Eu já tinha ouvido falar nessa autora mas não tinha me atentado muito a respeito. Até que estive no Brasil, no mês passado e, visitando uma livraria, minha queridíssima e amada irmã me deu “Pequena Coreografia do Adeus”, de Aline Bei. Ela disse que eu ia amar, e como minha irmã Andréa Ferraz me conhece bem!
Estou aqui meio que sem palavras para falar sobre a experiência maravilhosa que foram essas horas mergulhada na vida da Júlia, a protagonista.
Primeiro é preciso dizer que a Aline tem um jeito todo especial de contar histórias. Quando abri o livro e folheei rapidamente, perguntei à minha irmã se era poesia (não tenho muito o hábito de ler esse estilo). Ela disse que não, que eu iria me surpreender. Dito e feito.
Aline usa a tipografia e a diagramação como recursos da narrativa. É como poesia misturada com prosa; olha, não sei direito como explicar. A coisa mais parecida que vi (mesmo assim bem diferente), foi com o Jonathan Safran Foer (“Tudo é iluminado” e “Extremamente alto e incrivelmente perto”), que usa a tipografia (kerning, espaçamentos, indentação, etc) e imagens abstratas para transmitir os sentimentos do personagem.
A Aline é mais comedida, usa apenas o espaçamento e o tamanho das letras de um jeito bem sutil para comunicar emoções; e a escrita dela é pura poesia. É forte e suave ao mesmo tempo. Eu realmente não sei como explicar, só lendo mesmo.
A história começa com Julia contando sobre a sua infância difícil; filha única de um casal que não estava preparado para a chegada dela. A mãe, uma pessoa amarga, difícil, insegura e, por vezes, cruel, casou-se com um homem inseguro e imaturo.
Ela sofre com os ataques, surras e frustrações da mãe, sempre autocentrada e muito focada em destruir a autoestima da menina. O pai é ausente; nas vezes em que se encontram, parece não saber direito como lidar com ela. Com o tempo, acabam encontrando assuntos para conversar nos jantares periódicos, sempre no mesmo restaurante.
Júlia acaba limitando seus sonhos (gostaria de estudar filosofia e ser escritora) por causa da mãe. Num ato de coragem, sai de casa e vai morar numa pensão, enquanto se sustenta trabalhando o dia todo em um café.
Júlia fica amiga da dona da pensão (o casarão que abrigava um bordel foi reformado por ela), uma viúva que cumpre algumas das infinitas lacunas que a mãe deixou.
A protagonista escreve um diário; no começo apenas descrevendo seu cotidiano. Depois, narrando uma história fictícia de um menino abusado pelo tio.
Tem muita dor e sofrimento, como quando ela descreve o prazer e a leveza que sente nas aulas de balé, e o sentimento destruído pela professora, que a exclui da aula dizendo que ela tem pedras nos pés.
A história é linda demais e a Júlia vê poesia em tudo. A pequena coreografia do adeus é como ela descreve a dança que as roupas fazem dentro da máquina de lavar roupa; ora se enlaçando num abraço, ora se soltando, elegantes.
Faça um favor para você mesmo(a) e coloque Aline Bei na sua vida. Vai ficar tudo mais lindo, eu garanto.
Obrigada demais por isso, minha irmã.
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