Uma verdadeira novela

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Lutei por mais de 140 páginas e desisti. Detesto fazer isso, mas estava ficando mortalmente entediada com “Von der Schönheit” (Sobre a Beleza) da prestigiadíssima Zadie Smith e não estava vendo perspectiva de mudar a situação nas 370 que ainda faltavam. Que me desculpem os fãs da escritora, mas foi o que me restou.

Fazia tempo que estava curiosa para ler Zadie, considerada uma das revelações da literatura britânica nos últimos anos. Para mim, seu principal mérito é que o núcleo central da trama é composto por negros e a cor da pele deles em nada importa na história, ao contrário na maioria das obras de outros autores, onde os protagonistas ou são escravos ou vivem num submundo fugindo de preconceitos.

Já estava na hora de personagens negros contarem histórias onde a cor da pele não é a protagonista. Não estou negando o racismo, que, infelizmente, continua firme e forte, nem diminuindo os romances históricos de lutas e conquistas, mas penso ser saudável essa mudança de cenário.

Para mim, a autora coloca os personagens onde eles sempre deveriam ter estado: num papel comum, onde a cor não importa, é apenas uma característica física como outra qualquer. Na verdade, a cor até tem seu papel nas questões existenciais dos personagens, mas é compreensível, já que as questões existenciais integram a origem e a história da pessoa. Mais ou menos como um judeu questionando a própria existência e seus valores, ou um imigrante de qualquer país com cultura diferente. Não é a questão central, apenas faz parte da constituição de cada história de vida e da chave de seu entendimento.

No livro, um adolescente filho de um professor universitário, apaixona-se pela filha do maior rival acadêmico de seu pai. O problema é que fico com a impressão de estar assistindo uma novela das oito daquelas passadas no Leblon, onde se gasta capítulos inteiros descrevendo banalidades do dia-a-dia que não têm relevância alguma na trama (tipo dois personagens discutindo o que vão comer no almoço ou se um vai primeiro ao banco e depois na padaria). Não gosto de autores que desperdiçam palavras, frases, parágrafos inteiros sem dizer nada.

Não é que eu considere a autora ruim (até porque não li o livro inteiro);  a moça não deve ser tão respeitada e consagrada à toa. Talvez ainda tente mais uma vez, com outra obra. Parte da minha percepção pode ser devido ao fato de ter lido a versão em alemão, língua que estou longe de dominar totalmente; parte porque não me identifico com o estilo.

Se você quer se arriscar, vá lá. Mas vá com tempo, pois as coisas demooooooram para acontecer…

1 Response

  1. 20 agosto 2015 at 9:05 am

    muito bom parabens pelo trabalho

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