A viagem para Belo Horizonte, além de experiências muito bacanas e um mural lindão (vou postar as fotos depois), ainda rendeu a leitura de dois livros que recomendo: “A ditadura da moda“, de Nina Lemos (li na ida) e “A jogadora de xadrez“, de Bertin Henrichs (li na volta). Vamos a eles:
Sempre gostei de tudo que a Nina Lemos escreve, desde que a conheci na revista TPM (para mim, uma das melhores revistas femininas do país). Além de inteligente e bem-humorada, a moça é das poucas pessoas que domina a arte do sarcasmo. Gosto muito.
“A ditadura da moda” é seu primeiro romance e acredito que tenha um pouco de autobiografia misturada à ficção. A personagem principal, Ludmila, é uma jornalista de moda daquelas que definem tendências, ou seja, o que as mortais comuns vão usar. Trabalha para uma revista fashion e convive com o povinho pop. Nenhum problema, se a família dela inteira não fosse composta por pessoas que acham o capitalismo o mal do mundo; condenam o consumismo e consideram os Estados Unidos os vilões do planeta. O pai da Ludmila foi guerrilheiro na época da ditadura e morreu torturado; a mãe não aguentou a barra e foi viver numa comunidade alternativa no interior de Minas Gerais. Ela então foi criada por uma tia, que ainda tem posters do Che Guevara em casa e frequenta encontros de ex-guerrilheiros anistiados.
A Ludmila vive entre dois mundos opostos e uma hora a cabeça não dá conta; é quando ela começa a ouvir palavras de ordem em plena São Paulo Fashion Week.
Apesar do assunto sério, que até faz a gente refletir um pouco sobre nossos hábitos, a coisa é tratada com leveza e bom-humor. Começou bem com esse primeiro romance, Nina.
“A jogadora de xadrez” tem um estilo muito parecido com o da minha mãe, que também escreve romances. Vai contando uma história como uma pessoa educada o faria; de maneira organizada, sem nada que ofenda ou que choque, apenas descrevendo os acontecimentos. Aí, parece que você está assistindo um filme, vendo as pessoas e os lugares de um jeito bem repousante.
A protagonista, chamada Eleni, mora na Ilha de Naxos, na Grécia. Ela é arrumadeira de um hotel nessa ilha e vive com o marido, mecânico, e dois filhos adolescentes. Tem 42 anos e a vida é boa, porém monótona. A comunidade é como uma grande família, onde todos se conhecem. Eleni viaja mentalmente e fica imaginando como seria viver na França, em Paris.
Um dia, ela vai arrumar o quarto de um casal de franceses e vê um tabuleiro de xadrez; Eleni consegue reconhecer que é um jogo (na Ilha, os homens costumam jogar gamão), mas não sabe o nome das peças e nem como se joga.
Ela enfia na cabeça que vai aprender xadrez e acaba conseguindo, com a ajuda de um antigo professor, mas a comunidade fica escandalizada com esse hábito bizarro. Para que uma arrumadeira casada, mãe de família, quer jogar (e gastar horas treinando e estudando) um jogo tão complicado?
Eleni quebra a harmonia da comunidade com seu comportamento ousado para aquelas bandas, mas segue firme. Ela sabe que, nesse jogo, a rainha é quem tem o poder.
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