Ecochata

consciência ecológica

Já fui ecochata de carteirinha e ainda acho o tema muito importante, mas o pessoal anda “se passando”… leia a minha coluna dessa semana e dê seu palpite…

Exageros ecológicos

23-06-2008 Minha preocupação com o ambiente não vem de hoje: fui filiada ao Partido Verde durante toda a vida universitária (saí quando comecei a achar que ele não era muito diferente das outras cores). Já faz tempo penso que, na batida em que está, a ilha vai explodir logo e o planeta também não dura mais muito tempo.

O bom é que parece que agora o pessoal está se dando conta e mudando hábitos: sacolas biodegradáveis e reutilizáveis (providencialmente chamadas “ecobags”) estão na moda; a separação e a reciclagem de lixo são uma realidade; as revistas de negócios não páram de estampar capas chamativas sobre o assunto; concursos de design sustentável pipocam pelo mundo; marcas famosas começam a se preocupar com a educação dos pequenos consumidores.

O problema é que a palavra ecologia (com as variantes “natureza”, “sustentável” e “meio ambiente”) virou literalmente capim e, por causa do excesso de exposição do tema, a coisa está primando mais pela aparência que pela essência. Ser sustentável o tempo todo é difícil (eu diria praticamente impossível), mas cada um faz o que pode. O que não dá é para sair desfilando por aí de ecologicamente responsável (pouquíssima gente poderia vestir o modelo) achando que está cheio de razão. Não está.

Agora mesmo, estava eu poluindo um pouco mais o ar de Florianópolis presa a um engarrafamento, quando paro atrás de um EcoSport com o estepe estampado: “Eu preservo a natureza”. Sempre impliquei com o nome desse modelo, pois acho muito difícil associar carro e ecologia, mas isso foi um pouco demais. Aquela enormidade sobre rodas só tinha uma pessoa dentro e estava, com toda certeza, com o ar condicionado ligado. Nenhum problema, eu estava quase na mesma situação (exceto pelo meu mínimo Ford KA e pelo ar condicionado), mas meu senso de hipocrisia não permitiria tais arroubos. Sinceramente, tenho vergonha.

O trânsito avança mais um pouco e encontro um CrossFox estiloso com seu estepe todo verde e os dizeres: “A ecologia é o meu país”. Esse tinha um agravante: o motorista estava fumando! Cheguei a ver o sujeito jogando a bituca no chão na sinaleira seguinte.

As campanhas publicitárias despejam declarações de amor à natureza de uma maneira tão irresponsável e leviana que penso que esse tema, pela sua gravidade, mereceria algum debate. Certamente as capas de estepe desses carros enormes vendem porque têm apelo, estão na moda. A propaganda do EcoSport chega a ser constrangedora se a pessoa for parar para pensar no que é vendido como conceito.

A idéia tem contaminado jovens bem intencionados, porém, sem noção. Esses dias vi uma moça bem produzida e elegante que vestia uma camiseta muito original. Tinha um aplique feito de uma espécie de resina plástica que dizia: “Sou contra o aquecimento global”. Ainda bem, já pensou se ela fosse a favor? Era uma versão mais cosmopolita da camiseta do namorado “Desmatamento: isso tem que acabar!”. Além dos modelitos, será que eles realmente fazem algo mais objetivo a respeito do assunto?

Campanhas a favor de um mundo sustentável são bem-vindas, mas a contradição freqüente acaba tirando a credibilidade da mensagem. Enquanto a gente não lapida o nosso comportamento a um ponto que mereça louvores auto-promocionais, penso que poderíamos ser mais discretos na exposição pouco modesta de nossa consciência ecológica. Poluição verbal também é poluição…

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

4 Responses

  1. Giuliana Przybycien
    Responder
    24 junho 2008 at 12:33 pm

    Infelizmente é uma realidade hoje. As pessoas falam da boca pra fora, mas na hora de agir é muito diferente.
    Acho que as pessoas estão esperando acontecer algo mais grave para começarem a REALMENTE fazer alguma coisa pelo planeta.

    Adorei Lígia!

  2. 1 dezembro 2011 at 2:36 pm

    Ótimo texto Lígia.

    Se as pessoas (e empresas) realmente se preocupassem com a questão ecológica, elas se tornariam veganas. #utopia.

    • ligiafascioni
      Responder
      2 dezembro 2011 at 3:53 pm

      Oi, Murilo!

      Acho que não dá para ser 100% ecológico nem que se queira (nem os veganos conseguem, acho eu). O negócio é não ficar fazendo propaganda enganosa por aí como se comprar uma camiseta de algodão certificado fizesse de você alguém superior…eheheh

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