Se tem um escritor brasileiro que admiro e gosto demais é o talentosíssimo Marçal Aquino. Pena que quando li o ótimos “Cabeça a prêmio” e “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” ainda não tinha o saudável hábito de escrever resenhas, de maneira que teria que lê-los novamente para fazer os respectivos episódios (quem sabe, né)?
Pois, pesquisando um pouco, descobri que já conhecia o moço há muito mais tempo do que imaginava. É dele o antológico “Os meninos da rua Quinze”, da coleção Vagalume, que marcou minha adolescência. Ele também escreveu o roteiro do filme “O cheiro do ralo”, com o imperdível Selton Melo.
Eis que minha irmã vinha do Brasil para passar duas semanas de férias do lado de cá do oceano e aproveitei para encomendar “O invasor”. Uma novela (maior que um conto, menor que um romance), ideal para ler numa viagem. Se você está procurando um livro breve, com pouco mais de 100 páginas, mas muito intenso, esse é o cara.
A curiosidade é que, quando começou a escrever o livro, Marçal foi convencido a transformar a história num roteiro para cinema. O filme, estrelado por ninguém menos que o titã Paulo Miklos, foi lançado cinco anos depois, em 2003, junto com o livro.
A história começa com dois sócios de uma construtora se encontrando com um matador de aluguel para encomendar o assassinato do terceiro sócio, que está emperrando os negócios. Eles querem se meter numa negociata e o Estevão, majoritário e capitalista, se recusa.
Os três se conheceram na faculdade de engenharia, e eram amigos. Formados, resolveram montar a empresa com o capital da família de Estevão, que era rico. Os outros dois, Ivan e Alaor, entraram com o trabalho. Mas após alguns anos, o olho cresceu e eles queriam mais.
A história é narrada por Ivan, um dos sócios assassinos, que é, na sua essência, um covarde. E Marçal é mestre no exercício da empatia, onde a gente se coloca no lugar desse cara escroto e consegue ver o mundo sob as lentes turvas dele. Rico, cheio de privilégios e sem nenhum escrúpulo, não dá para sentir pena de ver o sujeito se afundando lentamente na lama.
Alaor é mais desenrolado e cheio de ligações no submundo das negociatas; ironicamente, não foi ele quem conseguiu o contrato cheio de cartas marcadas que colocaram em xeque a sociedade, mas o “bom moço” Ivan, essencialmente discreto e, nos negócios, até então, sempre correto (o típico “homem de bem”, conhece?).
A história se passa em São Paulo, e a gente quase sente o cheiro da poluição e do desespero das pessoas trabalhando sem parar; cada um tentando se virar como pode num mundo de malandros.
Anísio é o matador profissional e o invasor do título do livro. Contratado para fazer o “serviço”, ele entrega mais do que o combinado e acaba se infiltrando na empresa, na família e nos negócios de um jeito que os dois sócios remanescentes não conseguem mais controlar.
A vida do Ivan vai ficando cada vez mais complicada, até que ele se apaixona por uma moça que pode salvá-lo de toda a podridão. É claro que ele não tem coragem de contar tudo para ela, mas, de alguma maneira, faz planos para encerrar seu casamento fracassado e começar uma vida nova com Paula, estudante de ciências da computação.
Será que vai dar certo? Será que ela vai descobrir tudo? Qual será a reação da moça caso isso aconteça? Como será o futuro dos dois?
E mais não posso falar, para não dar spoiler. Só posso dizer: compre esse livro e leia.
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