Murakami colorido

Gosto muito do Haruki Murakami, em especial da maneira como ele descreve o dia-a-dia dos seus personagens num país tão exótico para mim, como é o Japão. Então, quando vi essa edição caprichadíssima num sebo em Viena (que sorte que eles também falam alemão), não resisti. Já falei e repito: sim, eu costumo julgar os livros pela capa e raramente erro. Esse não foi exceção.
O volume, em edição de bolso, é encapado com tecido, tem aquelas fitinhas para marcar página e traz uma ilustração belíssima; impossível não amar.
“Die pilgerjahre des farblosen Herrn Tazaki” (tradução livre: “O ano de peregrinação do incolor Sr. Tazaki”) é uma história simples, mas muito bem escrita. Continue reading “Murakami colorido”
Maus

Já tinha ouvido falar de Maus, de Art Spiegelman, e tinha alguma ideia do que se tratava e da relevância da obra. Mas lendo os dois volumes dessa incrível narrativa, deu para ver a importância do trabalho desse moço (que sempre achei que fosse alemão, mas é americano).
Maus, cujo primeiro volume foi publicado em 1986, é uma história em quadrinhos diferente de tudo o que eu já tinha visto. Não é à toa que revolucionou não apenas essa forma de expressão como também conseguiu emocionar um público que até então não costumava ler os livros convencionais que contam a tragédia do holocausto.
top 10 de Janeiro: frio sem neve

Nos últimos dois invernos Berlim tem sido vítima de roubo de neve; estão desviando tudo para o sul da Europa e para os Estados Unidos. O frio nem está tão intenso como era de se esperar. Tem gente que acha bacana, mas uma das coisas que adoro em morar aqui é justamente ter as quatro estações bem definidas. Quero meu inverno com tudo o que tenho direito!
Mesmo assim, as paisagens continuam belas, dá só uma olhada.
O cardume

Um bom livro de ficção científica, na minha opinião, é o que leva a sério a palavra “científica” no nome do estilo literário. Ao contrário de livros de fantasia (que também são interessantes) e esotéricos (que não gosto muito), esses levam em consideração e com muita seriedade as leis da física, química e biologia na construção da história.
Nesse aspecto, Der Schwarm (“O Cardume”, em tradução livre), de Frank Schätzing, é indefectível. Só imagino o tanto de pesquisa que foi necessária para escrever as quase mil páginas (com letras miudinhas…rs).
Berlim Tech Talks

O que o Eduardo Otubo, o Cláudio Villar e eu temos em comum? Moramos em Berlim e adoramos conversar sobre tecnologia e inovação. Daí que resolvemos nos unir para criar o Berlim Tech Talks, um canal com um programa semanal de no máximo 15 minutos para falar sobre esse e outros temas. Já temos vários programas gravados falando sobre os mais diversos assuntos: inteligência artificial, bitcoins, mercado de trabalho em Berlim, revolução 4.0, ficção científica e muito mais.
Aqui um vídeo para você conhecer melhor a gente. Vai lá no canal e assina para não perder nada!
Quando a ciência e a imaginação se juntam para criar produtos

Uma das novidades que tenho para esse ano é o canal no Youtube Berlim Tech Talks; programetes de 10 minutos em que o Cláudio Villar, o Eduardo Otubo e eu conversamos despretensiosamente sobre inovação e tecnologia (aguardem; o lançamento está próximo!). Fizemos um grupo no Whatsapp para discutir as pautas e o Cláudio enviou esse ótimo artigo do Brian Merchant falando sobre como a Nike e a Boeing estão contratando escritores de ficção científica para predizer o futuro e ajudar no desenvolvimento de novos produtos (leia aqui na íntegra). O artigo é sensacional e, lá pelas tantas, Merchant cita o livro Science Fiction Prototyping: Designing the Future with Science Fiction, de Brian Davis Johnson, como uma referência de método para aplicar nas empresas com resultados práticos. É claro que não contei tempo e comprei logo o livro.
Brian é futurista da Intel; usando pesquisas em tecnologia, estudos etnográficos, análises de tendências e literatura de ficção científica, o trabalho dele é imaginar como será o futuro nas próximas décadas para que a empresa possa se preparar tanto para as oportunidades como também para as ameaças que esse futuro pode trazer.
Mas peraí: como é que a ficção científica pode ajudar, de fato uma empresa a se preparar para o futuro e até desenvolver novos produtos?
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Dar e receber

