Olha só que ideia mais bacana para diminuir o consumismo e fazer com que as nossas escolhas sejam mais conscientes e divertidas; o pessoal do descolado bairro de Prenzlauerberg, em Berlim, bolou uma maneira de mudar o mundo e parece que está dando certo.
Trata-se de uma associação de pessoas dispostas a fazer diferença; elas alugaram um apartamento no térreo de um prédio e montaram a Leila Berlin.
O nome é um trocadilho com leihen (emprestar) + Laden (loja) e o local é todo tocado por voluntários, que passam algumas tardes lá batendo papo e recebendo as “visitas”.
Funciona assim: a primeira sala, cheia de objetos e roupas, é para doação, ou seja, qualquer pessoa entra lá e pega o que quiser. Se tiver algo em casa que não usa mais, pode deixar de presente também. É bacana porque cada um escolhe o que quer levar e isso significa que o objeto vai ser realmente usado. O mais legal é que isso não é para os “pobrezinhos, coitados, que não têm dinheiro para comprar coisas“. Não comprar é uma opção de gente inteligente; como aqui a diferença entre as classes sociais quase não existe (ou é muito sutil), são pessoas como eu ou você que simplesmente escolhem algo bacana quando estão passando pela frente do lugar e levam para casa.
Essa organização nasceu porque as pessoas costumam deixar o que não querem mais em caixas na calçada escritas com a palavra “Geschenk“, que quer dizer “presente”. Eu mesma tenho uma bota maravilhosa que achei na rua; vi a linda, gostei e era o meu número, olha que sorte. Saí feliz da vida! Só que quando chove ou neva, as coisas acabam se estragando (principalmente roupas e livros). O que a Leila Berlin faz é oferecer um lugar para essas coisas de maneira que elas continuem disponíveis, porém, protegidas.
Isso é uma das coisas que mais gosto nessa cidade; as ações de não-consumo não são uma resposta à falta de dinheiro, mas à falta de conscientização.
Há outros dois quartos onde os associados podem alugar objetos diversos como patins, brinquedos infantis, guarda-sóis, bicicletas, ferramentas diversas, cafeteiras, eletrodomésticos variados, instrumentos musicais, malas, enfim, coisas que você geralmente compra para usar poucas vezes ou em ocasiões específicas. A pessoa paga um pfand (tipo uma taxa de garantia) e recebe o valor de volta quando devolver o objeto, tudo com zero burocracia. Quando estive lá, uma mãe estava levando seu filho pequeno para escolher brinquedos para alugar. A criança já aprende desde pequena a compartilhar as coisas e dar valor à atividade, não ao objeto em si.
Isso é uma revolução de verdade para alguém que, como eu, vem de um lugar onde pessoas vão a Miami comprar roupas de grife para bebês vestirem…
O mundo tem jeito sim, ainda mais se a gente conseguir que essas ideias se espalhem 🙂
Obrigada pela ótima dica, Rodrigo Sabatini!
Ênio Padilha
Minha primeira reação ao ler o artigo foi pensar: que bacana! poderia ter algo assim, em muitas cidades do Brasil. Por que não tem?
Aí a resposta me veio meio que automaticamente: (1) porque o governo iria exigir mil e um documentos e registros para que a casa funcionasse; (2) porque o Ministério do Trabalho e os sindicatos iriam questionar o trabalho voluntário; (3) porque o local seria assaltado e vandalizado com frequência assustadora; (4) porque muita gente iria pegar as coisas disponíveis e pouca gente iria alimentar a “loja”; (5) porque algum partido de esquerda iria encontrar um jeito de aparelhar as lojas e fazer proselitismo político; (6) porque logo isso seria estigmatizado como “coisa de pobre” e viraria piada nas redes sociais…
Enfim… Que triste, né?
ligiafascioni
Nossa, penso que a situação atual do país (que não está fácil, concordo) acabou contaminando sua visão, amigo. Concordo que não seria tão simples (e, a meu ver, a maior dificuldade seria cultural em achar que o negócio é “coisa de pobre”), mas tem muitos projetos bacanas pelo país inteiro que estão dando muito certo. Tem um site chamado “Razões para acreditar” que recomendo muito nessas horas. Dá uma olhada: https://razoesparaacreditar.com
Abraços apertados e esperançosos 🙂
Clotilde♥Fascioni
O Ênio Padilha disse tudo, nada mais a acrescentar. Infelizmente esta é uma idéia que ainda não estamos preparados para copiar….
ligiafascioni
Clô, olha a resposta que dei para o Ênio. Recomendo para você também <3 <3
Eduardo
Boa tarde, isso chama-se Consumo Colaborativo ou Economia Colaborativa. Muitas vezes achamos que as coisas só acontecem fora de casa e nunca seria possível acontecer no Brasil. Mas a realidade é que elas já estão acontecendo no Brasil, e o que o povo precisa fazer é parar de reclamar e achar que não aqui não da. Basta visitar http://www.consumocolaborativo.cc e ver do que nós brasileiros somos capazes.
Ligia Fascioni
Oi, Eduardo!
Muitíssimo obrigada pela contribuição! Você tem toda razão; como eu disse antes, há projetos sensacionais no Brasil inteiro que merecem ser prestigiados e apoiados. Vou lá na página conhecer. Abraços e sucesso!
Patricia Luck
Adorei a ideia e concordo q o maior problema para nós é cultural. Infelizmente aqui no Brasil emprestar objetos é coisa de pobre mesmo (vide os olhares q recebo quando peço ou ofereço algo). Mas os comentários anteriores são típicos de quem só espera do governo ações q poderiam ajudar a sociedade em geral. Eu estimulo a troca de livros e brinquedos entre vizinhos e colegas de escola dos meus filhos. Temos um grupo de amigos q emprestam coisas entre si (desde panela de paella e furadeira até escada). Não precisa ser algo institucionalizado para funcionar. Deve partir da gente.
Isabel silveira
Ligia, olá !!
Bom, não tenho vergonha de admitir: estou maratonando este espaço incrível há quase uma semana. Puro encantamento e se me permite, é como estar em casa: um lar de ideias, ações, cores e imagens que me trazem um sentido de segurança e quando o assunto é mais exigente, não tenho medo por estar sozinha em meio as suas palavras. …Lá em casa é assim, tem horas que todo mundo se manda e sei que estou muito bem. As coisas que você escreve, o ponto de vista que confere a elas, a forma elegante e ao mesmo tempo acessível de sua escrita revela uma mente ordenada e um grande coração. Tenho refletido sobre tantas coisas que li, chego em casa e quero compartilhar tudo com meu marido, ligo logo para minha melhor amiga e ela vem te visitar, fazendo suas próprias descobertas, enriqueço o grupo de zap só de meninas : irmãs, amigas e um certo dinossauro penetra , o único menino admitido entre nós!! e compartilho vários posts . Você é como essa loja, mas é Ligia Berlin, a gente entra aqui, alimenta a alma sem pagar nada, sem nenhum custo… leva para casa um monte de esperanças, alegrias e a certeza de que tem sempre uma rua, alameda, avenida nova e vibrante e bem dentro da gente para caminhar e que possíveis poças d’agua no percurso não devem ser desprezadas!!
Ligia Fascioni
Gente, que coisa mais linda de se ler…. meu coração ficou tão quentinho! Muito obrigada pela generosidade desse Feedback. Eu já ficaria feliz com um coraçãozinho (hoje em dia está todo mundo na correria). Mas um texto belíssimo assim me faz até ficar comovida! Um abraço bem apertado em você e nessa gente linda que é a sua turma! Beijos e obrigada demais!!!