Você acha que o bom design deve ser auto-explicativo ou que o designer deve satisfações a seu cliente sobre o processo criativo? Leia a coluna da semana e veja o que eu acho…
Explica, mas não complica!
16-04-08 Dia desses, conversando com uma das professoras de design mais competentes que conheço, caímos na seguinte discussão: ela afirmava que o bom design não precisa ser explicado; ele deve ser automaticamente entendido. Uma boa marca gráfica prescinde de justificação teórica ou conceitual.
A Cristina tinha argumentos irrefutáveis: o primeiro é que na prateleira do supermercado não vai ter um designer para explicar a cada cliente o que a marca significa; o segundo é que tem muita gente que primeiro elabora uma solução gráfica e só depois é que procura uma explicação aceitável para conceituar o que fez, o que dá origem àqueles discursos de gente maluca cheio de palavras difíceis e que ninguém entende.
Pois é. Não posso deixar de concordar com a Cristina, mas faço exatamente o oposto com meus alunos: exijo que eles me expliquem de uma maneira muito convincente o motivo de terem escolhido as formas, as cores, a família tipográfica e até os alinhamentos. E faço isso com muita convicção, apesar de entender perfeitamente o argumento contrário. Discordo da corrente de profissionais que defende que o designer precisa ter domínio da expressão gráfica e formal, mas não necessariamente da verbal ou escrita.
Sei que parece um paradoxo, mas entendo que a minha abordagem e a da Cristina são perfeitamente compatíveis. Diria até que são complementares. Olha só.
Cresci em Campinas, no interior de São Paulo. No centro da cidade havia um teatro de arena, e freqüentemente havia espetáculos gratuitos da orquestra sinfônica. O maestro Benito Juarez sempre usava um tempo da apresentação para explicar as peças que seriam tocadas e o papel de cada instrumento. Música é um pouco como design: a gente entende logo de cara, ou não. Eu gostava da música, mas me encantava também com as explicações. Depois de cada “aula”, passava a prestar muito mais atenção nos detalhes, nos tempos. Observava as diferenças entre os metais e as cordas. Admirava muito mais o trabalho dos músicos, pois, mais do que gostar, eu começava a entender o que estava ouvindo. Se um dia eu tiver que contratar uma orquestra, certamente as informações me ajudarão muito.
Há poucos assuntos no mundo pelos quais eu não me interesso: luta de boxe é um deles. Pois um dia, sentada no sofá ao lado do meu tio, consegui assistir a uma luta inteirinha, só porque ele se deu ao trabalho de me explicar as regras e o significado de cada movimento. Continuo sem morrer de amores pelo esporte, mas hoje respeito muito mais seus profissionais.
Penso que a diferença das abordagens está exatamente neste ponto: uma coisa é eu gostar de uma marca ou um objeto. Outra, bem diferente, é entendê-los. O objetivo do design é interagir com o ser humano, sensibilizá-lo, tornar a vida dele melhor. É claro que a afinidade deve surgir instantaneamente, no momento do contato. Um pacote de biscoitos atrai ou não uma pessoa, independente das explicações que o designer possa ter sobre o método projetual.
Só que, ao apresentar o projeto para seu cliente, penso que o designer tem sim que fundamentar todas as suas escolhas, de preferência, por escrito. Concordo com a Cristina que algumas explicações são tão surreais que parecem mais um amontoado de palavras-chave que não significam nada. Para mim, isso só evidencia que o sujeito inventou a justificativa depois. Quem sabe o que faz tem explicações simples, claras, sucintas e convincentes. E, mais do que valorizar o seu trabalho, protege o projeto de palpites alheios sem fundamentação. Ademais, se o projeto é mesmo ruim, não tem texto maravilhoso que o conserte. Se ele é ótimo, qual é o problema em explicá-lo?
Acredito que os designers precisam continuar criando objetos que falem por si, mas também têm o dever de educar as pessoas sobre a sua profissão, para que elas não apenas gostem, mas realmente entendam o que é design. Do meu ponto de vista, as palavras são indispensáveis nesse processo.
É isso, Cristina. Para mim, o bom designer deve criar objetos que prescindam de explicações, mas ele deve tê-las sempre disponíveis para o caso do cliente ser um engenheiro…
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Edson Luiz de Ramos
É isso aí! Fazer a cambada pensar pra fazer e não fazer pra pensar.
Abraço Lígia.
Eduardo Buys
Lígia, gostei do que ví em seu blog, e até usei algumas (ótimas) imagens no meu Blog do Varejo http://www.varejototal.zip.net . Dê uma olhada, as imagens estão devidamente linkadas.
Depois volto, para navegar melhor.
Edu
Tatiany
É verdade, o que mais irrita é ver uma marquinha tola que não diz nada.
Gente, eu tenho o privilégio de ter essas duas “feras” como professoras. É por essas e outras que às vezes não dói tanto pagar a universidade. rsrs
Monica Fuchshuber
Oi Ligia!
Concordo com as colocações de ambas.
O bom design deve ser auto-explicativo, mas o profissional deve estar preparado para saber explicar e conceituar o seu trabalho. Essa dupla é vencedora!
Abraços
Mônica