E lá estava eu novamente no mercado de pulgas procurando coisas legais para ler.
O primeiro a me seduzir foi “Amsterdam: ein Meisterdieb jagt seinen Schatten” (algo como “Amsterdam: um mestre do crime caça sua sombra“), de Chris Ewan. A quarta capa era matadora, pois falava de um escritor de romances policiais que era um ladrão de verdade, desses que só roubam por encomenda.
Charlie Horward, o tal escritor, é britânico e escolhe cidades do mundo para escrever seus romances de sucesso. Nas horas vagas, rouba umas coisinhas. Em Amsterdam, onde está há alguns meses, recebe uma encomenda de um americano para roubar dois objetos pequenos (dois do conjunto daqueles macaquinhos clássicos: não vejo, não ouço, não falo). As coisas dão errado, é claro, e ele se mete numa encrenca das grandes. Tem mulher fatal, tem comissário de polícia; todos os personagens esperados para a trama. Pena que não consegui me empolgar. Já passava da metade do livro quando descobri o porquê: absoluta falta de carisma do protagonista. O sujeito é rico, tem oportunidade de viver nas cidades mais interessantes do mundo e é um baita chato. A vida dele é um tédio. A história de sua infância (quando começou a desenvolver técnicas sofisticadas de arrombamento) é de dar sono. Como alguém pega ingredientes tão bacanas e esquece logo do sal e da pimenta?
Pois é, aí fui para o “Fragen Sie den Papagei” (pergunte ao papagaio), de Richard Stark. Outra história bacana, mas com um protagonista pobre. A história começa com um sujeito, chamado Parker, fugindo de um assalto. Em plena perseguição em uma floresta próxima a uma cidade pequena, um homem estranho lhe oferece ajuda. É um ex-funcionário de um clube de apostas de cavalos de corrida chamado Lindahls, que, tendo descoberto uma fraude no sistema, denuncia o caso para a polícia e perde o emprego, sem que nada mude. Amargurado, planeja um assalto ao caixa do clube, mas é honesto por natureza, não consegue fazê-lo. Por isso, pede ajuda ao foragido, certamente mais experiente.
Parker é um psicopata dos mais frios. Aliás, ele age como um robô, tamanha a frieza. Não dá para se identificar de maneira nenhuma; é tão prático e focado que se torna outro chato com uma vida desinteressante, só não mais sonolenta que a vidinha de desempregado de cidade do interior que Lindahls leva (sendo que ele guarda um papagaio em uma gaiola dentro de casa e nem desconfia porque o pobre do bicho não fala, o que me fez ter mais raiva dele)…
Agora, que pretendo contar uma história também, tenho prestado mais atenção nessas questões. Mas meu romance vai demorar mais do que o planejado, pois o volume de trabalho está demais e não estou conseguindo tempo para escrever. Bom, pelo menos, a lição de casa estou fazendo; juro que vou me esforçar para não construir personagens chatos…rs
Francine Guilen
Putz, Ligia, eu ando reparando nisso, e parece que é coisa de autor moderno: os protagonistas são chatos. Não é nem que são neutros, são chatos, mesmo. Ou sabem de tudo, são senhores da razão e todos os outros personagens são idiotas, ou são tediosos, descolados, cuspindo lugares comuns. Não crescem, não evoluem. Também estou nessas de escrever uma história, tentando deixar o protagonista senão LEGAL, pelo menos interessante e real. Continuo sendo fã do teu blog. 🙂
ligiafascioni
Desafio bem complicado, né? Aguardemos sua história 🙂