Nunca vou me cansar de ser grata à Valéria do Clube do Livro de Münster por me apresentar essas pérolas da literatura brasileira. Na verdade, essa linda faz mais que isso: ela importa os livros e manda para a casa da gente num pacotinho lindo e cheio de capricho.
Pois a obra desse mês para a discussão em um grupo online é “Tudo pode ser roubado”, da Giovana Madalosso. A moça é jornalista, publicitária e roteirista; nesse livro ela mostra a que veio.
A primeira curiosidade é que não sabemos o nome da protagonista; a narração é em primeira pessoa e ninguém a chama pelo nome. Ela é uma garçonete por escolha. Depois de cursar um semestre de Letras, chegou à conclusão que passar alguns anos em uma universidade vivendo mal e acumulando dívidas, para no final ganhar quase a mesma coisa, não valia a pena.
A moça admite que não tem sonhos grandiosos; está satisfeita com sua posição de garçonete num restaurante famoso em São Paulo e a única coisa que ela ainda quer conquistar é dinheiro para poder comprar o apartamento em que mora de aluguel, no centro da cidade.
Como uma mulher livre de 29 anos, ela usa o aplicativo de encontros para achar parceiros bacanas; ela não quer nada sério, só diversão. Está muito satisfeita com sua vida solteira e independente.
Num desses encontros, meio que por reflexo, ela viu um objeto na casa do sujeito (um recém-viúvo) que a deixou fascinada: uma estola de pele de raposa legítima. Num reflexo, guardou na bolsa para admirar depois. Foi aí que descobriu um mundo novo: o dos pequenos e valiosos roubos, sutis e passíveis de passarem despercebidos no curto prazo.
Como a moça nunca iria ter ocasião para usar uma peça dessas (e nem queria), acabou procurando um brechó de luxo para ver quanto poderia valer. Foi então que conheceu Tiana, uma mulher transsexual elegantíssima, culta, educada e que acabou se transformando na sua melhor amiga. Tiana, discretíssima, tentou descobrir a origem das peças no início, mas depois deixou pra lá, vendo que a moça não ia revelar nada.
Tiana ensinou à garçonete tudo sobre moda, marcas famosas, grifes e coleções, enfim, um curso completo mesmo para ajudar a “curadoria” no processo de “aquisição” das peças.
Eis que a garçonete vai vivendo sua vidinha tranquila, feliz, com pequenas emoções, resultado da sua atividade ilícita, porém controlada (era um exemplo de profissionalismo no restaurante e nunca roubou nada lá).
Nesse cotidiano, para mim, a melhor parte é o que ela apronta para um pastor evangélico daquele tipo mais escroto, nadando em dinheiro, e claramente pedófilo. Não vou contar para não dar spoiler. Achei pouco, mas ótimo (era o que dava para ela fazer no momento).
Eis que um belo dia, um sujeito misterioso a procura no restaurante com uma proposta: roubar um livro raro e valiosíssimo, de propriedade de um professor de jornalismo depressivo e anti social. A “comissão”é suficiente para ela dar entrada no apartamento que tanto sonha.
Agora a moça vai ter que usar todo o seu talento e lábia. E, olha, não vai ser um trabalho fácil.
E mais não posso dizer.
O que posso falar é: leiam! São poucas horas de puro deleite, passeando por São Paulo na companhia dessa moça fascinante.
Recomendo com estrelinhas.
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