É uma pena que muita gente (e muitas empresas) ainda não tenham entendido que o dia internacional da mulher não é para as moças ficarem se autocongratulando por terem nascido mulheres nem ficar felizes por receber rosas murchas pelas ruas. É um dia de muita reflexão, para que todo mundo pense a respeito sobre o que pode ser feito para que as diferenças entre os gêneros, que infelizmente continuam enormes, possam ser minimizadas, e que finalmente cheguemos ao mais alto estágio civilizatório, que é o da igualdade.
Para quem pensa que isso não é necessário e que já evoluímos bastante (uma parte conseguiu andar um pouco pra frente sim, mas ainda falta muito), basta lembrar que enquanto você lê esse texto, mulheres de todas as idades continuam a apanhar, ser estupradas, ter seus hímens retirados a sangue frio e ser apedrejadas até a morte sem dó nem piedade, só porque nasceram mulheres. Nem vou comentar o salário menor, os problemas de autoestima porque não conseguem se adequar a um modelo idealizado por outros ou as condições de trabalho.
Em vez de ficar aqui repetindo o quanto somos maravilhosas (sei que vou ser muito xingada por isso, mas se estamos falando de seres humanos iguais, nascer com uma vagina não torna a pessoa automaticamente maravilhosa; só a torna mais vulnerável, e é disso que temos que tratar), vamos ao que interessa: o que podemos fazer para que todas tenham chance de se desenvolver e ser respeitadas, que possam contribuir para que o mundo seja um lugar melhor para se viver.
Daí que resolvi trazer um exemplo sensacional que existe aqui em Berlim. Chama-se Shokofabrik e é uma cooperativa feminina.
O lugar tem esse nome porque a edificação onde a cooperativa está instalada funcionou como fábrica de chocolate entre 1888 e 1968. O prédio foi ocupado pelo movimento feminista e de lésbicas em 1981 e, desde então, tem feito um trabalho fantástico.
Como está instalado no bairro de Kreuzberg, onde uma parte significativa dos moradores é turco, a organização foi fundada, num primeiro momento, com foco nas mulheres dessa nacionalidade, que sofrem até hoje por causa do machismo de sua cultura.
Como é uma cooperativa, boa parte dos trabalhos é voluntário, mas trabalha-se também para que a renda revertida consiga sustentar os cursos, oficinas, consultorias e serviços ali oferecidos. Há cursos profissionalizantes, de línguas, de integração na cultura alemã, de empreendedorismo, de defesa pessoal; há uma creche que abriga atualmente 23 crianças de 1 a 6 anos de idade; há uma oficina para as mulheres que queiram construir seus próprios móveis; há diversas atividades físicas; há um café e até um serviço que vou testar em breve: o banho turco, uma antiga tradição chamada Hamam.
A casa tem 13 mil m² distribuídos em 6 andares e é um desses empreendimentos que mudam a história de pessoas para sempre. Essas mulheres construíram um lugar de referência e proteção para suas irmãs e estão de fato transformando para melhor o mundo em que vivem.
Penso que são iniciativas assim que merecem nossa atenção e reflexão no dia de hoje. O que cada um de nós, homens e mulheres, pode fazer para tornar o mundo um lugar mais justo e igual?
Para quem quiser saber mais, recomendo uma visita ao site Shokofabrik. Além de turco e alemão, está disponível também em inglês.
Tania Ziert baião
Obrigada Lígia! Era o que eu precisava ler hoje.