Eu realmente não consigo me lembrar onde eu vi uma forte recomendação para ler “Last night at the Lobster” (Tradução livre: “Última noite no Lobster”, onde Lobster é lagosta, mas nesse caso é o nome do restaurante), de Stewart O’nan.
Agora, pesquisando um pouco, me lembrei. É que o livro está virando um filme independente dirigido por Wagner Moura (maravilhoso sempre) e conta com algumas estrelas hollywoodianas (a produção é americana e o filme é em inglês). Pelo que li, ele ainda está em fase de produção, mas tenho certeza que o resultado vai ser ótimo, como tudo o que esse moço faz.
Olha, o livro é bom e gostei muito, mas não posso dizer que amei de paixão. Aguardemos o filme.
Talvez porque a escrita seja elaborada e cheia de expressões idiomáticas, tenho certeza que perdi algumas boas construções (isso acontece quando a gente não está lendo na nossa língua mãe). Você entende o que se passa, mas sente que tem alguma coisa nas entrelinhas que lhe foge. Foi esse o caso.
Bom, mas vamos à história. Manny é gerente de um restaurante desses que faz parte de uma rede e está instalado ao lado de um shopping à beira de uma rodovia (bem naquele padrão americano que você só chega de carro).
O Lobster roda há 10 anos sob o comando de Manny, mas apesar dos esforços da equipe de mais de 40 pessoas, alguém da sede resolveu que a rentabilidade não estava mais sendo suficiente para os acionistas. A decoração estava antiga e concluiu-se que não valia a pena investir na revitalização; melhor fechar.
Manny e mais alguns poucos funcionários que ele pode escolher foram remanejados para outra unidade e vão começar no ano seguinte. Faltam agora 4 dias para o Natal e o desafio de Manny é fazer o restaurante funcionar corretamente no seu último dia.
Muitos colaboradores já foram demitidos e sobraram menos de 10 para esse dia. O expediente começa pouco antes da hora do almoço (a especialidade, como o nome diz, são frutos do mar).
Felizmente, o movimento não é grande; apenas algumas dezenas de clientes habituais, mães com crianças mal educadas e idosos solitários. Uma festa de firma ocupando uma mesa grande e não muito mais. O movimento maior, inclusive com filas de espera, geralmente é para o jantar.
Manny enfrenta seus dramas profissionais: ele não conseguiu levar todos os funcionários para a outra unidade e muitos ficaram revoltados. Alguns, inclusive, resolveram se vingar. Há furtos de bebidas do estoque, alguns atos de vandalismo e gente que simplesmente não apareceu no último dia.
Manny é profissional até o último fio de cabelo, cuidando dos mínimos detalhes, cobrindo os funcionários que faltaram, limpando o gelo da entrada. Mas ele também está passando por uma crise pessoal bem séria. Sua namorada está grávida, porém ele estava tendo um caso com uma das garçonetes.
Os dois se apaixonaram, mas a moça teve o bom senso de terminar porque sabe que Manny nunca largaria a namorada grávida; ela mesma tem um namorado e não quer feri-lo. O coração dos dois está derretendo e ela se irrita porque tem que fazer o papel de durona sozinha. Ela não vai trabalhar na outra unidade; então hoje é também o último dia em que os dois vão se ver.
Para mim, o mais revelador dessa história é a complexidade de se administrar um restaurante, mesmo desses de rede, que já têm o script pronto (fico imaginando os restaurantes autorais, com chefs e pratos mais sofisticados). É o controle de estoque dos alimentos frescos e congelados, a limpeza, o bar, as tarefas pequenas como deixar frutas cortadas para os coquetéis, biscoitos assados conforme a demanda, louças, talheres, a higiene dos banheiros, a limpeza do pátio de estacionamento, a iluminação, o tanque de lagostas, a música na cozinha e no salão, as toalhas, copos comemorativos e promocionais, enfim, é um mundo de detalhes que ele precisa dar conta para a administração do grupo, sem falar no dinheiro e nas pessoas (parte mais complicada).
Como motivar uma equipe quando ela sabe que é o último dia que aquele lugar vai abrir? Que todos aqueles objetos vão sumir, desaparecer nos dias seguintes? Que provavelmente aquele prédio vai ser demolido ou reformado? Que aqueles clientes nunca mais vão comer lá?
Para completar, enquanto esperam o horário do jantar, a nevasca, prevista para ser uma das piores dos últimos anos, dificulta a limpeza e a recepção. Também afasta os últimos clientes. Um ônibus para de surpresa só para os passageiros poderem usar o banheiro (eles passaram mal comendo em outro lugar).
Enfim, nada de muito surpreendente acontece; a história está mais nos dramas pessoais dos personagens, principalmente Manny, que precisa equilibrar todos os pratos sem surtar e sem deixar cair nenhum.
Como eu disse, gostei mas não amei. Mas acredito que o filme vá ficar bem interessante.
Apesar do escritor ser famoso nos EUA e ter mais de uma dezena de novelas já publicadas, não encontrei nenhuma obra dele traduzida para o português. Se você quiser se arriscar, aqui está o link para comprar seu original na Amazon do Brasil.
No mais, aguardemos o filme.
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