Estou trabalhando com um parceiro no desenvolvimento de um novo produto (breve teremos novidades) e a conversa acabou caindo no conceito de proatividade (o hífen caiu, segundo o feríssima Celso Vicenzi). É que hoje em dia é raro um profissional não se descrever como proativo. No currículo, só perde mesmo para a habilidade de trabalhar em equipe, mas disso tratamos depois.
Se a gente analisar direitinho vai ver que pouca gente é mesmo proativa, olha só.
Proatividade implica, basicamente, no sujeito ser responsável, ter iniciativa, ser auto-motivado, ser solícito e ter a capacidade de solucionar problemas (resolutividade).
Beleza, vamos então ver o primeiro item, responsabilidade. O profissional que é responsável no mais alto nível de proatividade (como todos dizem que são), não apenas define objetivos e articula uma forma de chegar onde deseja como ainda por cima consegue prever os riscos e se preparar para administrá-los. Isso tudo motivando as pessoas da equipe a trabalhar de maneira sintonizada com ele, já que o sujeito tem consciência de que não pode dar conta de tudo sozinho. Visualizou? Quantas pessoas você conhece com esse perfil?
O irresponsável é mais fácil de achar: o figura que é sempre surpreendido por imprevistos que o impedem de fazer o seu trabalho direito e cumprir os prazos prometidos. Claro, desnecessário dizer que esse tipo considera a perda de um arquivo que ele não fez backup como um fato imponderável da vida, totalmente fora de seu controle. O texto saiu com erros de português porque o Word não corrigiu e acabou a tinta da impressora (o universo conspira contra seu trabalho). A fatalidade impera e a culpa nunca é dele, já que para isso existem os clientes, o cosmos, os colegas, os fornecedores, os chefes e até o governo, não é mesmo minha gente?
Analisemos então agora a iniciativa e a auto-motivação. Possui essas qualidades a pessoa que observa o que se passa ao seu redor, identifica oportunidades e articula maneiras de aproveitá-las. Típico sujeito que está sempre ligado e atento, normalmente as pessoas o consideram um sortudo.
E o contrário (e mais comum)? É aquele tipo que fica compenetrado aguardando instruções (só faz aquilo que mandam e olhe lá, se der).
Solícito é aquele que está sempre ligado em observar as necessidades das pessoas à sua volta e buscando encontrar uma maneira de atendê-las (às vezes ele precisa motivar alguém ou organizar um grupo para fazer a coisa acontecer). É o anfitrião atencioso, o empreendedor ligado nas tendências, o líder cuidadoso.
O contrário (e mais comum), é aquele que se finge de morto e ignora todas as criaturas viventes mesmo que elas paguem seu salário. Seu mantra: “isso não é minha função”. Maus garçons são especialistas na arte de olhar o infinito em estado de meditação profunda enquanto você passa ridículo fazendo micagens para ser atendido. Quem não conhece vendedores para os quais se precisa pedir pelamordedeus para que ele considere dar a graça de sua atenção?
Por último, proativa é aquela pessoa que efetivamente resolve as coisas e deixa bem claro os critérios que utilizou para tomar as decisões. Nesse caso, fica evidente para todos os envolvidos o impacto que cada decisão tem no resultado final (e afinal que resultado é esse que tanto se quer).
Mas o que se vê mesmo por aí são aquelas pessoas que acham que nunca têm elementos suficientes para decidir coisa alguma. Ficam sentadas se afogando em informações inúteis esperando uma iluminação ou um sinal divino para decidir se compram ou não mais um mouse (o do estagiário quebrou). São pessoas muito ocupadas, estressadas e cheias de responsabilidades. Frequentemente, as que se acham mais proativas e só não fazem mais porque precisam carregar o mundo nas suas costas doloridas.
Não sei quanto a você, mas eu penso que as pessoas deviam tomar mais cuidado com as palavras que colocam no currículo.
