Essa semana assisti a uma palestra bem interessante. No coquetel de encerramento conversei com um empresário que elogiava a ótima apresentação, pois tinha lhe rendido ótimas ideias. Quando ele começou a apresentar suas propostas, fiquei surpresa: a maioria contradizia ponto a ponto tudo o que o palestrante tinha falado.
Aos poucos, dei-me conta do que aconteceu: as primeiras frases lhe inspiraram tanto que depois ele não prestou atenção em mais nada do que foi dito. Perdeu a melhor parte e, apesar da diversão mental, suas ideias cairiam todas por terra em uma análise mais crítica. Mas ele estava feliz e satisfeito com seu próprio desempenho e despejava, contente, suas sacadas geniais.
Quantas vezes a gente comete o mesmo erro, de começar a elucubrar e não ouvir o que poderíamos aprender? Ficamos tão maravilhados com a festa que rola dentro da nossa própria cabeça que o mundo exterior fica completamente dispensável e até meio entediante. Do lado de dentro da gente não há críticas, chatos duvidando do nosso brilhantismo, ceticismos e julgamentos fora de hora. São ideias lindas pipocando e se reproduzindo descontroladamente como fogos de artifício. Resistir, quem há de?
Isso faz lembrar de um dito antigo, onde há quem se gabe de “enquanto você está indo com a farinha, eu já estou voltando com o bolo”. Essa frase, apesar da pessoa que a usa com frequência não perceber, resume a total e incontestável incapacidade de ouvir. Para mim ela faz um parzinho perfeito com outra que diz que “tem gente que só aprende o que já sabe”. É ou não é?
É que ouvir é uma das tarefas mais difíceis que existem para um ser humano. Desviar um pouquinho os olhos do próprio e adorado umbigo e prestar atenção no outro; concentrar os sentidos em absorver o conhecimento e a experiência de alguém que não mora na nossa cabeça; deixar de lado nossas próprias convicções e tentar vestir a pele de outrem. A missão demanda muito esforço e um domínio quase sobrehumano do nosso pobre ego. Mas compensa. Sem isso, é quase impossível aprender de verdade.
Mas é preciso dizer que é difícil, muito difícil mesmo. Resta a confissão final e envergonhada: eu mesma bolei essa coluna inteirinha enquanto “ouvia” o tal empresário…
Fazer o quê?
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Michel Téo Sin
hahaha
Diana
é, precisamos exercitar essa tarefa.