Achei “Five Minds”, de Guy Morpuss, numa livraria de Berlim especializada em ficção científica (Otherland Bookstore), na prateleira de livros usados em inglês. Gente, mas que achado!
Na verdade, não só fiquei atraída pelo título, mas também pelo resumo da história na quarta capa. Falava sobre 5 pessoas compartilhando um corpo e que talvez uma delas esteja planejando assassinar as outras quatro (ou talvez seja alguém de fora; quem sabe?).
Estranhíssimo, né?
Então vamos contar a história direito: estamos num futuro indeterminado, onde a maior parte das doenças já foi erradicada e temos inteligência artificial para resolver os problemas. A questão é que o povo, além de ter filhos, não morre nunca (ou demora bastante). O resultado é que a população do planeta explodiu e os recursos estão acabando (essa conversa é bem familiar, né?).
Pois habitantes da Terra finalmente conseguiram achar uma solução para a superpopulação. O jeito mais óbvio é que as pessoas se reproduzissem menos, mas, por algum motivo, essa opção era muito impopular e não rolou.
O jeito, então, foi usar a criatividade e apresentar várias alternativas.
Ficou assim o negócio: quando a pessoa completasse 17 anos, tinha que escolher uma das opções que o governo oferecia. Você poderia se tornar um(a):
- Hedonista: nesse caso, não precisa trabalhar e nem assumir nenhuma responsabilidade — o governo banca tudo. Você só tem que curtir. Dentro de alguns limites, claro. O preço? Você só vai viver até os 42 anos. Depois disso não tem mais como.
- Andróide: você vai poder viver até os 80 anos de idade, mas vai ter que trocar seu corpo físico por um robô (bem parecido com um humano, mas ainda assim, uma máquina). Robôs podem viver mais porque consomem pouquíssima energia, não precisam comer e nem beber, não ficam doentes e nem geram resíduos.
- Trabalhador: é a vida que a gente conhece hoje — a pessoa precisa estudar (o governo paga) e trabalhar para se manter. Pode escolher o que quiser e não precisa fazer a parte mais chata, pois há andróides simples, chamados de dandis, não habitados por mentes humanas, que fazem trabalhos menos interessantes. A parte legal é que não tem limite de tempo para viver.
- Comunas: são comunidades de pessoas que compartilham um corpo físico humano. Você vai viver em ciclos de 4 horas. São 5 pessoas (dá um total de 20 horas e ainda sobram 4 para o corpo se recuperar). A vantagem? Vocês podem viver até os 142 anos fazendo o que bem entender — mas não precisa necessariamente trabalhar! E não é só isso: cada 25 anos vocês trocam de corpo por um novinho em folha e talvez até com algumas melhorias.
Depois que você faz a escolha, não tem mais como voltar atrás em nenhum dos casos.
Pois a história se passa quando 5 pessoas desconhecidas, Alex, Kate, Mike, Sierra e Ben se encontram aos 17 anos para compartilhar um corpo (o grupo é selecionado pelo governo para equilibrar as personalidades).
Alex é obeso, tímido e muito inseguro, pois passou toda a vida sofrendo bullying na escola.
Kate é inteligente, mas quase não conviveu com os pais porque eles trabalhavam muito. Como ela não quer ser como os pais, 42 anos de vida é muito pouco e ela odeia andróides, só sobrou a comuna mesmo.
Mike é obcecado por atividade física e saúde; um esportista na sua essência que só pensa nisso o tempo inteiro.
Ben vive para jogar videogames; magrinho, inteligente e um pouco anti-social, não gosta muito de falar.
Sierra já deixa claro na primeira reunião: ela escolheu uma comuna porque não quer ter que cuidar de um corpo ou arcar com as responsabilidades dos seus atos (ela adora sexo, drogas e muita bebida), pois mesmo um hedonista teria que ter alguns hábitos saudáveis para chegar aos 42 anos.
