O livro do Clube do Livro de Münster do mês que vem é “A Paixão Segundo G.H.”, da celebradíssima Clarice Lispector.
Lembro vagamente de ter lido Clarice na adolescência (“A hora da Estrela”); lembrava da história, mas não do estilo. Dito isso, estava muito empolgada em ler esse ícone da literatura brasileira.
Olha, com tristeza e até um pouco de vergonha venho aqui dizer que nós duas não conseguimos nos entender muito bem. Meu cérebro acostumado com narrativas mais simples e lógicas não conseguiu acompanhar a genialidade dela. Sim, eu reconheço que a mulher não é fraca, que domina as palavras e a escrita como ninguém, que é inteligentíssima e tudo mais. Mas não via a hora de acabar o livro (que não tinha nem 200 páginas).
Mas vamos do começo.
G.H. é uma mulher rica, independente, solteira e sem filhos, que mora sozinha numa cobertura no Rio de Janeiro. Lá pelo meio da narrativa, dá a entender que já foi muito pobre, mas está agora mergulhada num cotidiano de madame que parece não fazer sentido nem mesmo para ela. Existe apenas para ir a festas e conversar com pessoas que nem parece achar tão interessantes assim.
A vida interior é de um vazio infinito; autocentrada, ela não consegue ver nada além do próprio umbigo. G.H. tem um desinteresse profundo e genuíno pelo mundo, pelas pessoas, pelos animais, pelas plantas; nada parece despertar sua atenção. Ela é puro suco de tédio.
No começo, achei bem criativa a metáfora que ela usa para dizer que perdeu alguma coisa importante, mas que não lhe faz falta. Como se ela tivesse perdido um terceiro pé que a impedia de andar, mas garantia sua estabilidade. Agora, sem esse pé adicional, ela pode andar; mas está assustada. Achei genial e serve para muitas situações.
Porém, ela continua dando voltas e não sai do lugar (onde o lugar é, no caso, sua própria mente).
Lá pelas tantas ela se levanta da mesa do café da manhã e vai até o quarto da empregada, com a intenção de arrumá-lo para a próxima funcionária, por falta de coisa melhor para fazer.
Quando abre a porta, surpreende-se com a limpeza (ela nunca prestou atenção da antiga servente, mal se lembra de seu nome, Janair); não há nada lá a ser arrumado.
O quarto é ensolarado e só existe uma cama de solteiro com o colchão puído e manchado e um guarda-roupa velho e deformado pela umidade. Lá dentro, uma barata, que GH prensa na porta num ato de desespero e rebeldia.
E é essa a história. Um livro inteiro que conta a história de uma mulher que esmaga uma barata no guarda-roupa no quarto da empregada. Até o final sabemos apenas que ela se submeteu a um aborto; mas isso descrito muito vagamente, no meio de seus pensamentos aleatórios, de maneira que não se sabe exatamente como e porque isso aconteceu.
E é isso e mais nada. Não há outros personagens, situações, eventos, nada. Apenas o vazio enorme que preenche essa mulher.
A narrativa, se é que podemos chamar assim, é composta de uma metáfora sendo emendada à outra, até a exaustão. É como se ela escrevesse em código, o que achei cansativo demais. As frases parecem (e devem ser) profundas, mas realmente não consegui alcançar.
Ela é tão elogiada, tão maravilhosa, tão deificada. Mas para mim não deu match. Lamento mesmo.
Clarice, tenho certeza de que você deve ter sido uma mulher extraordinária e talvez esse romance (pode-se chamar assim?) não seja para principiantes como eu.
Se quiser se arriscar por sua própria conta e risco, tem aqui para vender.
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