Meu faro não engana. Devia ter prestado mais atenção na minha intuição, mas resolvi ignorar todos os sinais.
Meus principais critérios para escolher livros quase sempre dão certo: capa (sim, sou dessas), título, autor, editora, resenha na quarta capa, nessa ordem. Por que a capa é mais importante?
Minha teoria (que poucas vezes me deixa na mão): se a capa é boa, significa que o designer leu o livro, gostou e se esforçou por comunicar a ideia. A editora investiu num bom profissional para fazer isso e a obra passou pelo crivo de gente competente no seu ofício.
O título também precisa ser interessante. Se já conheço e gosto do autor, ponto. Se a editora produz coisas bacanas que já li, mais um ponto. O texto da quarta capa tira a dúvida final que me faz levar o volume para casa ou não.
No caso de “The origins of creativity” (Tradução livre: “As origens da criatividade”), a capa era horrorosa. Uma bola vermelho-tomate sobre um fundo azul royal com um degradê que mais parecia falha de impressão. Detestei. Também nunca tinha ouvido falar do autor, Edward O. Wilson. Mas o título era muito sedutor e a editora era a Penguin Books, que geralmente tem coisas ótimas. Levei.
Minha impressão: o livro não é ruim, o problema é que o título está errado. Ele fala sobre muitas coisas interessantes, mas não entrega o prometido: as origens da criatividade (pelo menos não apresenta nenhum fato novo que eu já não tenha lido em outros lugares).
Wilson é um biólogo apaixonado que gasta páginas e páginas falando como é maravilhoso ter escolhido essa profissão; conta suas aventuras em expedições, lembra de trechos de poemas e obras de arte que ele adora, apresenta considerações sobre a necessidade das ciências exatas e humanas trabalharem juntas em prol de um mundo melhor e mais equilibrado. Enfim. O livro não teria nada de errado se fosse intitulado “Cartas a um jovem biólogo”. Eu não teria comprado e estaria tudo certo. O problema não é o livro, mas a expectativa que o título gerou.
E o pior: na capa tem uma frase do famoso economista Jeffrey Sachs que diz que o autor é o grande sucessor de Darwin.
Poxa, Penguin!
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NOTA: mais um vez ressalto que o livro não é ruim, de maneira alguma. Eu é que não encontrei o que estava procurando quando o levei para casa.
Paulo Almeida
Nada mais frustrante que um livro não entregar o prometido. Nosso tempo é tão concorrido, ler um livro é um esforço maratônico diante das dispersões eletrônicas de hoje. E a gente insiste no erro indo até o final acahando que num determinado ponto estará o calderão carregado de metais preciosos … kkkkk
ligiafascioni
Hahahahahah… exatamente!