Há alguns meses rolou um evento na Embaixada do Brasil aqui em Berlim para promover a arte brasileira. Teve performance, música da boa e pintura — tudo muito belo e inspirador. O trabalho, capitaneado pelo grupo Cena Berlim, faz a gente realmente ter orgulho da terrinha.
Pois na abertura, a performance da atriz Júlia Portes e do sound designer Frederico Santiago me impressionou muito; pelo talento, pela força, pelo realismo. E eis que a Júlia estava lançando também seu primeiro romance, “O céu no meio da cara”. É claro que lá fui eu para a fila dos autógrafos.
O livro é pequeno no tamanho, pouco mais de 80 páginas, ideal para carregar na bolsa ou dar de presente. A obra foi, merecidamente, na minha opinião, finalista do prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira.
A Júlia consegue ser visceral e poética ao mesmo tempo (o trabalho de atriz deve ter ajudado).
Bom, mas vamos à história, que começa com Laura, que é necromaquiadora, peparando o cadáver de sua própria mãe. Ela faz isso com concentração e capricho, até para se distrair do que realmente está acontecendo.
Laura se lembra pouco da relação com a mãe; a conexão maior é com a avó, Carmelita, que ainda vive e é a protagonista da história.
Carmelita vem de uma minúscula cidade mineira chamada Manduim onde o pai tinha uma ótica chamada Miragem (a única do vilarejo). A mãe de Carmelita morreu cedo e ela tinha muitos irmãos e irmãs — a avó conta sempre para a neta as histórias da sua infância, suas aventuras, experiências. Quando sua irmã preferida morreu, deixando-a sozinha no mundo, quando ela fugiu com uma troupe levando sua máquina de costura que fazia palhaços.
Quando se descobriu grávida de um namorado que ela não queria mais, quando foi tentar a vida sozinha na capital. Quando pariu uma filha que acabou virando sua mãe. E quando essa filha pariu a Laura, sua amiga e confidente.
A relação entre a avó e a neta numa família de mulheres sobreviventes é às vezes dura, às vezes suave, mas sempre cheia de cumplicidade e sem julgamentos.
Uma história bonita para se levar na bolsa para o caso de emergência. Nesse mundo, do que jeito que anda, a gente nunca sabe quando vai precisar.
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