Trocando os pés por um contato

Pois é, enquanto me arrumava, fiquei na dúvida sobre qual sapato usar. Acabei me distraindo com outra coisa e me esqueci de decidir. Saí assim mesmo, sem perceber.

O engraçado é que na ida, como não tinha notado, fui bem desligada, lendo meu livrinho. Na volta fiquei mais atenta às pessoas e aconteceu três vezes, todas com mulheres: elas olhavam para meus pés, davam uma risadinha disfarçada. Eu olhava para elas, ria também e estava estabelecida uma conexão, quase uma cumplicidade. Teve uma senhorinha que, inclusive, puxou conversa e disse que ela já tinha feito isso.

Monsieur Ibrahim

A história da vez é “Monsieur Ibrahim und die Blumen des Koran” (algo como “Seu Ibrahim e as flores do Corão”) contada por um autor francês, Eric-Emmanuel Schmitt e conta a história de Moses, um menino que vive sozinho com o pai depressivo (a mãe abandonou ambos quando ele ainda era neném), que ignora completamente a existência do filho. Moses é esperto, mas compreensivelmente carente e inseguro. Em suas andanças, acaba ficando amigo de um árabe muçulmano que tem uma quitanda no bairro. A amizade deles é cheia de casos engraçados, mas com sacadas bem bacanas.

A analfabeta

Desde a primeira vez que pus os olhos sobre “Die Analphabetin”, da Agota Kristof, foi encantamento à primeira vista. É que agora, conseguindo ler um pouco em alemão, já me sinto uma semi-analfabeta. Mas quando cheguei aqui, há quase um ano, a sensação de ver as placas nas ruas, propagandas e vitrines era exatamente essa. Olha, posso garantir que não é nada agradável.

O grande caderno

O livro “Das große Heft” (O grande caderno) de Agota Kristof, conta a história de dois meninos que são deixados pela mãe na casa da vó, por causa da guerra. A avó é uma bruxa daquelas horrorosas, mas os meninos (gêmeos) têm uma capacidade de adaptação impressionante. Eles conseguem conviver com a megera e passar pelos horrores da guerra aparentemente incólumes. Recomendo.

Arte ou vandalismo?

O babado é a seguinte: em Berlin há pedaços do muro em vários pontos da cidade, deixados de propósito, para que as pessoas se lembrem por onde ele passava. Pois um desses lugares é a Potsdamer Platz, um lugar que ficou por muitos anos abandonado; era um grande descampado com um muro passando no meio.

Vai daí que algum turista engraçadinho resolveu colar um chiclete mascado no muro. Outro viu, gostou e copiou. E assim é o ser-humano: o troço virou moda e não duvido que alguém vá até a esquina comprar chiclete só para mascar e colar lá.

Pug ou Mops: não importa, a fofura é igual

Faz um mês que está chovendo praticamente todo dia nessa terra; como estou saindo de uma gripe, as conjunções climáticas não estão me permitindo muitas incursões pela cidade (e olha que minha lista de lugares para visitar só faz crescer). Mas hoje parou de chover das 2 às 5 da tarde; calhou que eu tinha lido no jornal que ia ter um Encontro Internacional de Möpse, aquele cachorrinho que em português se chama Pug (Möpse é o plural de Mops). Catei o marido e lá fomos nós ver os fofuchos.

Como não escrever um perfil

Não faz muitos anos, a pessoa só precisava descrever suas competências profissionais no currículo (mesmo assim, só quando precisava achar um emprego). Hoje, além da fila andar muito mais rápido, tem muita gente trabalhando de maneira autônoma ou como pessoa jurídica.

Vai daí que quase todo mundo que está no mercado precisa se apresentar profissionalmente de maneira resumida, seja em sites, blogs, redes sociais, palestras, artigos, entrevistas ou até, veja só, o bom e velho currículo.

O que tenho visto é que tem um povo por aí misturando as coisas e compromentendo seu futuro profissional por pura desinformação (e, muitas vezes, por falta de noção também).

A única língua que o diabo respeita

Até Satanás tem medo dessa língua, pelo menos é o que dizem do húngaro (e eu acredito); na aula de alemão tinha uma menina húngara que nos falou que eles têm 15 casos de declinações! E eu reclamando dos 4 do alemão, que faz todo mundo (inclusive os nativos) arrancar os cabelos. Isso sem falar na complicação que devem ser as regras de acentuação (eles têm dois acentos agudos em cima de uma letra, parece um trema riscado, além do trema propriamente dito).