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Valdelúcia Grinevicius
Lígia, realmente você tem toda razão em afirmar que as pessoas deveriam ser mais cuidadosas ao mencionarem sua pró-atividade entre as habilidades pessoais. Cai bem na apresentação do Curriculum Vitae.
No entanto, a pessoa real surgirá durante as entrevistas e testes na etapa de seleção, revelando os que possuírem alguma pró atividade. Aos outros restará algo difícil de gerenciar: uma mentira considerada como verdade absoluta.
Obrigada pelas ótimas postagens!
Seu bom humor, bom gosto e inteligência são ótimos para despertar e estimular mentes inquietas!!!
Thiago nunes
Eu creio que alguns desses pontos se revelam em situações diferentes da vida. Sabe, eu denho um “defeito”.. sou preguiçoso! Tenho muito sono de manhâ, gosto de analisar uma situação com calma, prefiro um sofá do que um passeio. etc.
Mas com isso eu ganho qualidades, consigo trazer soluções melhores pensadas para problemas, já começo um projeto evitando algumas etapas erroneas, etc.
Hoje tenho a minha empresa com bons contatos, sou um bom pai para meus filhos, marido prestativo, um amigo querido.. mas sou preguiçoso.
Mas como escrever num curriculo assim: Preguiçoso!!! Nao dá né.. por isso que a gente escreve: Proativo, Inglês intermediário e sei trabalhar em equipe !!!!
ligiafascioni
Oi, Thiago!
Claro que não dá para falar que é preguiçoso…eheheh… até porque eu acho que se você consegue fazer tudo isso, está longe de ser preguiçoso.
Mas talvez a característica que o defina melhor seja ponderado, ou cuidadoso na tomada de decisões. Ninguém coloca isso no currículo; se você o fizer, com certeza vai se destacar, até porque é verdade. Está vendo quanto diferencial desperdiçado?
Boa sorte e sucesso!
telma linhares
Lígia, adoro a sua maneira de escrver. Parabéns…
“…mas como escrever no curriculp assim: Preguiçoso!!!”… é verdade… c Muitas vezes os qustionários para um novo trabalho, tem lá: Seu maior defeito… como colocar insegura????? Você tem coragem pra trabalhar, tem coragem para o “novo”, para ir a luta, mas tudo isso vencendo uma tremenda insegurança…
Sempre passo por aqui e te admiro demais.
beijos
Telma
ligiafascioni
Oi, Telma!
Pois é, mas se você enfrenta a insegurança, não dá para dizer que é insegura…. melhor dizer que você busca enfrentar situações desconhecidas com serenidade; é comedida, mas não foge dos desafios. Você já viu alguém colocar isso no currículo? Eu não, mas ficaria com uma ótima impressão. Melhor do que o tradicional (e pouco realista) proativo, que não diferencia mais ninguém porque perdeu o sentido…
Sucesso e boa sorte!!
Daniel Pels
Ligia,
parabéns pelo excelente texto.
Daniel
Augusta
Adorei o seu texto. Amanhã vou para uma entrevista. Adorei o que você escreveu. Não me identifiquei com os falsos proativos (graças a Deus!), mas nesse país existem muitas pessoas desmotivadas com sua remuneração, ou até graças a ela, impossibilitadas de investirem no seu enriquecimento profissional, “aparentando” essa falta de proatividade.
Augusta
Lígia Fascioni: Oi, Augusta, boa sorte na sua entrevista. Pessoas desmotivadas pela remuneração, se forem proativas, vão mudar a situação e resolver o problema. Se não forem, vão reclamar da vida e colocar a culpa no governo e na crise mundial, que, vamos combinar, é bem mais fácil e não dá quase trabalho nenhum…
José Recker
Muito bom, adorei o texto, Lígia!
Realmente os elementos “mais comuns” são esses seres negativos e que encontram desculpas para tudo à sua volta! Não sabem resolver um problema, nem quando a solução está nas próprias mãos…
Felizmente tem gente que faz acontecer!