A tal da média

Essa é uma daquelas obras que fazem a gente rachar a cabeça e questionar das coisas que achamos naturais, mas não são de maneira alguma. Como engenheira, o que senti foi como se alguém tivesse tirado o chão sob meus pés. Mas confesso, adorei a sensação!

The End of Average: How to Succeed in a World that Values Sameness”, de Todd Rose, é separado em três partes: a era da média, os princípios da individualidade e a era do indivíduo.

A ERA DA MÉDIA

Média é uma coisa não natural para nós que parece que estar acima/abaixo/dentro da média são conceitos que sempre existiram, não é? Pois nem sempre foi assim. Continue reading “A tal da média”

A carapuça

Um livro triste, que faz pensar muito.

Die Tarnkappe” (Tradução livre: “A carapuça”), de Markus Orths é daquelas obras que faz a gente refletir sobre a condição humana, suas limitações, dores e tristezas.

Tudo começa quando Simon, um funcionário de uma empresa de reclamações (imagina que fardo a pessoa viver de responder reclamações), extremamente metódico, vê um mendigo pedindo esmolas no seu ponto de tram (a história se passa em alguma cidade alemã). Num relance, apesar do chapéu e da bala-clava em pleno verão, ele reconhece Gregor, seu amigo de infância de adolescência, com o qual compartilha uma terrível história com mais outro colega, na cidade onde todos moravam. Continue reading “A carapuça”

As luzes do túnel

Uma das coisas mais legais para um engenheiro que mora em Berlim é que aqui o povo é fascinado por obras. Por causa disso, quase toda obra de porte na cidade tem um dia para visitas de curiosos. Hoje foi o dia de visitar um túnel de 654 metros de comprimento com um diâmetro de 4,4 metros que está sendo construído pela empresa de águas e saneamento de Berlim, a Berliner Wasserbetrieb, no Mauerpark.

O túnel, na verdade é um reservatório temporário de água da chuva. É que toda a água de esgoto e da chuva passa pelos mesmos canos para ser tratada. Porém, quando chove muito, as estações de tratamento de efluentes ficam super atribuladas; para minimizar o efeito do volume anormal, construiu-se esse túnel que é uma espécie de buffer. Ele armazena a água da chuva até que o tempo fique estável novamente e se regularize o fluxo de efluentes.

Como o dia de visita às obras é bem especial (tem que fazer reserva antecipada e toda a empresa se organiza para recepcionar os visitantes com capacetes, coletes de segurança e até audio guide), eles até iluminaram o túnel com cores. O resultado ficou espetacular. Dá uma olhada nas fotos!

NOTA: Quem souber alemão e quiser saber mais detalhes, é só visitar esse link aqui. Continue reading “As luzes do túnel”

Top 10 outubro: Ah, esse outono…

Fui conhecer outono aos 45 anos de idade e até hoje não me conformo como pude viver tanto tempo sem saber que aquelas fotos nos calendários não eram exagero. Para mim, é a estação mais linda do ano, onde tudo fica dourado. E para você?

Bom, vamos ao que interessa e ver as dez fotos mais curtidas nas minhas redes sociais nesse mês. Escolha a sua preferida e conte para a gente aí nos comentários.

#paracegover Descrição para deficientes visuais: a imagem mostra um casal sentado no mar de folhas vermelhas e pink sob uma árvore intensamente ruiva. A moça usa uma boina vermelha. — at Reichstag dome.
1. Impossível não se encantar com essas cores! #paracegover Descrição para deficientes visuais: a imagem mostra um casal sentado no mar de folhas vermelhas e pink sob uma árvore intensamente ruiva. A moça usa uma boina vermelha. — at Reichstag dome.

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Existe um álibi perfeito?

Eu e os romances japoneses, um verdadeiro caso de amor. Tomara que ainda tenha oportunidade de visitar esse país que tanto me intriga e me encanta.

Verdächtige Geliebte (Tradução livre: “Amante Suspeito”), de Keigo Hihashino, foi achado num mercado de pulgas. Com uma belíssima capa minimalista, conquistou-me também pelo resumo na quarta capa.

Yasuko é balconista de uma lanchonete que vende refeições prontas para viagem; ela já trabalhou num clube e está fugindo de um ex-marido abusador. Certo dia o tal sujeito descobre seu endereço e resolve ir até lá para chantageá-la, como de costume. Como aparentemente no Japão a polícia também não dá a menor bola para denúncias de mulheres ameaçadas, ela fica apavorada e eles acabam discutindo. Na briga, ela e a filha de 13 anos acabam matando o sujeito, com a ajuda de um taco de beisebol e o fio do aquecedor da mesa (aprendi que essa mesinha baixa se chama Kotatsu). Apavoradas, recebem uma oferta de ajuda do vizinho, um professor de matemática que é cliente da loja e admirador secreto da moça.

