Apesar do longo, escuro, gelado e tenebroso inverno, os moradores de Berlim não podem reclamar da falta de opções do que fazer nesse período do ano. Pessoalmente, sinto-me muito mais produtiva (leio, escrevo e desenho mais), pois quando faz sol e calor, só quero mesmo é flanar pela cidade, como a maioria dos berlinenses.
Mas numa cidade com mais de 200 museus sobre os mais variados temas, realmente não dá para dizer que não tem onde ir. Inicialmente, visitei os que tinham a ver com arte, design e história (acho que não visitei nem 20 museus ainda), mas chegou a vez, finalmente, do Museu de História Natural, ou Museum für Naturkunde.
A entrada já impressiona: um hall com vários esqueletos de dinossauros gigantes, incluindo o esqueleto de dinossauro mais alto do mundo segundo o Guiness Book. O indivíduo em questão é o Brachiosaurus Bracai, que tem 13.27 m de altura e 150 milhões de anos de idade. As peças foram encontradas na mais bem sucedida escavação arqueológica em termos de ossadas de dinossauros de todos os tempos. Os trabalhos aconteceram na montanha de Tendaguru, na Tanzânia, entre 1909 a 1913 e cerca de 230 toneladas de fósseis e ossos foram enviados a Berlim para catalogação.
Para quem sempre gostou de ciências, esse museu é o paraíso: além dos sensacionais dinossauros e fósseis de plantas e outros bichos, há muitas surpresas. Uma sala que explica o processo de conservação dos animais mortos para exposição, outra que reproduz em escala visível insetos muito pequenos de uma maneira que beira a perfeição, outra ainda que é o cenário mais impressionante que já vi: um cubo de vidro cheio de prateleiras dentro com répteis e diversos seres em líquidos dentro de vidros. Daria um filme de terror dos mais bacanas!
Tinha também uma exposição que adorei, contando toda a história do projeto Rosetta. Foi por meio dele que, pela primeira vez na história (2014), um equipamento de telemetria conseguiu pousar em um cometa. Tem a reprodução em escala do cometa sobre o mapa da cidade de Berlim (mais ou menos do mesmo tamanho), a reprodução da Philae (a sonda que fez o pouso). Mostra a equipe e as histórias (a Philae capotou algumas vezes durante o pouso e acabou ficando numa zona sem acesso ao sol, o que fez com que suas baterias não conseguissem se reabastecer; ela fez contato durante algumas horas e depois morreu, voltando a dar notícias breves e confusas meses depois). Achei especialmente interessante porque meu próximo livro (o primeiro de ficção) terá uma protagonista que trabalha justamente nesse projeto (curiosamente, já tinha definido e escrito esse capítulo no ano passado).
Rosetta é o nome do local no Egito onde foi encontrada a famosa pedra de Rosetta, que permitiu que os hieróglifos fossem decifrados e Philae é uma ilha fluvial onde o obelisco que veio a ser a chave da tradução foi encontrado. São, portanto, peças fundamentais para o avanço do conhecimento humano. Está decidido: minhas próximas gatas se chamarão Rosetta e Philae <3
Por fim, a estrela da festa: o tiranossauro rex Tristan Otto, de estimados 67 milhões de anos. Ele é tão importante porque só foram descobertos 50 desses esqueletos no mundo todo e Tristan é um dos três mais completos: dos 300 ossos que formam o corpo, 170 estão catalogados e intactos. O estado de conservação também impressiona; há ossos que ainda apresentam cavidades para os nervos. Várias tomografias foram realizadas para descobrir mais sobre o animal; o que se sabe é que Tristan era idoso e sofria de uma doença, mas não se tem certeza se era fêmea ou macho.
A cabeça dele é outra coisa fabulosa; ao contrário dos dinossauros herbívoros, com pescoção comprido e cabeça minúscula (como o Brachiosaurus da entrada do museu), o carnívoro e violentíssimo tiranossauro rex mostra um crânio enorme e dentes assustadores. Como os ossos estão pretos por causa do minério onde estavam enterrados, a coisa fica ainda mais sinistra. Dos 55 ossos que compõem o quebra-cabeças, Tristan tem 50 em perfeito estado.
O esqueleto foi encontrado em 2012 numa escavação em Montana, nos Estados Unidos. O conjunto foi oferecido a museus americanos e canadenses, mas porque se desconhecia o estado de conservação e a dimensão do animal, as negociações acabaram não indo adiante. A ideia dos empreendedores era vender a ossada em partes para diversos museus. Por sorte, um colecionador milionário americano aficcionado por ciência chamado Niels Nielsen, ficou sabendo do caso e, junto com seu amigo, Jens Peter Jens, comprou a ossada e deu a ela o nome de seus filhos, Tristan e Otto.
O Musem für Naturkunde Berlin foi escolhido para a montagem do quebra-cabeças e para a primeira exposição justamente por ser um dos mais experientes do mundo em ossadas de dinossauros (inclusive por causa da escavação de Tendaguru) e o espetáculo vai estar à disposição para visitação até 2018. Depois, ninguém sabe.
Recomendo aproveitar o quanto antes.
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