A analfabeta que sabia fazer contas

A imagem mostra uma parte da capa do livro "Die Analphabetin, die rechnen konnte", de Jonas Jonasson.

Quando vi “Die Analphabetin, die rechnen konnte” (tradução livre: “A analfabeta que sabia fazer contas“), de Jonas Jonasson, é claro que fiquei empolgada, pois tinha adorado a história do homem de cem anos que pulou a janela e desapareceu, do mesmo autor.

Nombeko é uma menina inteligentíssima nascida no maior distrito negro da África do Sul, Soweto (abreviatura de South Western Townships ou Distrito Sudoeste), na periferia de Johannesburg, durante o período do Apartheid. Ela começou a se virar aos cinco anos de idade limpando latrinas; por causa de sua aptidão com os números e incrível talento administrativo, conseguiu um lugar no escritório aos doze. Como não teve oportunidade de frequentar a escola, não sabia ler, mas conheceu um senhor que morava numa barraca próxima que lhe apresentou o alfabeto e alguns livros. O tal senhor tinha alguns diamantes escondidos, roubados há muitos anos, e, quando foi assassinado por uma gangue de mulheres, Nombeko, que desconfiava onde os diamantes estavam, encontrou-os e resolveu sair do gueto para o mundo. Tinha apenas 15 anos e seu sonho era visitar a Biblioteca Nacional em Pretoria para ler todos os livros que estavam lá.

Assim que chegou a Johannesburg, ainda confusa com tantas coisas diferentes, foi atropelada na calçada por um motorista bêbado. Ocorre que o motorista era branco, e ainda por cima um engenheiro responsável pela construção de bombas atômicas na África do Sul. Num julgamento rapidíssimo, ela foi condenada a pagar o estrago do carro; como não tinha dinheiro (e não podia apresentar os diamantes), a pena foi substituída pela  prestação de serviços por sete anos ao tal engenheiro. Ficou por mais de dez anos encarcerada no centro de desenvolvimento de segurança máxima, onde a bomba estava sendo desenvolvida. Lá conheceu outras três chinesas que tinham sido escravizadas na mesma situação. Aprendeu chinês, deu pitacos no desenvolvimento da bomba e armou uma trama complicada com espiões israelenses para fugir e buscar asilo político na Suécia.

Em terras nórdicas conhece um par de gêmeos idênticos com uma história pra lá de bizarra, além de uma moça revoltadíssima cuja principal ocupação era participar de protestos. As coisas vão se complicando e a sucessão de confusões faz inveja a qualquer filme de aventura da Sessão da Tarde.

Aliás, na minha opinião, esse é o principal problema do livro. Depois de ler o primeiro, há que se identificar o padrão do autor. Personagens extremamente inteligentes, com capacidades incríveis, totalmente amorais e com um talento especial para se conectar a gente excêntrica e se colocar em situações complicadas. Sim, o roteiro é muito, mas muito criativo, mas quase sempre o leitor experiente consegue inferir o que vai acontecer. O autor pesa a mão em algumas situações (para não dizer todas), o que faz ficar divertido, mas também um pouco cansativo.

A parte interessante é que o pano de fundo das histórias sempre traz o contexto histórico e político real ao longo das décadas em que a trama se desenrola; e sim, a África do Sul chegou a desenvolver uma bomba atômica (nem desconfiava de uma coisa dessas).

Balanço final: o livro é divertido e engenhoso. Mas se sair um terceiro, não sei se vou ler.

1 Response

  1. Nana
    Responder
    17 dezembro 2016 at 8:48 am

    Não conhecia esse livro, valeu a dica!

    Bj e fk c Deus
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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