Extremamente alto; incrivelmente perto

Finalmente acabei de ler “Extremely loud & incredibly close“, do Jonathan Safran Foer. Que o autor é um sujeito extremamente inspirado e sensível, eu já tinha adiantado aqui, com uma amostra de frases brilhantes.

Mas agora, além disso tudo, também reparei outra coisa que pode ser muito últil aos designers. Foer usa a tipografia como parte integrante da narrativa; não dá para não reparar.

No outro livro que eu tinha lido, “Everything ist illuminated“, ele mudava a fonte tipográfica para cada um dos narradores (que escreviam em épocas diferentes). Como a história era um pouco confusa, ajudava muito na compreensão.

Neste, há três narradores e a escrita não é lá muito linear (bem típico do autor). Ele não muda a fonte tipográfica dependendo de quem conta a sua parte da história, mas trabalha com o kerning (espaço entre as letras) de uma maneira muito original. Como a história é sobre um drama (um homem que perdeu seu grande amor no bombardeio que destruiu a cidade alemã de Dresden e um menino que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro), a tipografia consegue fazer um papel bem relevante. É prosa, mas às vezes parece poesia, das mais delicadas. A ponto de fazer os olhos se encherem de lágrimas.

Lindo, comovente, doloroso, doce, e, ainda por cima, uma lição de tipografia.

Não sei se na versão em português os editores mantiveram essa sutileza tão sofisticada e importante para a história, mas, se eu fosse você e ainda não tivesse lido o livro, iria correndo dar uma volta na livraria mais próxima e dar uma folheada. Em poucos casos vi a tipografia fazendo figuração de maneira tão competente numa obra. Vai lá…

*** na versão em inglês, achei genial a pg. 280 e as subsequentes…

4 Responses

  1. 31 maio 2012 at 5:35 pm

    Lígia. A primeira vez que eu vi isso num livro achei sensacional.
    Está em “Olhai os Lírios do Campo” do Érico Veríssimo (belíssimo!). A história é contada em tempo presente e, simultâneamente, memórias do personagem principal, Eugênio. Em muitos momentos do livro, a única pista que o leitor tem para saber se o que está sendo relatado é do tempo presente ou se é “memória” do personagem é o tipo itálico que caracteriza as memórias.
    Isso em 1938! Coisa de gênio, né não?

    • ligiafascioni
      Responder
      1 junho 2012 at 8:55 am

      Puxa, é mesmo, Ênio… Li esse livro quando era adolescente (é lindo!), mas naquela época não era tão ligada nisso. Nossa, agora me deu umas saudades do Érico Veríssimo…
      Obrigada pela lembraça!
      Beijocas 🙂

  2. 1 junho 2012 at 10:36 am

    Taí, pra você matar um pouquinho da saudade:
    http://www.youtube.com/watch?v=EpnFwrCmBac

    • ligiafascioni
      Responder
      1 junho 2012 at 5:02 pm

      Nossa, que lindo, Ênio, adorei! Obrigadão, viu?
      Fico feliz porque se tem uma coisa que faço bastante é observar bem os lírios do campo; os lírios, as papoulas, as tulipas, as ruas, as bicicletas, as árvores, as pessoas…..eheheheh
      Beijocas 🙂

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