O enredo trata da genialidade do tal professor de matemática, que consegue construir uma história engenhosa para livrar a cara de Yasuko e prover-lhe um álibi incontestável, e seu colega de faculdade, um professor de física, que colabora com as investigações do comissário de polícia.

A história é super bem construída e com algumas surpresas, mas para mim ficou apenas uma pequena parte mal explicada. Quem quiser ler o livro (recomendo muito) e discutir depois, estou às ordens!

 

Transformar a percepção faz toda diferença

Deviate: the creative power of transforming your perception*, do neurocientista Beau Lotto, é uma grata surpresa.

A premissa do livro é relativamente simples: se você conseguir entender como seu cérebro funciona, pode alterar sua percepção do mundo, ou seja, a maneira como você vê e interpreta as coisas. Isso afeta tudo, inclusive a forma como você cria novas ideias.

O autor realmente se esforçou para usar recursos gráficos e tipográficos para tornar a forma como parte relevante do conteúdo num livro totalmente preto/branco. O resultado ficou muito interessante; não diria surpreendente porque já conhecia a maioria dos exemplos e técnicas utilizadas. 

Beau Lotto, professor de neurociência em universidades de Londres e New York, é fundador de um laboratório de pesquisa chamado Misfit (desajuste, não-conformismo) e parece ser um cérebro eternamente curioso e questionador. Dá muita vontade de conhecer o moço pessoalmente.

Lotto explica que nosso cérebro foi concebido para resolver incertezas com a maior rapidez possível, por uma questão de sobrevivência. E que essa massa cinzenta, como já sabemos, não tem acesso direto ao mundo exterior. Ela só consegue receber sinais elétricos que os sensores (nossos sentidos) mandam. Para o cérebro, aquela paisagem linda que você vê são apenas sinais elétricos que ele interpreta conforme as informações de referência que ele já carrega em sua “biblioteca” (que também podemos chamar de repertório).

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Por favor, não acredite em mim!

Estava aqui pensando: por que tantas pessoas de boa fé frequentemente disseminam notícias falsas, mesmo depois de tantos avisos? Ontem falei isso para a minha mãe e ela respondeu que não confere a notícia, como ensinei, porque acredita na pessoa que enviou.

 

Entendo. Se a minha geração foi criada e educada para acreditar, imagina a dela?

 

Quando era pequena, credulidade era uma virtude, um elogio. Criança obediente, que não discute e não contesta, era o sonho de consumo de todos os pais. As pessoas crentes e ingênuas eram as boas; as desconfiadas eram as más. Se a pessoa não acreditava é porque tinha malícia, maldade; pensava sempre o pior. E essa construção, que contradiz inclusive a evolução da espécie (a luta pela sobrevivência pede desconfiança), não veio de graça. Para os governantes, gente obediente é o paraíso.

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Utopia para realistas

Coisa mais linda quando um livro vem para destruir nossas crenças e desafiar o senso comum. Pois se você concorda, não deixe de ler “Utopia for realists and how we can get there“, do Rutger Bregman.

O autor começa com uma visão bem otimista do mundo; diz que em 99% da história, 99% da humanidade era pobre, faminta, suja, medrosa, estúpida, doente e feia. Mas isso mudou radicalmente nos últimos 200 anos. Em apenas numa fração ridícula de tempo, bilhões de pessoas tornaram-se ricas, bem nutridas, limpas, seguras, espertas, saudáveis e, ocasionalmente, bonitas. Em 1820 cerca de 84% da população do planeta vivia em extrema pobreza. Esse número foi reduzido para 10% nos dias atuais. É claro que ainda é muita gente, mas que mudança! A se continuar nesse ritmo, é possível erradicar totalmente a extrema pobreza em breve.

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A revolução 4.0 e o tesarac: é para se preocupar?

A próxima temporada de palestras no Brasil vou falar quase somente sobre a revolução 4.0. Os clientes corporativos parecem estar muito preocupados com isso; penso que estão cobertos de razão.

Ok, mas de onde veio esse termo? E o que são, afinal, as revoluções 1.0, 2.0 e 3.0? Em que a 4.0 é diferente e por que assusta tanto?

Vamos por partes.

A primeira revolução industrial (1.0) aconteceu no final do século XVIII, quando surgiram, na Inglaterra, as primeiras máquinas a vapor e as locomotivas. O impacto foi enorme, já que, naquela época, a esmagadora maioria da população vivia nas áreas rurais e se mudou para as cidades. Tanto a produção industrial transformou a vida das pessoas (principalmente na área têxtil, onde antes tudo era produzido artesanalmente) como no transporte e distribuição de matérias primas e produtos.

A maneira como a sociedade se organiza até hoje tem muito a ver com essa mudança radical na economia, no conceito de trabalho e na maneira como se utiliza o tempo. No início, as jornadas chegavam a 16 horas diárias e não havia limite mínimo de idade. Aos poucos, com as lutas e reinvindicações, os horários e os vencimentos mínimos foram se ajustando até chegarem ao que são hoje.

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