Hoje aconteceu a Parada Gay aqui em Berlin, mais conhecida como Christopher-Street Day. O nome vem de uma rua de New York, onde, em 28 de junho de 1969, num bar chamado Stonewall, houve a primeira manifestação pública contra a homofobia. Com o tempo, vários países da Europa adotaram o final de junho para fazer a festa (o Brasil também).
Nesse ano, mais um motivo chama atenção para o fato: hoje é também o aniversário do nascimento de Alan Turing, precursor da informática e um dos maiores gênios matemáticos que a Inglaterra já produziu. Todo mundo que trabalha com informática já ouviu falar da Máquina de Turing, o protótipo do primeiro computador. Alan inventou o conceito de algoritmo e, além disso, era filósofo. Durante a Segunda Guerra Mundial ajudou os militares a vencer decifrando mensagens nazistas criptografadas.
Pois é, mas nem mesmo tudo de sensacional que ele fez por seu país o livrou de ser preso por um motivo idiota: era homossexual. Ficou doente na prisão, recebeu um “tratamento” com hormônios e acabou se suicidando. E o mundo perdeu um gênio aos 42 anos, no auge de sua produtividade, por pura burrice. O mesmo aconteceu com Oscar Wilde, outra mente brilhante vítima da ignorância.
Sério, por mais que eu me esforce, não consigo entender como é que a vida íntima de uma pessoa pode incomodar tanto outras que não são sequer minimamente impactadas por ela. Que diferença faz se o sujeito só pega no sono com a TV ligada, se adora cebolas cruas ou se prefere pessoas do mesmo sexo para se relacionar? Se você não pretende dormir com ele, nenhuma.
Ainda mais se a gente considerar que a neurociência já descobriu faz tempo que a prediposição para a homossexualidade é biológica e a pessoa já nasce com os genes predipostos a se sentir atraída por pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo, independente de fatores externos (ambiente, cultura, educação, etc). É como ter olhos azuis ou pernas compridas; a pessoa nasce assim e não tem nada de errado nisso.
Então, minha gente, ter preconceito contra homossexuais é igualzinho a ser racista; você está considerando apenas um detalhe genético irrelevante como argumento para prejudicar pessoas. Não é justo. O nazismo usava as mesmas bases, pense nisso.
Estatisticamente, cerca de 10% da população nasce homossexual, não escolhe; por isso, é complicado falar em opção. A única opção que a pessoa tem, no caso, é entre violentar ou não sua natureza; tentar ou não ser feliz.
As desculpas para se perseguir (mesmo que de maneira velada) os homossexuais são tão bizarras que chegam a ser motivo de vergonha alheia. Selecionei algumas colhidas entre conhecidos meus, com nível superior e teoricamente mais esclarecidos. Vai vendo só o naipe das desculpas; a frase invariavelmente começa assim: “Não tenho preconceito contra gays, mas…”
“…não é uma coisa normal“. Gente, mas o que é ser normal? Ser a maioria? Então devemos sair dando pauladas para exterminar todos os ruivos, pois eles são apenas 4% da população mundial; muito menos normais que os gays, portanto.
“…não permito que meus filhos convivam com gays, pois eles podem se influenciar“. Bom, como já se sabe que a predisposição para a homossexualidade é biológica, essa frase tem o mesmo não-sentido que “Não permito que meus filhos convivam com pessoas de canelas finas, pois eles podem se influenciar“. Ridículo, não? Pois homofobia é ridícula mesmo.
“…tenho medo que um gay abuse do meu filho; eles são perigosos“. Bom, segundo uma pesquisa da Universidade de Medicina do Colorado, 82% dos abusadores são heterosexuais e parentes próximos das vítimas (não raro, os próprios pais). Tire suas próprias conclusões.
“…não ando com gays porque tenho medo de levar uma cantada“. Olha, para mim essa é a melhor. Primeiro, a pessoa se acha gostosa a ponto de achar que o(a) gay em questão vai ficar irresistivelmente atraído(a) por ela. Segundo, por que alguém teria medo de levar uma cantada? Será que nunca levou nenhuma? Funciona assim, ó: se estiver a fim encoraje, se não estiver, diga não e pronto. Não doi nada, vai por mim.
Infelizmente ainda tem muita luta pela frente para as pessoas pararem de se incomodar com bobagem e deixar cada um levar a vida como melhor lhe convém, desde que não prejudique os outros; a homossexualidade ainda é considerada crime em mais de 100 países, em pleno século XXI, acredita?
Mas já se esteve mais longe.
Pelo menos aqui em Berlin, os casais gays, homens e mulheres, andam de mãos dadas na rua e ninguém liga. O prefeito da cidade é gay assumido e os partidos não ficam de enrolação fazendo média sem se posicionar; cada um tinha o seu carro oficial na parada com pelo menos um representante.
Coisa linda ver uma festa colorida assim, famílias inteiras com crianças (que não têm preconceitos, isso é coisa de gente grande), shows, música, comida, bebida e, principalmente, muita paz. Talvez demore um pouco ainda, mas tenho fé que o mundo todo ainda vai chegar num nível de civilidade que respeite e valorize as diferenças.
E que não se percam mais Turings, Wildes e outras vidas preciosas em nome da intolerância, da burrice e do preconceito.
Quer ver mais fotos dessa festa coloridíssima? Clique aqui e vá direto no Flickr.
Jacque
Amei o texto Lígia e não conhecia a história do Turing…adorei as fotos, os looks, as cores…que povo lindo!!!! bjks
Hugo Oliveira
Olá Lígia! Não sabia que o Turing era gay, mas isso não importa, pois o seu trabalho é que foi relevante. Como vc mesma citou, não importa o que a pessoa faz em sua vida íntima.
O termo homossexualismo denota doença por conta do sufixo “ismo” o ideal é homossexualidade =)
Abraços
ligiafascioni
Oi, Hugo!
Nossa, eu não sabia que ismo denotava doença… é bom evitar mesmo, vou já corrigir.
Obrigada,
Fabricio
Olá! Parabéns pelo post e pelo blog! Uma curisodade: Que câmera fotográfica você utiliza?
ligiafascioni
Oi, Fabricio!
É um iPhone 4S e Instagram.