O discurso não está batendo

Fazia um tempo que eu não postava nada sobre crise de identidade, mas motivada pelo curso de identidade corporativa que começa terça-feira aqui em Belo Horizonte (veja aqui mais detalhes), resolvi ressuscitar alguns exemplos onde o que a empresa diz não é compatível com o que ela mostra.

O primeiro caso me foi enviado pelo Daniel Santos, sempre atento. Ele foi almoçar nesse restaurante em Florianópolis que também frequento (comida ótima e atendimento acima da média, por sinal) e percebeu o ruído na comunicação.

Nem vou dizer que o restaurante se chama Mirantes e nenhuma das muitas filiais espalhadas pela cidade tem vista para algum lugar que valha a pena (Mirante não é isso? Um lugar com ponto de vista privilegiado?).

O fato é que eles usam um saquinho de papel para embrulhar os talheres que gera mais lixo (pois o saquinho não tem nenhuma função adicional além dessa extremamente fugaz, sendo que eu poderia pensar em várias); o papel é branqueado (nem sequer é pardo ou reciclado) com impressão em preto.

Até aí não chamaria a atenção de ninguém; o problema é que aparece a totalmente descabida frase “Junto com você por um mundo mais sustentável“. Gente, de onde saiu isso? Parece que alguém achou a frase bonitinha e colocou lá (ou achou que não usar plástico já autorizava chamar a empresa de sustentável, vai saber).

Olha, não ficou legal não, melhor rever e ênfase na sustentabilidade porque o argumento não está se sustentando…

O segundo exemplo é uma vitrine que vi também em Florianópolis. Uma loja que, entre outras coisas, vende “moda evangélica” seja lá o que isso signifique. Mas por mais imaginativa que a pessoa possa ser, jamais vai adivinhar que essas roupas que estão mais para periguete pudessem combinar com o conceito de evangelização. Sei lá, achei muito ecletismo.

Prestem bem atenção nos modelitos e reflitam…

A síndrome do público em geral

O objetivo da marca é seduzir clientes e fidelizá-los. Não tem como seduzir todo mundo e as empresas devem colocar isso na cabeça de uma vez por todas! É preciso escolher quem se quer seduzir, estudar seu comportamento, entender o que é valor para esse público e descobrir, na sua própria essência, o que pode ser usado como base para um relacionamento duradouro.

Glamour com ventinho

Então, fiquem com essa vitrine charmosésima lá de Berlin. É uma loja de sapatos bem pequenininha; para atrair olhares, o vitrinista usou uma Marylin Monroe de papelão em escala real, mas com uma saia de verdade. Embaixo, tem um ventilador que fica ligado durante todo o período em que a loja está aberta. Ah, e não tenho bem certeza, mas acho que a linda troca de sapatos de vez em quando. Dava para ser uma loja de lingeries também, né?

Preciosas horas

Nossa, acabei de acompanhar uma discussão no Facebook que me deixou pasma. As pessoas estavam discutindo o preço que um palestrante cobra (conheço o moço apenas de nome e, pelos comentários, o valor é cerca de R$ 6 mil). Aí, uma professora universitária veio com essa: “Tudo isso por duas horas de trabalho? São R$ 3 mil por hora, assim eu também quero!”. É claro que o coro de pessoas que não convidaram o Tico e o Teco para o debate logo concordaram que isso era um absurdo e que o sujeito estava com a vida ganha.

Os "sobrinhos" atacam aqui também

Pelo jeito, por aqui também existem os “sobrinhos” que fazem as vezes de publicitários e designers. Senão, que explicação haveria para essa genial peça de divulgação de uma auto-escola?

Na imagem (que acho que foi tirado de algum cartoon), aparece um instrutor desesperado com as barbeiragens do aluno, aparentemente calmíssimo. Aí aparece embaixo um texto que, em livre tradução, diz “Fique calmo — mesmo quando o astral estiver diferente!”.

Bat-metrô

Agora só dá Batman em todo lugar (ainda não fui assistir); fiquei sabendo que tem um grupo assaltando cinemas no México fantasiados de homem-morcego, logo depois da tragédia dos EUA, vejam só a que ponto as coisas chegaram.

Pois aqui as coisas não estão tão dramáticas. Os publicitários bolaram um jeito bem bacana de divulgar o filme; construíram molduras acolchoadas como as paredes de um cinema em volta dos cartazes promocionais, que são fotos de cenas do filme.

Eis um exemplo de peça publicitária onde não precisa de texto, slogan, e nem mesmo o nome do produto. Simplesmente não tem nada escrito (nem precisa). A instalação está na estação de metrô (que aqui se chama U-Bahn) Alexander Platz e ficou muito bem-feita.