Recursão

Sem brincadeira: estou cada vez mais convencida de que Blake Crouch, autor de “Dark Matter” (leia resenha aqui) é uma das pessoas mais criativas que estão atualmente vivendo nesse planeta. E “Recursion“é uma evidência indiscutível. Como pode uma pessoa ter tantas ideias geniais?

Vamos lá. A história começa com Barry Sutton, um investigador de polícia, indo atender a uma ameaça de suicídio. Uma mulher quer se jogar do alto do 41o andar de um prédio em New York. Ela diz que se lembra de uma vida onde era casada e tinha um filho, bem diferente da que leva hoje, solteira e executiva. Foi atrás de quem seria supostamente seu marido e ele não a reconhece. É como se ela vivesse duas vidas paralelas em uma e não está dando conta. Ela não aguenta mais. E acaba se jogando.

Barry vai atrás do tal suposto marido e ele parece ter algo a esconder. 

Em paralelo, conhecemos Helena Smith, uma neurocientista que estuda memórias. Seu projeto de vida é desenvolver uma cadeira em que a pessoa possa se sentar e recuperar as memórias perdidas. A ideia dela é salvar a sua mãe, que sofre com Alzheimer.

Eis que, correndo contra o tempo e a falta de recursos para sua pesquisa, Helena recebe a oferta de um misterioso bilionário chamado Marcus Slade, para trabalhar em seu projeto sem limite de pessoas ou dinheiro; ela pode usar tudo o que quiser. O laboratório fica numa antiga plataforma de perfuração de petróleo no meio a 300 km da costa, toda reformada e adaptada como um misto de centro de pesquisas e hotel de luxo para a equipe de desenvolvimento.

Helena pensa que está trabalhando no seu projeto de recuperar memórias, mas Marcus é muito mais ambicioso. Ele consegue transformar a tal cadeira (e mais um tanque de imersão onde a pessoa “morre” lembrando de todas as memórias e depois é ressuscitada) em algo muito mais poderoso. Você pode, através de lembranças, voltar no tempo e mudar os acontecimentos. 

Barry acaba sendo inserido no experimento de Marcus contra a vontade. Ele volta 11 anos atrás e consegue salvar a sua filha adolescente de um atropelamento. Quando ele volta no tempo, consegue perceber isso, mas vai vivendo até a data atual, quando as duas versões de lembranças se juntam: a que eles chamam de memórias falsas (que foram geradas a partir da intervenção da cadeira) e as memórias atuais, que é a vida que seguiria se não tivesse tido a alteração. 

Quem fez o procedimento fica confuso, mas sabe o que está acontecendo. A questão é que as pessoas diretamente envolvidas têm suas vidas mudadas. Na data do procedimento, as memórias se unem e as pessoas simplesmente não conseguem entender o que está acontecendo, pois elas se lembram claramente de duas versões de sua vida que parecem igualmente verdadeiras. Só que vale a mais recente, a alterada. Por isso a mulher lá no começo do livro se suicida. Ela acha que está louca e não gosta da vida alterada. 

Bom, como dá para desconfiar, a máquina tem um potencial de mudar o passado que pode ser usado como arma por governos; e e exatamente o que acontece. O caos. 

Helena, que em uma das versões conhece Barry, vai recursivamente voltando ao passado tentando impedir que a cadeira seja construída e impedir que ela caia em mãos erradas. Eles tentam várias vezes sem sucesso. O problema é que se pode voltar ao passado e o presente é o resultado direto dessa alteração, mas mesmo que ela não tenha desenvolvido a cadeira, a partir do momento em que as lembranças das várias versões se unem no momento presente, todos os envolvidos também se lembrarão. 

Então, mesmo que ela não tenha desenvolvido a cadeira no passado, só consegue alterar a realidade até o momento presente, onde a cadeira já existe. Então os outros personagens podem se lembrar de alguma versão em que ela exista e reconstrui-la usando apenas as lembranças e a certeza de que é possível.

Parece complicado, e é. Como resolver o impasse e salvar o mundo de ser destruído?

As tentativas são várias, e Helena vai ficando esgotada com tantas versões de memória coexistindo no seu cérebro. Até que ela não aguenta mais e morre de exaustão.

Mas a história não acaba aí. Tem vários plot twists, soluções criativas, possibilidades de desdobramentos e muito mais.

E não é que o autor consegue dar um jeito nesse caos e fechar direitinho? Um roteiro de filme de ação pronto e acabado, com capítulos curtos e muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Olha, prepare sua mente para ser desgraçada e mergulhe fundo. Diversão garantida.

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