Filha, mãe, avó e puta

gabi_filha-mae-avo-putaApesar de nunca ter conhecido pessoalmente uma prostituta (quer dizer, talvez já tenha conhecido sem saber), acho essa uma profissão como qualquer outra. Penso que não teria nenhum problema em ter uma amiga prostituta, até porque ela me contaria histórias incríveis do universo paralelo onde vive.

Conversando a esse respeito com meu amigo Flávio, de BH, ele me deu de presente o livro “Filha, mãe, avó e puta“, da Gabriela Leite, fundadora da ONG Davida e da grife Daspu. O Flávio teve o privilégio de conhecê-la e conversar longamente com ela; ficou encantado. E eu fiquei encantada com o presente, viu, Flávio?

A história da Gabriela é inpressionante: ela chegou a estudar filosofia na USP, mas depois resolveu que queria mesmo era se prostituir, e, apesar dos reveses da profissão, não se arrepende de quase nada e se considera realizada. Hoje ela está casada com um jornalista e não atende mais clientes; seu tempo integral é ocupado com a ONG, onde tenta melhorar as condições de vida das prostitutas. Muitas não têm as mínimas condições de higiene, saúde ou segurança e há vários casos de violência (principalmente por parte da polícia) e até escravidão.

Penso que o principal diferencial da Gabriela, além da organização política, é que ela foge do estigma de vítima. Sobre isso, ela escreve:

O mundo não é feito de vítimas. Todo mundo negocia. Alguns negociam bem, outros mal. Mas cada um sabe, o mínimo que seja, quanto vale aquilo que quer. E sabe até onde vai para conseguir o que quer. Com a prostituta não é diferente.

E tem um outro trecho que achei muito revelador:

Na Grécia, as mulheres não eram nada porque os homens adoravam transar entre si. Mas existiam mulheres respeitadíssimas, que eram as prostitutas. Elas eram preparadas intelectualmente para conviver com os homens. Sabiam filosofia, artes, ciências. Elas tinham uma entrada na sociedade que as outras mulheres não tinham.

Mais ou menos como alguns tipos de gueixa (as oiran). Eu jamais seria prostituta, mas também não seria enfermeira nem caixa de banco, entre outras profissões muito respeitáveis. E não acho que haja alguma coisa errada com nenhuma dessas profissões, é apenas opção pessoal; acredito que não tenha o perfil.

Mas penso que, quando alguém escolhe uma maneira de ganhar a vida entregando valor para os outros, contribuindo de alguma maneira para que a sociedade seja um lugar melhor para se viver, deve ser respeitado no seu direito de trabalhar com dignidade. É o mínimo.

2 Responses

  1. Usha Velasco
    Responder
    15 dezembro 2010 at 7:57 pm

    Uma vez vi uma camiseta da Daspu que eu queria ter. Era só uma frase: “Somos más. Podemos ser piores.” Adorei!!!

  2. Fatima
    Responder
    23 outubro 2011 at 12:27 am

    É pra minha cabeça um tanto paradoxal tal profissão mas é inegável a beleza do projeto que esta mulher inventou. A palavra Daspu parece fácil mas (re) inventada e lançada como marca é fantástico né? Outro dia vi no You Tube a entrevista da Bruna surfistinha com a Marilia Gabriela. Achei a criatura com uma noção bem clara acerca do universo onde ela mergulhou. Gabriela Leite /Daspu e Bruna Surfistinha têm muito pra dizer e é importante ouvi-las. Fatima/Laguna. P.S.: Por falar em entrevista também gostei muito do que disse a Sandy na Playboy. As mulheres estão pensando e dizendo o que pensam.
    Votei na Dilma e torço para que uma mulher consiga virar o jogo! Mais educação, mais dignidade, menos violência e corrupção. Tomara, meu Deus!

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