29-05-2007 Estava concentrada na função de espremer meus pobres neurônios contra a caixa craniana em busca de algum assunto que pudesse servir de tema para essa coluna, quando uma mensagem veio me salvar. Um jornalista queria me entrevistar por e-mail sobre a questão da pregnância da forma no webdesign.
Bem, como meu currículo é de domínio público e tenho certeza de que nada nele leva a crer que eu seja especialista em webdesign, creio que o moço deva ter tido algum bom motivo para pedir a minha leiga opinião, uma vez que a Internet está cheia de gente mais qualificada para falar sobre o assunto (desconfio que essas pessoas mais qualificadas não tenham o hábito de responder e-mails; é claro que isso é só especulação, mas não consigo encontrar outra explicação). A julgar pelo teor das perguntas, o jornalista certamente fez muito bem a lição de casa. Penei e tive que pesquisar muito para não passar vergonha. Com a pregnância eu já tinha até certa intimidade, mas a aplicação na web é que foi o calo. Vou compartilhar aqui o que aprendi graças ao meu bom hábito de responder todos os e-mails que me chegam.
A pregnância é uma velha conhecida no design. A idéia básica partiu dos filósofos Imanuel Kant, Wolfgang von Goethe e Ernst Mach, que diziam que a percepção era um ato unitário. Eles queriam dizer que as pessoas não percebem as coisas aos pedaços; elas organizam as informações de maneira a dar um sentido ao conjunto. No início do século passado, psicólogos conterrâneos desses senhores investiram na idéia e criaram a psicologia da Gestalt. Essa palavra alemã significa justamente “a integração das partes em oposição à soma do todo”. Sabe aquela história de que um mais um é sempre mais que dois? Pois é, vai por aí… a metáfora mais conhecida é aquela que diz que se cada uma das doze notas de uma melodia fosse ouvida por uma pessoa diferente, a soma das experiências dessa turma não corresponderia à de uma pessoa que ouvisse a melodia toda. E não é que é mesmo?
E para que serve esse papo todo? Bem, a teoria da Gestalt busca descobrir por que algumas formas agradam mais às pessoas do que outras. Para tanto, determinou-se oito leis que regem a percepção visual: a unidade, a segregação, a unificação, o fechamento, a continuidade, a proximidade, a semelhança e, voilá, a pregnância da forma (pensou que eu tinha esquecido?).
Pregnância (do alemão Prägnanz) é a capacidade de perceber e reconhecer formas. Se a forma é complicada, cheia de voltinhas e detalhes, e ainda estiver no meio de uma composição cheia de elementos gráficos e imagens, vai ser muito difícil de percebê-la e identificá-la. Estamos diante, então, de uma peça com baixa pregnância.
Porém, se a forma for simples, clara, e ainda por cima, situada sobre um fundo branco, sem disputar a atenção com ninguém, então temos uma peça gráfica de alta pregnância. Bom, você já percebeu que a pregnância pode ser da forma em si ou do contexto no qual ela está inserida.
Marcas gráficas sempre devem ter alta pregnância nas suas formas essenciais, pois um de seus objetivos é serem percebidas seja qual for o contexto. Se a marca for um brasão cheio de detalhes, vai ser muito difícil diferenciá-la de outros elementos gráficos num mundo tão cheio de informações como o nosso. Em marcas, alta pregnância é um dos requisitos fundamentais, sinal de bom design.
Já na web, é importante que as páginas tenham um design que favoreça a alta pregnância, pois isso favorece a usabilidade, que é a facilidade com que o usuário consegue encontrar o que está procurando. Nos ícones, esse fator é ainda mais crítico. Se o desenho no botão for complicado, ele não será compreendido e não cumprirá a sua função.
Mas é claro que nem tudo é tão simples, né, mané? Senão, fazer sites seria mamão-com-açúcar. O problema é que no design (e no webdesign também), tão importante quanto a função, é o significado. Tem usuário que se sente mais confortável, integrado e estimulado em um ambiente visualmente poluído e cheio de informações competindo pela sua atenção. Do ponto de vista ortodoxo, mau design. Do ponto de vista contemporâneo, design adequado.
E durma-se com uma pregnância dessas.
Lígia Fascioni
www.ligiafascioni.com.br
Victor Mayrinck
Muito bom Lígia!
Comecei o curso de desenho industrial e sua explicação foi muito clara e objetiva! Parabens!
Fábio Víncent
Lígia,
Adorei, Parabéns!!
Bjs
Fábio Víncent
Willys
Falou tudo Lígia.
Abraços.
Germano
Obrigado por comparilhar seu conhecimento.
Abraços!
Julio Rezende
Fantástico, Ligia!
Priscila
Obrigada Lígia por me ajudar a entender mais um pouco sobre pregnância… sou estudante do curso de design gráfico e seu conhecimento me esclareceu algumas coisas.
😉
Baltasar Cassiano
Maravilha Ligia, informações claras e objetivas. Poderia dizer: informações com “alta pregnancia”.
Tóin
Boa coluna! Entrei acá por um texto de ciência de política que utilizava a palavra entre aspas e não presente no meu houassinho e acabei aprendendo bastante mais! 😉
Baltasar Cassiano
É maravilhosa sua coluna!
Baltasar Cassiano
11 8505 2431
sonia lapolli
Gostei muito! Sou artista plástica e estou fazendo um projeto de instalação e outro de pintura onde trabalho a pregnância. O tema é sobre presa x predador .Estava pesquisando e achei seu blog. Bom saber que vc é de Floripa!
Um Abraço
ligiafascioni
Oi, Sonia! Nossa, que interessante deve ser o seu trabalho! Depois manda notícias para eu ir lá vê-lo, fiquei curiosa! Obrigada pela visita e volte sempre!
sonia lapolli
Oi Lígia , assim que estiver aprovado por patrocinadores mandarei sim.
Eu e minha filha Lara fomos selecionadas para cowparade sc e junto com a agência Labbo estamos atrás de patrocínio.Se souberes de alguem que possa nos indicar ficaremos agradecidas.
Estamos te acompanhando pelo facebook também.
Um Abraço
ligiafascioni
Oi, Sonia!
Que bacana! Não me inscrevi na CowParade porque vou me mudar e não estaria aqui para pintar a vaca, caso fosse selecionada. Mas estarei torcendo e curiosa para ver a sua, parabéns! Se souber de alguma coisa, aviso!
Cristiano Chaussard
Lígia
Toda vez que tenho que explicar pregnância pergunto aos meus alunos se eles já viram alguma forma nas nuvens. O resto a explicação vai pelo mesmo tipo de percepção em outras coisas mais complexas como uma cidade em forma de ilha, em forma de uma megalópolis como São Paulo sem qualquer pregnância ou em forma de um avião como Brasília. Depois parto para fachadas de prédios e depois para páginas de revistas para só depois chegar nas marcas gráficas.
ligiafascioni
Muito boa a dica, Cristiano! Não é à toa que os alunos adoram você!!!
Beijocas 🙂