Bom, nesse ponto, não foi difícil escolher o corpo de Mike para todo mundo morar. Os outros corpos são “vendidos” para outras comunas (a moeda corrente é sempre tempo). Eles podem usar esse “dinheiro” para fazer alguns upgrades no corpo de Mike. Por exemplo, alguns deles passarão os próximos 25 anos só vivendo durante a noite, já que os ciclos são fixos. Então eles aprimoram a visão noturna. Já que a Sierra bebe muito, eles incluem uma melhoria que metaboliza álcool mais rápido (mesmo assim, Alex, que acorda depois da moça, sempre tem um fundo de ressaca).
Eis que o quinteto tem vários problemas de “convivência” nos primeiros 25 anos; sempre por causa de Sierra, que se revela uma sociopata que não consegue sentir empatia por ninguém. Irresponsável, ela ultrapassa todos os limites e não tem o menor respeito pelos colegas. Ela até pode ser expulsa (o governo pode fazer o download definitivo da mente dela e “apagá-la”), mas a maioria do grupo tem que concordar. É uma decisão muito difícil matar uma pessoa, então ela recebe algumas punições, mas continua na ativa.
Bom, a história começa a ferver quando eles vão para o Parque da Morte, que é o único lugar onde se pode obter mais tempo de vida (para viver mais ou “comprar” coisas).
O parque é um complexo de games onde as pessoas que estão no final da vida vão para ver se conseguem mais um pouquinho de tempo. O risco não é pouco e funciona assim: são 47 arenas e mais de 150 games de tudo quanto é gênero: história, fantasia, futurismo, esportes, etc
Todas as pessoas que se inscrevem colocam o seu tempo restante de vida em uma espécie de “depósito”. Quem perder morre; mas quem ganhar, fica com o tempo de todos os outros juntos.
Para quem está nos finalmente e tem confiança no seu taco, pode ser um bom negócio.
A maioria da comuna hospedada no corpo de Mike resolve (sob o protesto de Alex e Kate) ir para o parque ver se reúne mais uns anos para pegar um corpo melhor e mais equipado, já que já faz 25 anos que estão juntos e estão a semanas do momento da troca. No caso de uma comuna, eles só têm a perder as poucas semanas restantes (mais o crédito que sobrou das vendas dos outros corpos) para zerar tudo e recomeçar num próximo corpo. Então eles não correm o risco de morrer, mesmo que percam os jogos.
Mike é um atleta muito bem preparado e a ideia é que ele só se inscreva em games com uma probabilidade muito alta de ganhar. Outros tipos de jogos podem ser jogados de acordo com o talento de cada um: Kate é boa para decifrar quebra-cabeças, Alex e Ben são ótimos em jogos eletrônicos.
A questão é que logo no segundo dia, uma andróide sinistra entra em contato com Kate e pede para entrar na comuna por um tempo limitado (tem um slot de 4 horas sobrando que é deixado como reserva); em pagamento, ela oferece 20 anos (que é uma verdadeira fortuna). Kate, que administra o grupo, é seduzida e acaba entregando as senhas para essa estranha em troca do tempo. E aí coisas muito bizarras começam a acontecer.
Mike perde um jogo (que era quase impossível de perder) e simplesmente desaparece. Mas, pelas regras das comunas, não tem como só um participante morrer, ainda mais num game e num parque administrado pelo governo. Outras coisas esquisitíssimas vão acontecendo e a desconfiança é que essa androide esteja envolvida num esquema para matar os participantes da comuna.
Mas quem contratou o serviço? Alex? Kate? Ben? Sierra? O próprio Mike? Ou seria alguém de fora?
Bom, a história é contada de maneira não linear e a gente só vai entendendo aos poucos (vantagem para você, que está lendo a resenha) e é cheia de reviravoltas e momentos emocionantes. Quase consigo ver o ótimo filme que pode sair daí…
A única questão é que fui pesquisar e só tem a versão em inglês (foi publicado em 2021; então pode ser apenas uma questão de tempo a tradução para o português). Se você consegue ler no original, o link para comprar na Amazon do Brasil é esse aqui.
Adriana Kury
Caramba, que roteiro de filme daria sim!!!! Vc foi falando e eu aqui já visualizava o filme rsrsrs muito bom