Acontecendo Aqui boas idéias Coluna da semana comportamento comunicação design dicas profissionais gestão liderança livros

Pra que brigar?

L1040357

Você já reparou que as pessoas que pensam como nós são sensíveis, inteligentes e muito, mas muito simpáticas? E quem discorda da gente é feio, chato, xexelento e ignorante? Pois é, só que conviver só com essa gente bacana não nos faz evoluir muito, nem amadurece nosso processo de aprender a tomar decisões. É saudável ser confrontado com o diferente, com o aparentemente absurdo, com o contraditório. É justamente o que abre a nossa cabeça e nos faz aprender (Epíteto já dizia que “é impossível aprender aquilo que se pensa que já é sabido“).

Roger Martin, no excelente e imperdível “Integração de ideias: como usar as diferenças para potencializar resultados” apresenta uma maneira de tirar proveito de ideias conflitantes para solucionar problemas. Ele começa o livro com uma frase de F. Scott Fitzgerald que diz tudo: “o teste de uma grande inteligência é a faculdade de sustentar duas ideias opostas na mente e ainda manter a capacidade de funcionar“. Tente isso em casa, mas já vou avisando que doi, e muito.

Roger pesquisou muitos líderes e chegou à conclusão que os mais brilhantes tinham a predisposição de manter duas ideias diametralmente opostas na mente e, sem entrar em pânico ao ter que decidir entre uma alternativa e outra, eram capazes de produzir uma solução original que sintetizava o melhor das duas. Estudando bastante, ele conseguiu sistematizar o método que essas pessoas excepcionais usam intuitivamente.

Martin chamou o método de “pensamento integrador” e parte do princípio que as tomadas de decisão não precisam ser do tipo trade-off (ou isto ou aquilo). A gente sempre pode escolher isso E aquilo se souber combiná-los de uma maneira criativa e original.

Vale ressaltar que o autor argumenta que o pensamento integrador não se ensina, mas é possível desenvolver habilidades em mentes oponíveis (aquelas que não excluem alternativas) e ir aprimorando a prática de tomada de decisões até chegar à excelência.

Bom, desmontando a maneira como esses líderes destacados bolam sacadas geniais, Roger descobriu a seguinte sequência de habilidades desenvolvidas:

1) Primeiro, é preciso destacar o que ele chama de características salientes para a tomada de decisão. Isso quer dizer selecionar o que é importante em cada uma das alternativas. É claro que isso varia de pessoa para pessoa, e só a prática vai impedir que nos esqueçamos de pontos essenciais. A pergunta que se faz aqui é: “que características considero importantes?

2) Segundo, há que se considerar que essas características salientes têm relações umas com as outras, e elas podem ser multidirecionais e não-lineares. Então, é preciso identificar as relações de causa e efeito entre essas coisas, etapa que ele chama de causalidade. Aqui a pergunta é: “como dar sentido ao que observo?

3) O terceiro passo é montar uma arquitetura de informações para que a coisa toda tenha uma sequência lógica. É importante não se perder a noção do todo, enquanto se analisa as partes. Aliás, a ideia é responder à pergunta: “que tarefas executarei, e em que ordem?

4) O quarto e último passo é a resolução, a busca de soluções criativas. A pergunta é: “como saberei quando tiver terminado?

Parece complicado e é; mas muito esclarecedor e instigante. Penso só ser possível entender bem a linha de raciocínio com os exemplos detalhados que Roger apresenta no livro, como decisões estratégicas da Procter&Gamble, Red Hat Software e Four Seasons Hoteis.

Mas uma coisa fundamental mesmo nessa história toda é a pessoa conseguir separar percepção de realidade. Se ela conseguir se dar conta de o que vê é apenas parte da questão (sua percepção, seu ponto de vista) e não a realidade em si, já é meio caminho andado. É impressionante como a gente cai fácil na armadilha de achar que o que a gente vê é o que realmente é. Diferenciar percepção de realidade é a base para acolher ideias diferentes (aliás, esse é o único jeito possível, já que podemos considerar infinitas percepções, mas não infinitas realidades).

Roger Martin é um pensador brilhante e, não por acaso, também é o autor de “The design of business“, onde apresenta o hoje famoso conceito de design thinking, obra também essencial da qual falaremos outro dia.

Interessante é que li “O pensamento integrador” ao mesmo tempo de “PO: Além do sim e do não“, do Edward de Bono, dez anos mais antigo (1997), que apresenta outra maneira de eliminar decisões trade-offs (achei num sebo). Bono é o criador do conceito de pensamento lateral, e da técnica dos seis chapeus, entre outras coisas bacanas. Bom, só posso dizer que misturei tudo e minha cabeça está com o funcionamento prejudicado por causa do excesso de ideias contraditórias…

Até onde consigo ver, eliminar decisões baseadas em sim/não parece uma tendência. E vocês; acham que sim ou que não?

Ligia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

***

PS: Ah, obrigada à Denise Eler pela dica desse livro do Roger Martin que eu não conhecia. Ela indicou outro também excelente que ainda não terminei, mas conto aqui depois. Menina esperta e cheia de dicas ótimas, essa Denise (com um blog imperdível).

Você também pode gostar...

9 comentários

  1. Oi Ligia, com certeza o autor já fez vários retiros, estudou (e pratica) filosofias orientais (budismo, hinduismo) e procura o autoconhecimento.

    Muito interessante como ele leva esse conhecimento todo para a aplicação no convívio profissional. Aí está o pulo do gato dele : enquanto outros autores escrevem visando a vida familiar, afetiva, “pessoal”, ele olha o mercado de trabalho. E retira o livro da categoria da assim chamada auto ajuda.

    Boa sacada e decerto fará bastante bem aos seus leitores.
    Beijo,
    Renata

  2. Dedicio diz:

    Muito interessante mesmo, deu muita vontade de ler!

  3. […] conflitos a se resolver, mas, mais do que a criatividade, o grande talento do design thinker é o pensamento integrativo (já falamos disso antes […]

  4. […] conflitos a se resolver, mas, mais do que a criatividade, o grande talento do design thinker é o pensamento integrativo (já falamos disso antes […]

  5. […] Roger. Integração de ideias: como usar as diferenças para potencializar resultados. Rio de Janeiro: Elsevier, […]

  6. […] conflitos a se resolver, mas, mais do que a criatividade, o grande talento do design thinker é o pensamento integrativo, ou a capacidade de tomar decisões que contemplem lados aparentemente opostos da […]

  7. […] a se resolver, mas, mais do que a criatividade, o grande talento do design thinker é o pensamento integrativo (já falamos disso […]

  8. […] a se resolver, mas, mais do que a criatividade, o grande talento do design thinker é o pensamento integrativo (já falamos disso […]

  9. Pra variar, a Lígia escreve sobre um livro e a gente já sai vasculhando nos sites para comprar. Lá vou eu.

Deixe um comentário para Design thinking e design de serviços ¤ Gestão Integrada – Identidade Corporativa e Design por Lígia Fascioni Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *