Papo cabeça

O nome Suzana Herculano não me era estranho, mas nunca tinha prestado muita atenção até ser completamente abduzida por uma reportagem da TPM (minha revista favorita). Lá fiquei sabendo que a moça formou-se em biologia aos 19 anos e foi estudar genética nos Estados Unidos, quando apaixonou-se por neurociência. Mergulhou literalmente de cabeça no negócio e já recebeu prêmios internacionais de respeito por sua pesquisa na área. Pensa que a nega é daquelas CDFs que nem sabem o que é batom? Pois saiba que é uma morena bem bonita, mãe de dois filhos, que também toca piano, violão, violoncelo e flauta transversal. Já fez musculação, corrida, sapateado e agora pratica pilates. Lê de tudo um pouco, vai ao cinema, adora viajar e escreve muito bem. Enfim, como não se apaixonar? Virou minha ídola instantaneamente.

Por quê?

Estava lendo Start with why, de Simon Sinek, e me dei conta de que a gente não dá muita bola para algumas coisas realmente importantes em marketing. Não que Simon tenha feito alguma descoberta extraordinária que o pessoal que estuda ciência cognitiva já não tenha estudado, mas ele descreve as coisas de uma maneira tão simples que faz todo o sentido.

Simon começa questionando se você sabe porque os clientes de sua empresa são clientes. E por que os funcionários são funcionários, parceiros são parceiros? Por que seu cônjuge continua com você? Por que seus amigos são seus amigos? Perguntas um pouco complicadas de responder, né? Afinal, a gente sabe muito pouco sobre o que move a conduta das pessoas e a interação entre elas.

Para tentar ajudar na busca de respostas para essas questões tão importantes, Sinek explica que o comportamento humano pode ser influenciado basicamente de duas maneiras: manipulação e inspiração.

Vida fumê

A minha implicância com o vidro fumê não vem de hoje – nunca gostei desse efeito. Essa forma plasmática em sua versão enfumaçada (você sabia que o vidro é um líquido de alta viscosidade?) tem o poder de descolorir o dia, fazer desmaiar as cores e até tornar o cenário um pouco ameaçador. A pergunta que não fica quieta é por que as pessoas escolhem ver o mundo desbotado de livre e espontânea vontade? E por que ainda topam pagar mais caro por isso?

Chega de CAPTCHAS!

Tá bom, você, como eu, não consegue mais ouvir sobre o tal foco no cliente. É um tal de “nossa empresa tem foco no cliente, viu? Nós acordamos, comemos, trabalhamos, dormimos e sonhamos pensando em como fazer nossos clientes felizes” que não é fácil. Claro que na parede, não falta nunca uma declaração de missão e visão, espremendo a palavrinha mágica “cliente” entre previsíveis e entendiantes gerúndios, combinando bem com a moldura de gosto duvidoso.

E se em vez de ficar nesse teatrinho de roteiro ruim, as empresas realmente pensassem no cliente, só de vez em quando, para variar? Não precisa ser nada muito difícil para começar.

Inovação: tem palavra mais obsoleta?

Há algum tempo tive a oportunidade de ler um artigo interessantíssimo do Umair Haque, diretor do Havas Media Lab, chamado “The Awesomeness Manifesto”. É difícil traduzir awesomeness, que seria mais ou menos a capacidade de impressionar, causar espanto. Pensei em substituir por incrível, sensacional, deslumbrante e até mesmo impressionante, mas esses são adjetivos e o Haque acrescentou o “ness” no final justamente porque queria um substantivo. Aí fica difícil traduzir, né?

Mas não faz mal, usamos o original e vamos ao que interessa: Haque diz que a palavra inovação soa como uma relíquia da era industrial e que, por isso, a própria palavra precisa ser inovada.

Pessoas invisíveis

Já faz um tempo recebi uma mensagem que me deixou comovida. Como a recebi de vários endereços diferentes, é possível que você também já a tenha lido, ainda mais porque, pesquisando no Google, descobri que a história é verdadeira e o texto é de 2004.

O caso é o seguinte: Fernando Braga da Costa, por sugestão de seu orientador de Mestrado em Psicologia, resolveu trabalhar como gari na própria universidade onde estudava para entender como esses profissionais eram vistos pela sociedade. Eis a conclusão, após 8 anos trabalhando na função: eles não são vistos.

Diferente?

Essa palavra, “diferente” e sua versão mais hype, a tal “diferenciada” carrega armadilhas perigosas. Se um profissional tem uma das duas na ponta da língua, cuidado. A tradução correta de “fiz assim para ficar diferente” é “fiquei com preguiça de pensar, dei uma enrolada e vê se não enche”.
O designer apresenta uma marca gráfica cheia de ornamentos árabes para uma cantina italiana. É só pressionar um pouquinho que ele revela:

— É que eu achei legal, tipo assim, fica diferente.
Gente que pensa, projeta, raciocina, sempre tem excelentes argumentos para defender seus projetos. E são argumentos bem diferentes, pode acreditar.

Design emocional

O nível reflexivo do designer que geralmente reprova fortemente as coisas bonitinhas, consideradas banais, triviais e carentes de profundidade e substância, está claramente tentando aplacar a atração visceral imediata por essas coisas. Se a pessoa se aceita, não se revolta tanto com isso, não se incomoda e deixa cada um ser como é. Sempre vejo pessoas incomodadas demais com o fato de uns gostarem de assistir BBB e outros amarem sanduíches do McDonald’s. Qual o problema, galere? Cada um com seu nível de processamento e todos felizes, sem stress.

Dieta literária: devorando os livros certos

Ler serve basicamente para desenvolver a capacidade de abstração, o que não é pouco se a gente analisar onde isso nos leva: compreender a dimensão e o contexto da encrenca que é esse mundão, o que implica em entender pelo menos o básico sobre como as coisas funcionam e como a gente chegou até aqui; esse passo é fundamental se quisermos mudar a realidade (ou mesmo deixá-la exatamente como está, o que exige esforço igual ou maior).