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Nós

Sabe aquele livro que você lê devagarinho porque não quer que acabe? Esse é o caso de “Nós: o Atlântico em solitário”, da diva Tamara Klink.


Pensa numa mulher extraordinária e, ao mesmo tempo, super querida! Eu a sigo no Instagram e já vi algumas entrevistas; não tem como não querer ser amiga dela!


Eu já era fã do pai, Amyr Klink, a ponto de ter lido todos os seus livros. Mas quer saber? Essa linda consegue superá-lo. Boa redação deve ser parte dos talentos dessa família. 


O gosto pelo mar e pelas aventuras vêm do berço; Tamara está familiarizada com água salgada e natureza desde criança, encantada com as histórias do pai. Pai, aliás, que não moveu uma palha para ajudá-la, nem mesmo com conselhos; e só no final da viagem ela entendeu porque (e se lembrou dos albatrozes que empurravam seus filhotes do ninho para que aprendessem a voar sozinhos). Ele não estaria com ela no mar nos piores momentos; ela tinha que passar por isso sem ajuda. Por mais improvável que pareça, dá para interpretar o aparente desinteresse como uma forma de respeito, de confiar que ela seria capaz.


Tamara começou a estudar arquitetura no Brasil, mas decidiu continuar o curso na França. De alguma forma, ela conseguiu comprar um pequeno barco velho na Noruega, e, com a ajuda da avó (sua maior apoiadora), batizou-o de Sardinha (segundo a sábia senhora, ninguém dá nada por esse peixinho, mas ele nada imensidões e está sempre acompanhado do cardume).


Em Mil Milhas (que ainda não li), ela descreve a primeira aventura, que foi levar o barco da Noruega até a França. Ela foi reformando o barco com as próprias mãos aos poucos, enquanto tentava conseguir algum tipo de financiamento, sem sucesso. Foram dois anos ouvindo nãos.


Numa das entrevistas que deu, uma moça que estava ouvindo ofereceu ajuda profissional para escrever um projeto para buscar patrocínio — e juntas elas conseguiram dinheiro para fazer a travessia que Tamara narra em “Nós”. Fico feliz em saber que uma das primeiras apoiadoras foi a Luiza Trajano (que conheço aqui na Alemanha por ter capítulos do grupo Mulheres do Brasil que ela lidera). 


Esse trajeto era bem mais ousado, pois o pequeno Sardinha zarparia da França e aportaria no Recife; com isso, Tamara se tornaria a primeira mulher a cruzar o Oceano Atlântico sozinha.


Aqui a moça compartilha conosco seu diário, onde ela conta a rotina, os inúmeros problemas, os medos, as raivas, as saudades da família e do namorado com quem tinha começado um relacionamento há apenas um mês, um Burnout que sofreu quando aportou em Cabo Verde, enfim, Tamara leva a gente junto, como se estivéssemos a bordo. 


Dá para sentir o vento, o cheiro da água salgada que gruda na pele, as mãos calejadas de puxar cordas, a tempestades assustadoras, o sono, a exaustão, o desespero e a vontade de desistir de tudo.


Algumas partes do relato são muito assustadoras e marquei uma frase, que ela diz logo no começo, quando as pessoas perguntam se ela não tem medo do perigo, e ela responde: “Eu tenho medo o tempo todo (..) Se cheguei inteira, não foi por ter coragem, mas por nunca ter deixado de ter medo”. E me lembrei que meu corpo sempre tremia quando eu subia numa moto, o que não me impediu de rodar mais de 40 mil km e de ter cruzado pilotando a Cordilheira dos Andes muitas vezes. É claro que o risco nem se compara, mas eu consigo entender bem o que ela diz.


Tamara ainda compartilha conversas que manteve com um amigo que forneceu a ela as condições meteorológicas durante toda a viagem, e que foi seu maior apoio durante todos os momentos de crise, mesmo conversando só em textos curtos e de maneira assíncrona.


Assim também dá para ver o absurdo das pessoas que nunca pisaram num barco dando palpites sobre o que ela devia ou não fazer; sobre a “facilidade”para ela nessa missão, sendo filha de quem era; sobre as manchetes que sequer citavam o nome dela, apresentando-a apenas como “a filha do Amyr Klink”. Enfim, a podridão da internet tem que pegar alguém com uma cabeça muito boa para não causar estragos (por sorte ela conseguiu rir disso junto com o amigo).


Olha, eu acabei o livro chorando muito, emocionada e comovida com essa força, essa potência de uma mulher de apenas 24 anos, que não esconde suas vulnerabilidades, o que só a fazem mais forte. Tamara, toda a minha admiração e obrigada por existir. Que privilégio estar nesse planeta ao mesmo tempo que você.

Taí um livro para se inspirar e ter esperança no mundo. Ela é demais! Se quiser comprar o seu, por favor, use esse link da Amazon do Brasil.


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1 comentário

  1. […] Resenha do livro “Nós: o Atlântico em solitário“, de Tamara Klink. O texto escrito está nesse link. […]

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