Chave de ouro

Aproveitando a fase de reciclagem de posts, vai aqui mais um para fazer o povo pensar mais um pouco. É de julho de 2008, mas ainda está valendo…

Em geral, gosto de metáforas, mas confesso que tenho uma implicância especial com a tal “fechar com chave de ouro”. Primeiro porque o fechar, nesse caso, é usado como significado de conclusão ou finalização de alguma coisa, não o ato de trancar ou guardar. É por isso que não entendo o que essa chave (ainda mais de ouro) faz aqui.

Gustave Flaubert sempre detestou frases prontas, a tal ponto de colecioná-las e se dar ao trabalho de escrever um volume chamado “Dicionário de idéias feitas”. Anos depois o livro foi traduzido aqui no Brasil pelo Fernando Sabino, que incluiu um monte de outros ditos brasileiros. São palavras que se grudam umas às outras e são sempre usadas aos pares ou trios em determinados contextos. Coisas como “último suspiro”, “compleição robusta”, “crime hediondo”, “requintes de crueldade”, “discussão acalorada”, “dúvida cruel”, “espírito de porco”, “esvair-se em sangue”, “fato consumado”, “do mais alto gabarito”, “tresloucado gesto”, “sorriso glacial”, “finas iguarias”, “amigo inseparável”, “medida drástica”, “recuperação gradativa”, “reagir à altura”, “olho da rua”, “canto da sereia”, “situação insustentável”, “silêncio sepulcral”, e por aí vai…

Acontece que em alguns desses pares a liga fica meio esquisita, como a recente moda do “amigo pessoal” (sempre fico pensando se a pessoa também tem amigos impessoais) e o tal “correr atrás do prejuízo” (o cúmulo do masoquismo, já que a maioria prefere correr atrás do lucro).

Já falei do público-alvo que precisa ser atingido (coitado!) e agora estou lembrando daquela “de graça, até injeção na testa”. Como assim? Eu não quero injeção na testa não, sai pra lá! De graça, eu poderia aceitar ingressos para um show que não estou muito a fim, ir a uma festa na qual não faço muita questão, comer um pedaço de bolo de ontem, sei lá. Muitas coisas, mas elas certamente não incluem injeção na testa. Que tal: “de graça até churrasco torrado na casa do chefe” ; “de graça até iogurte com validade de ontem“ ou “de graça até palestra da Lígia”? Vamos usar mais a criatividade e parar com essa injeção na testa, minha gente. Crie o seu próprio “de graça” e faça mais sucesso.

Adoro quando a pessoa faz adaptações mais contemporâneas. Quem não riu da primeira vez que ouviu dizer que fulano estava se achando “a última bolachinha do pacote” ou “a última coca-cola do deserto”? Acredito que o caminho seja esse mesmo. Se a gente colocar os miolos para chacoalhar e brincar um pouco, pode ser divertido. Que tal: a Ana está se considerando a “a capa da Playboy desse mês”? Ou: O Jonas pensa que é “o Brad Pitty jogando frescobol em Ipanema”?

A gente poderia pensar em alternativas toda vez que se sentisse tentado a usar “rápido como um raio”, “tempestade num copo d´água” ou “virar a casaca”, né? Poderia ser “o cara saiu a 10 Gigabits por segundo”, “a dona está achando que falta de calço na mesa é terremoto“ ou o “Zeca agora está trocando a marca da cerveja”.

Pois é, legal seria terminar essa coluna com uma coisa alternativa à tal chave de ouro. Pensei em “terminar com a platéia de pé gritando bravo”, mas não é para tanto.

Alguém tem alguma idéia?

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

5 Responses

  1. Elton
    Responder
    2 fevereiro 2011 at 11:42 pm

    Nunca esqueço minha mãe, questionando a pressa ou urgência com alguma coisa qualquer com o “sangria desatada”

    mas sempre achei genial essa gente criativa que vive inventando moda, como: cara está se achando o Alfajor, a única bolacha do pacote! =D

    ahhh…. sua nova casa ficou muito legal. 😉

    • ligiafascioni
      Responder
      3 fevereiro 2011 at 7:56 am

      Aahahahah… é mesmo, a minha falava a mesma coisa!

  2. Paulo Cezar
    Responder
    3 fevereiro 2011 at 7:16 am

    Ai Ligia. Esta fonte do seus posts está tão pequena, que fica dificil de ler…

    • ligiafascioni
      Responder
      3 fevereiro 2011 at 7:55 am

      Oi, Paulo!

      Já pedi para o pessoal do desenvolvimento colocar aquele botãozinho de aumentar a letra. Mas enquanto eles não fazem isso, dá para aumentar a fonte na opção “view” do seu navegador. Obrigada pelo feedback!!!

  3. 3 fevereiro 2011 at 6:17 pm

    Adorei garota, e vou saindo à francesa para não sair de fininho…hahaha

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