Beautility

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A coluna dessa semana trata das idéias de um designer muito famoso, mas que eu não conhecia. Tucker Viemeister tem opiniões muito interessantes a respeito da beleza. Quer conhecer algumas?

A beleza das pirâmides

12-03-2008 Se tem um lugar que eu adoro ir é em biblioteca. O último tempinho que pude passar em uma rendeu descobertas muito legais. Folheando a revista D2B, da GAD Branding & Design, fui apresentada ao célebre (mas desconhecido para mim) designer Tucker Viemeister, dono de muitos prêmios e de uma mente cheia de idéias originais. Chegando em casa, fui saber mais sobre a fera e descobri um ensaio chamado “Beautility” publicado no livro Citizen Designer. O cara consegue desmontar e recriar a famosa Pirâmide de Maslow em apenas 3 páginas!

Vamos do começo, então. Tucker diz que as pessoas têm vergonha de assumir que a beleza é um valor importante na vida delas, pois a harmonia visual é freqüentemente associada à futilidade, à luxúria, ao supérfluo. A gente sabe, como bem traduz a música “Beleza fácil” da Zélia Duncan, que o mundo trata melhor o que é belo, mas ninguém (a não ser os frívolos, os levianos, e é claro, a Zélia) é capaz de admitir o fato.

Pois Tucker resolveu cutucar a hipocrisia. Beleza é útil sim senhor, beleza tem função. Ela nos faz sentir melhores, tem um propósito prático nas nossas vidas. Viver em contato com a beleza nos estimula intelectualmente, emocionalmente e sensorialmente; é uma experiência multimidiática! Viemeister cunhou o termo beautility (não encontrei uma palavra para traduzir isso que me satisfizesse – belezutilidade é feia que dói, uma verdadeira contradição). Segundo o moço, o neologismo representa a convergência entre a ética e a estética; entre a beleza e a utilidade.

Não bastasse admitir o inadmissível, ele ainda tem a petulância de contestar Maslow, o psicólogo que, em 1943, construiu a pirâmide de hierarquia das necessidades humanas que até hoje serve de fundamento para o marketing (adoro gente petulante!). Maslow diz que a base da figura é formada pelas necessidades fisiológicas básicas para a sobrevivência (respirar, comer, beber, dormir). Satisfeitas essas, logo acima está a necessidade de segurança (um abrigo, um emprego, uma casa, saúde). Conseguimos tudo isso? Então vamos em busca de amor e dos relacionamentos (amizades, família, intimidade). O próximo passo é a necessidade de ser estimado (fazer parte de um grupo, merecer o respeito dos outros, gozar de confiança e auto-estima). Só depois de galgar esses degraus é que se chega ao topo da pirâmide, que é a necessidade de realização pessoal (criatividade, sabedoria, transcendência).

Tucker apresenta a sua própria versão da hierarquia das necessidades, onde a base continua sendo a sobrevivência, mas o próximo nível é representado pela diversão, a busca do lúdico. Satisfeitas essas necessidades, parte-se para a busca da paz e, no topo da pirâmide está a beleza. É que, para o designer, o nirvana não é apenas espiritual, mas também físico e intelectual. E a beleza preenche bem esses requisitos, pois é a conexão entre as grandes idéias e as mais ricas experiências sensoriais – é o supremo objetivo da vida. Ver, sentir, contemplar e desfrutar da beleza é a absorção do ser pelo espírito do universo, é a própria beatitude.

No fundo, acho as duas pirâmides muito parecidas, penso ser mais uma questão de abordagem e interpretação do que de essência. Mas confesso que prefiro a segunda. Vocês não acham que ela é inegavelmente mais poética, mais inspiradora, mais sublime? E, porque não dizer, muito mais bela?

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

5 Responses

  1. 13 março 2008 at 3:17 am

    lígia… quando é que vc vai ir lá no http://www.design.com.br comentar as matérias ou ser colunista?

  2. Igor
    Responder
    22 março 2008 at 9:43 pm

    Muito interessante a sua coluna.

    Tenho uma outra traducão para beautility, é um pouco menos feia: belutilidade.

    Até a vista!

  3. 14 abril 2008 at 11:14 pm

    Este é o maior dos cínicos superficialistas: aquele que fundamenta sua futilidade.

    Acho que o nome do termo deveria ser “belutilidade” – a utilidade do belo.

  4. 14 abril 2008 at 11:14 pm

    Ah, sim, não havia lido o comentário do Igor. Parece que estamos na mesma ;D

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