotância histórica desse lugar não é pequena não.

Wittenberg tinha um mosteiro onde Lutero estudava e o sujeito ficou muito p* da vida quando viu que a igreja católica aproveitou a invenção da prensa de Gutenberg para vender indulgências (ja falei sobre isso aqui). O negócio fez tanto sucesso que vendia como pão quentinho. Em vez de pecar e depois ter que confessar, fazer penitências e toda essa coisa chata para garantir um lugar no céu, bastava comprar esse papelzinho, que era uma espécie de salvo-conduto. Ou seja, quem era rico podia se esbaldar nas delícias pecaminosas do nosso mundinho recém chegado à era renascentista.

Mefisto adoraria saber

Agora me dei conta de que não contei uma curiosidade interessante sobre Leipzig. É que um dos moradores mais ilustres da cidade foi ninguém menos que o maior nome da literatura alemã, o célebre Johann Wolfgang von Goethe. Goethe morou na cidade entre 1765 e 1768, quando estudava direito.

Pelo visto, o célebre morador (que naquele tempo era um anônimo) passava muito tempo numa taberna subterrânea em uma rua do centro da cidade, tanto que a usou como cenário de seu poema épico mais famoso, Dr. Fausto.

Na verdade, Dr. Fausto é uma antiga lenda alemã muito usada como base alegórica de romances; mas foi Goethe que a tornou conhecida no mundo todo. O tal Dr. Fausto é um professor atormentado em busca do conhecimento; ambicioso, ele se dá conta de que não vai conseguir aprender tudo o que sonha. Eis que surge em cena o diabo, ou, nessa versão, Mefistófeles (Mefisto para os íntimos).

Como Leipzig mudou a história

Nossa, às vezes fico assustada com a minha ignorância sobre história. Ainda bem que o Conrado sabe muito e me explica os lances todos. Lembro que em 1989, quando caiu o muro de Berlin, eu fazia estágio, estava enlouquecida com as provas de eletrônica do último semestre da faculdade e os preparativos da formatura; um perfeito modelo da alienada. Soube que o tal famoso muro tinha caído, mas não ficou nenhum registro além. Agora, pouco a pouco, vou conhecendo os outros capítulos e tendo uma ideia da dimensão do acontecimento.

A gente passou o último final de semana em Leipzig, no coração da Saxônia, e aprendi muita coisa. E me comovi, me emocionei muito, cheguei até a chorar. Visitamos o museu da cidade que conta um pouco da história com fotos, imagens e objetos.

Sobre a Bauhaus

Como hoje é feriado aqui na Alemanha (data da reunificação), aproveitamos o fim de semana para dar uma volta de moto. O destino era Leipzig (breve posts a respeito), mas resolvemos passar em Dessau, que ficava no caminho, para conhecer a primeira escola de design da história, a Bauhaus.

Na verdade, a Staatliches Bauhaus começou em Weimar em 1919 (ainda vou até lá, está na lista). Walter Gropius, o cérebro por trás do negócio, convidou artistas e arquitetos para bolar um jeito de projetar produtos já pensando em como seria a produção em série desses objetos. Tinha gente do naipe de Paul Klee, Wassily Kandinski, Marcel Breuer e Mies van der Rohe, só para citar alguns mais conhecidos. A ideia era que curso permeasse a arquitetura, a arte e o design, sem subdivisões entre essas áreas (Viu gente? No começo era essa coisa linda, todo mundo junto, sem brigas!). O processo criativo acontecia por meio de workshops, com muita experimentação (célula embrionária do design thinking).

O enigma do quatro

Achei um sebo lá em BH que tinha esse livro; já o tinha visto em várias livrarias e fiquei curiosa. Acabei trazendo o tijolão para ler na viagem de volta.

Olha, não é nada sensacional e penso que tem lá umas 100 páginas sobrando, mas o argumento é bem interessante. O desafio é decifrar um livro impresso na época da Bíblia de Gutemberg e descobrir os segredos que ele encerra. Vários já morreram pelo tal volume (que, de fato, existe) e 2 estudantes passam boa parte de seu tempo nesse trabalho meticuloso e desafiador, além de alguns professores que disputam a primazia de decifrar o mistério. Há intriga, sociedades secretas, suspense, assassinatos, traições, ciúmes e todos os elementos frequentes num bom thriller do gênero.