Batina, próclise e esclerosar

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Mais um contículo que nasceu de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário. Vamolá!

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Creusa olhou desanimada para o espelho. Estava gorda como uma baleia. O vestido até parecia a batina daquele frei redondinho que fazia o meio de campo entre Romeu e Julieta. Horror. Precisava desesperadamente fazer alguma coisa. Não adiantava pedir conselho para a Bartira; essa, então, quando usava cinto, parecia mais um colchão enroladinho amarrado com uma corda. Mas era sua melhor amiga e entendia bem seu drama; então, o jeito foi desabafar.

– Colega, precisamos fazer alguma coisa. A festa da Babete é na semana que vem e se continuar nesse shape, a gente não vai pegar ninguém. Cê tá sabendo de alguma dieta nova, por acaso?

– Claro, Crê, tô sempre por dentro das calorias das famosas. Agora tem a dieta da Próclise, última moda em Hollywood.

– É? E nessa aí, o que a gente come?

– O bom é que não importa o que a gente come. O que importa é o que você faz antes.

– Como assim?

– Ué! Próclise é quando o pronome vai antes do verbo. Então, tem que ver o que você faz antes de comer, sacou?

– Mais ou menos, dá um exemplo…

– Se você tiver que ler uma página inteira de revista antes de dar uma garfada, já está valendo. Se der três voltas em torno da mesa antes de cada mordida, também. Vale qualquer coisa, mas tem que gastar pelo menos 2 minutos na tarefa. Assim, quando você termina de almoçar, já está na hora de jantar. Você passa o tempo todo comendo e não passa fome. A gente vai ficar fininha, fininha, amiga…

– Uau, não tem como dar errado. Acho que aquela princesa está tão magrinha por causa dessa dieta. Ela tem cara que retoca o delineador e dá umas 10 escovadas no cabelo antes de cada garfada. Assim, dá para comer até feijoada, né, nega?

– Vamos começar agora, então. Bora testar com as batatinhas fritas do Bar do Clodô. A gente faz assim: eu conto uma fofoca antes de comer uma batata e você conta outra. Vamos ver o quanto a gente emagrece.

– Tá bom, colega, mas vamos devagar, tá? Sei não, com tanta maravilha nessa dieta, tenho medo de esclerosar

Bibliografia, compungido e rágade

Antenor estava mesmo de mau-humor. Trabalhava o dia inteiro e ainda tinha que aturar a Silvinha, professora chata que ficava insistindo para ele ler aquela pilha de livros mais chatos ainda que ela chamava carinhosamente de bibliografia, arma letal para a paz de espírito de alunos desesperados.

Desolado, perdigoto e deserto

Mais um contículo criado a partir de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário.
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Turíbio olhou em volta e tudo o que conseguiu ver foi areia. Muita areia. Caminhões, trens, transatlânticos de areia e mais sobra suficiente para fazer uns 12 concursos internacionais de esculturas de praia. Mas de onde é que vinha tanto grãozinho, ó senhor? Precisava mesmo de tudo isso? Ele olhava para aquele cenário desolado e não acreditava como tinha ido parar lá.

Conjugal, frear e grandeza

Mais um contículo construído a partir de 3 palavras colhidas aleatoriamente no dicionário. Vamos lá.

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A mania da Bernadete de fingir que ia participar do casamento real já estava irritando o Gláucio e acabando com a paz conjugal. Onde já se viu? A louca gastou todas as economias para encomendar um vestido de rica e descobriu até um sujeito, lá em Beijo das Freiras, nos confins de Pernambuco, que fazia chapeus forrados de seda. Deu para grudar na televisão e fazer planos sobre o tal dia. Parecia que a doidivanas vivia numa realidade paralela; agora só falava em esmalte de unha. Nem a noiva devia estar assim tão envolvida em preparativos nesse nível de detalhe…

Contículo das cavernas

Tinha me esquecido de seguir os conselhos do mestre Edgar Allan Poe para exercitar a criatividade e o storytelling. É só abrir o dicionário aleatoriamente por 3 vezes e pegar a primeira palavra que aparece em cada vez. Depois, é só montar uma historinha. Para mim vieram dinossauro, infestado e pagar. Vamos lá.

Ócio, demanda e comichão

Feriadão, João Roberto está no canto da cozinha totalmente tomado pelo tédio, transpirando ócio até pela sola dos pés. Eis que entra Eneida porta adentro, esbaforida: — Levanta, nêgo. Assaltaram a casa da vizinha! — Não demanda, minha flor. Se assaltaram já a casa da vizinha, a nossa está fora de perigo. O ladrão não […]