A casa quebrada

Broken House: Düstere Ahnung” (Tradução livre: “Casa quebrada — pressentimento sombrio“, de Gillian Flynn, é daquelas jóias que vêm em caixinhas pequenas e que valem cada milímetro quadrado. 

A autora já fez sucesso com o famoso “Gone Girl” (que saiu como “Garota Exemplar” em português) e que está na minha lista para resenhar aqui. A mulher é a rainha dos plot twists; ela vai levando a gente por um caminho até que nos dá uma rasteira bem bonita.

A novela (é um livro com menos de 70 páginas) ganhou o prêmio Edgar Allan Poe de Mistério para histórias curtas em 2015. E mereceu, viu?

A história começa com a protagonista explicando o seu “trabalho manual” e a situação profissional atual. Elas masturba homens (profissionalmente e com a maior seriedade; não é uma prostituta), mas está com síndrome do túnel do carpo, uma lesão relacionada ao esforço repetitivo como digitar textos ou tocar instrumentos musicais. 

A Madame Viveca, dona da sala comercial que ela ocupa, lhe propõe trabalhar meio expediente com seu “trabalho manual” e a outra metade como cartomante. Apesar de improvável, a associação faz todo o sentido.

É que a nossa protagonista (Viveca a chama de Nerdy, por causa dos óculos que usa) teve uma vida muito difícil. A mãe, filha de agricultores, era extremamente inteligente, mas ficou órfã muito cedo, precisou sair da escola, e foi para New York se virar sozinha. Acabou engravidando e sendo abandonada pelo namorado.

Depressiva, entregou-se às drogas e ao álcool, de maneira que a menina passou a infância sem uma vida regrada. A mãe a levava para pedir esmolas em dias certos da semana e a ensinou a observar as características das pessoas, que diziam tudo sobre elas, bem como a maneira certa de abordá-las.

Nerdy virou uma especialista na natureza humana e aprendeu a dizer exatamente o que as pessoas queriam escutar para conseguir delas o que desejava (geralmente dinheiro). 

Observadora de minúcias, treinou essa habilidade desde muito cedo — era uma questão de sobrevivência.

Sob esse ponto de vista, o papel de cartomante era perfeito para ela.  E as clientes (geralmente mulheres) começaram a aparecer.

Até que Suzan, uma mulher bonita, rica e com aparência desesperada veio bater em seu “consultório”. 

Ela conta que sua casa parece assombrada e coisas muito estranhas estão acontecendo. Susan é casada com um alto executivo que viaja muito, então ela fica sozinha a maior parte do tempo com as crianças. Eles compraram a casa antiga e enorme, mas muito bem localizada; depois fizeram uma reforma interna com os melhores arquitetos. O casal mora com o filho mais velho do primeiro casamento dele e com o filho menor, de ambos. 

O maior é um adolescente problemático e com uma aparência bem sinistra. O seu histórico de “terror das babás” também não ajuda.

Cética e descrente de mistérios esotéricos, Nerdy logo percebeu que poderia tirar muito dinheiro com o “tratamento” que havia proposto para resolver a questão e “limpar” a propriedade de suas energias ruins.

E mais não posso dizer para não dar spoiler; só que o final é surpreendente. Mesmo. 

Recomendo.

Nota: Não consigo imaginar o motivo, mas a versão em português saiu com o nome “O adulto”. Não faz o menor sentido… clique aqui se quiser comprar.

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