Quando vi “Blaue Reiter vor Verdun” (Cavaleiro azul antes de Verdun), numa edição própria de Roland Künzel de 2015, num mercado de pulgas, não titubeei; levei o livro para casa.
Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul) é o nome do movimento artístico alemão nascido em Munique pouco antes da I Guerra Mundial. Verdun foi a batalha mais sangrenta dessa Guerra, que durou quase um ano e deixou cerca de 300 mil mortos (metade alemães e metade franceses; as referências que encontrei variam e há estimativas atualizadas de até 600 mil mortes).
Era começo do século XX e a arte estava passando por profundas transformações. Apesar do Der Blaue Reiter ter sido liderado pelo pintor russo Kandinsky, o livro conta a história do ponto de vista de August Macke, um dos principais integrantes.
Macke morava em Bonn e, com sua esposa, Lizbeth, resolveu passar as férias numa casa de campo para se inspirar. Foi num dos passeios que conheceu Franz Marc, que adorava pintar animais. Os dois casais imediatamente se entenderam; é engraçado ver a empolgação de August contando para a esposa que Franz propôs que se tratassem por “du”, o tratamento informal alemão; normalmente, pessoas que não são muito íntimas se tratam por Sie (o equivalente ao sr. ou sra.). Imagine, eles tinham 20 e poucos anos!
Depois o grupo conheceu Kandinsky e sua mulher (a ex-aluna e também pintora Gabriele Münter) e, finalmente, Paul Klee (que era suíço, mas de pai alemão).
O livro é um pouco burocrático no estilo e não empolga, mas descreve as viagens, a vontade do grupo de jovens artistas de desafiar as regras da Academia de Arte e o suporte, principalmente financeiro, que um tio afastado de Macke dá a ele (tio Bernhard morava em Berlim e era um rico colecionador de arte), inclusive financiando a impressão do que eles chamavam de almanaque, uma espécie de revista apresentando os trabalhos dos artistas que integravam o movimento.
Outros pintores, como Dellaunay e Jawlensky são citados nas inúmeras visitas mútuas e noitadas animadas. O autor também fala da grande viagem de Macke, Klee e Louis Moilliet a Túnis, na Tunísia, onde se deslumbraram com a luz e as cores do exótico continente africano.
Pena que logo depois dessa grande aventura, estourou a Guerra. Os russos como Kandinsky e Jawlensky tiveram que deixar a Alemanha; Macke e Franz foram convocados pelo exército, onde perderam suas vidas na famosa batalha. Klee também serviu, mas conseguiu sobreviver; ainda voltou à Alemanha para trabalhar com Kandinsky na fundação da escola de design Bauhaus, em Weimar.
O engraçado é que ontem, visitando novamente um mercado de pulgas (faço isso todo final de semana), achei outro livro sobre o tema, dessa vez, ilustrado. Aí um volume complementou o outro com reproduções coloridas.
O fauvismo, expressionismo e movimentos artísticos com traços menos exatos e próximos da abstração não são meus preferidos; dos artistas citados, meu favorito é Paul Klee (seus traços finos sobre aquarela me encantam), mas também gosto de como Kandisnky usa as cores. Um artista cuja obra não conhecia até ver o livro ilustrado é Alexej Jawlensky; esse, realmente me impressionou.
Acho difícil que um romance tão recente e com edição do autor esteja disponível em português (ou mesmo inglês); mas com certeza a bibliografia do movimento é ampla. Olha, penso que vale a pena dar uma olhada; a história é bem interessante.
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