Sobre meu pai

paiTive sorte em muitas coisas na vida, mas uma delas foi ter o pai que eu tive. Uma vez um analista me disse que eu era uma mulher muito bem resolvida nas minhas relações com os homens e que esse mérito podia ser atribuído ao meu pai, que fez o trabalho dele direito e me ajudou a construir uma referência masculina positiva.

Ele se foi há quase sete anos, mas ainda lembro muito das coisas que ele gostava, especialmente quando viajo (ele adorava viajar). Acho que meu pai iria ficar orgulhoso se me visse pilotando uma moto tão grande, cruzando continentes por aí. Olha só se ele não era mesmo uma pessoa rara:

1. Herdei dele minha paixão pelos livros, sempre tivemos centenas em casa. Apesar de não ter feito faculdade, Gibi (apelido do Gilberto) adorava ler, sabia tudo de geografia e história e era fascinado por guerras.

2. Meu pai também me ensinou a gostar de máquinas (ele me deu uma caixa de ferramentas completa quando fiz 15 anos; fiquei encantada).

3. Eu tinha o maior orgulho quando perguntavam a profissão do meu pai na escola: ele era mecânico de avião. Nenhuma outra criança tinha o pai com essa profissão e naquela época avião era uma coisa sensacional. Ele tinha um descontão nas passagens, então a gente vivia voando e ainda podia ir na cabine do piloto. Que criança não acharia o máximo?

4. Meu pai me ensinou a atirar e até me deu uma pistola e uma carabina (que não tenho mais; hoje penso que não se deve ter armas em casa). Ele colecionava armas e eu treinava tiro ao alvo no quintal em vidrinhos vazios de esmalte. Tenho até uma medalha que ganhei num torneio.

5. Cresci tomando vinho, graças à italianice do seu Gilberto. Apesar de classe média-média, em casa sempre tinha caviar, queijos franceses e comidas exóticas. É que quando um avião tinha que ficar em solo por alguma pane, todo o catering era distribuído para a tripulação e os mecânicos.

6. Meu pai era um grande contador de histórias e tinha umas ótimas de pousos forçados no meio da selva quando viajava pela América do Sul como mecânico de bordo (naquela época tinha isso).

7. Era um sujeito muito carinhoso, gostava de fazer e ganhar cafuné como ninguém, mais parecia um gato. Na verdade, parecia era uma galinha, só ficava feliz com todos os filhos ao redor dele.

8. Ele sempre me chamava de filhote de capivara ou de magra.

Pois é, pai. A questão é que estou precisando de uma câmera pequena para carregar na bolsa e então resolvi entrar num concurso de shopping onde ganha quem explicar melhor porque o seu pai é “o cara”. Sei não, mas, acho que perto do meu, não tem para ninguém (coitados dos outros pais…).

Ou alguém tem alguma dúvida de que o Seu Gilberto foi O CARA?

11 Responses

  1. Clô♥
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    7 agosto 2009 at 10:53 pm

    Talvez por conta da saudade aumentasses um ano a sua partida. Ele foi em nov de 2003, portanto ainda vão fazer 6 (longos) anos… mas tudo bem, o tempo é o que menos importa se ele ainda permace vivo em nosso coração♥ Realmente ele foi uma pessoa especial…♥

  2. Valdelúcia Grinevicius
    Responder
    8 agosto 2009 at 10:28 am

    Lígia, você é uma pessoa rara, que cada vez mais mora mais no meu coração…

    Você consegue me fazer lembrar de como é bom ser brasileira, de ser criada por pai contador de histórias, o meu também era assim, e de quebra viver uma vida plena cheia de oportunidades, de agrados e de carinho paterno. Parabéns!

    A sua câmera já está chegando…até eu já estou sentindo o cheirinho dela… Tudo de bom!!

    Beijos e parabéns pela câmera nova!

  3. Jeff
    Responder
    9 agosto 2009 at 1:03 am

    Impossível eu não me emocionar; o meu pai se foi há um ano apenas, me identifiquei com algumas coisas (amor aos livros etc ) e logo me peguei rapidamente preenchendo outras lacunas e relembrando coisas nossas que ficaram plantadas em mim pra sempre !

  4. 9 agosto 2009 at 7:46 pm

    Realmente impressionante e emocionante o seu relato meu pai tb já foi a um bom tempo e tb guardo varias lembranças dele e nesse momento que lhe escrevo minha filhota esta a me beijar e dizer que me ama, espero um dia ter a oportunidade de ler uma declaração dela para mim como essa que li tua para seu PAI, mas já a tenho com o olhar dela nesse momento deitada em meu colo e dizendo que me ama.

    Feliz dia dos Pais a todos que já foram e a todos que aqui ainda estão cuidando e zelando pela prole.

  5. Milton Freyesleben
    Responder
    13 agosto 2009 at 10:48 am

    Não resta nenhuma dúvida, ‘seu’ Gibi é o cara… Te presentear com uma caixa de ferramentas aos quinze anos, foi o máximo… Criatividade, presença de espírito e fuga do ‘lugar comum’…
    Abraços Lígia e corre para buscar, merecidamente, a máquina!

  6. Ivan Gomes
    Responder
    14 agosto 2009 at 12:34 am

    Lígia:
    Que coisa mais bonita é você. Se todos fossem iguais a você. Assim, justinho você. Carlos Lyra, Vinícius de Moraes e Tom Jobim me inspiram para te agradecer pelas coisas belas que tu escreves para nós.
    Obrigado. Ivan

  7. CARLO
    Responder
    24 agosto 2009 at 10:48 am

    ho conosciuto gilberto nel 1985,appasionato di armi,lo ero anch’io.gilberto e tutta la sua famiglia sono delle persone meravigliose e ospitali che io non dimentichero’ mai.

  8. 4 julho 2011 at 6:46 pm

    Seu Gilberto é “o cara”. Certeza!
    E essa crônica está emocionante (pra dizer o mínimo!)

  9. 11 agosto 2012 at 9:44 am

    Querida, reler essa declaração me trouxe toda aquela vida barulhenta, italianíssima do nosso viver e me comoveu novamente. Beijos querida.♥♥

  10. Eliane Bruni
    Responder
    11 agosto 2012 at 6:41 pm

    …ai Ligia, q coisa mais linda!! e eu não tenho dúvida q ele era o cara, pq casei com o afilhado dele q herdou algumas coisas…rsrs.
    Inclusive acabei de ler p ele e esta te mandando um beijão.
    Já falei uma vez p sua mãe q deveriam escrever um livro com as histórias ótimas q contava q aliás ouço até hj pelo Sr.Bruno, me divirto muito.
    Enfim, não só eu, mas todo mundo q conheceu o “Gibe”, era apaixonado por ele.
    …saudades
    Bjos, Eliane
    Ah, o Luis esta falando q tem facas e um revólver de chumbo q ganhou do seu pai, guardados a sete chaves…

  11. carla sanfins
    Responder
    14 fevereiro 2017 at 10:15 am

    saudoso tio Gibi…minhas memórias são tão vivas, aprendi tanta coisa com ele ! E eu amava ouvir as historias …..

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