Eu já tinha gostado muito do Adam Grant em “The originals”; mesmo assim fiquei surpresa com a variedade e profundidade de temas que ele aborda.
Give and Take não é revolucionário, mas é daqueles livros ótimos que organizam as informações que já temos e confirma aquilo que suspeitávamos, mas apoiados em estudos bem sérios.
Como psicólogo comportamental e professor da universidade de Wharton, Grant estudou o processo de tomada de decisão nas empresas e a questão da reciprocidade. Ele descobriu que há três tipos de pessoas: os takers (a tradução seria tomadores ou pegadores, mas acho tão ruim que vou optar por usar o termo original), os givers (doadores) e os matchers (de novo uma tradução infeliz; seria algo como aqueles que tentam equilibrar ou fazer um compromisso entre o que dão e recebem).
Os takers são aquelas pessoas que querem levar vantagem em tudo; aproximam-se dos outros com a expectativa do que podem ganhar com isso. Estão sempre buscando oportunidades de ganhar alguma coisa. A marca registrada dos takers é o lucro nas relações, ou seja, receber sempre mais do que se investe.
Os givers são aquelas pessoas para quem a gente sempre pede ajuda quando precisa. Givers estão sempre dispostos a dar uma mão, mesmo que não recebam nada em troca. Mas outra coisa interessante é que para eles, também é natural pedir e aceitar ajuda. Givers colaboram como que por instinto e sentem prazer nisso.
Os matchers são aquelas pessoas que estão sempre tentando retribuir os favores na mesma medida em que receberam. Estão sempre calculando uma forma de serem justos e equilibrar o que dão e o que tomam como retorno.
Bem, em anos de pesquisas aplicadas em escolas, universidades e empresas, há um grupo que é sempre o mais mal-sucedido, o que tem desempenho pior, o que não consegue muito sucesso profissional. Qual você acha que é?
Um crime diferente

Eu já tinha gostado do Ferdinand von Schirach desde “O caso Collini“. Então, quando vi Tabu numa feirinha de livros usados, não titubeei e trouxe logo o livro para casa. Não me arrependi.
O moço tem um jeito todo especial de contar histórias e esse foi o policial mais estranho que já li. Até a metade do livro, é um romance; conta a história de um homem desde sua infância difícil numa cidadezinha no interior da Alemanha, perto da fronteira com a Áustria. Seu pai era um homem complicado, que se suicidou dando um tiro na cabeça; ele foi a primeira pessoa a encontrar o corpo, ainda na pré-adolescência. Passou o tempo, a mãe vendeu a casa, casou-se novamente, os dois se separaram para nunca mais se ver. Ele virou um fotógrafo de sucesso e depois um artista visual. Conhece uma mulher misteriosa em Roma, em uma de suas exibições. Ela diz que quer trabalhar como sua assistente. Ele tem uma crise existencial logo em seguida, e se separa de sua namorada.
Aí acontece um lapso de tempo de onze meses e ele aparece preso. Uma mulher misteriosa liga para a polícia pedindo ajuda porque está sendo sequestrada. As investigações o levam a um quarto cheio de fotos e instrumentos sadomasoquistas, além da foto de uma moça. Sob tortura, ele confessa que a matou, mas ninguém acha o corpo. Ele não fala mais nada, mas pede a defesa de um dos melhores advogados que existem (um personagem interessantíssimo).
Descobrem que o sangue encontrado na casa dele é de sua irmã ilegítima por parte de pai. Daí para frente, nada mais faz sentido. Na verdade, faz.
Muita criatividade. Recomendo.
Top 10 de novembro: mezzo Viena, mezzo Berlim

No começo de novembro tive a sorte de passar uns dias em Viena por conta do trabalho (uma feira técnica). Foi uma festa para os olhos, mas Berlim no outono não fica atrás em termos de luz mais que especial. Vamos às fotos?
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Como criar uma mente

Como é que eu nunca tinha ouvido falar em Ray Kurzweil? O sujeito é um dos cérebros vivos mais extraordinários que se tem notícia. Essa mente brilhante teve a sorte de nascer em New York, numa família que incentivou muito seu desenvolvimento. Seu pai, um respeitado músico e maestro, e sua mãe, uma artista visual, eram judeus austríacos que foram para os EUA fugindo da guerra. Ray decidiu que queria ser inventor aos 5 anos; aos 14, ele escreveu um artigo explicando detalhadamente sua teoria sobre o funcionamento do neocortex. Seu tio, um engenheiro da Bell Labs, ensinou-lhe os princípios da computação, lá pelos idos de 1963, quando ele escreveu seu primeiro programa, aos 15 anos. Graduado em computação e literatura, o moço também é profundo conhecedor de música.
O sujeito produz tanto e em tantas áreas diferentes que nem consigo acompanhar: ele tem trabalhos em reconhecimento ótico de caracteres, nanotecnologia, robótica, reconhecimento de fala, inteligência artificial, neurociência, futurismo, transhumanismo, sintetizadores de instrumentos musicais, softwares para investimentos; ganhou prêmios diversos, escreveu vários livros, foi co-produtor de um documentário, e hoje trabalha em tempo integral para a Google.
Acabei conhecendo o trabalho dele por sugestão da Amazon, que, durante minhas pesquisas, indicou “How to Create a Mind: The Secret of Human Thought Revealed”. O algoritmo até que funciona bem direitinho; adorei o livro. Na verdade, é bem mais técnico do que eu esperava, mas ainda assim vale muito.
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