Muito além do design

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A Renata Boere é uma designer gráfica que mora em Haia, na Holanda. Ela tem um estúdio especializado em projetos gráficos voltados à área cultural: faz livros, catálogos e material promocional para artistas e museus. Ela também dá aulas numa universidade e mantém uma ONG para dar oportunidade a estudantes usar seus conhecimentos em projetos sociais, pois Renate acredita que essa é a maior missão do design.

Encontrei o livro dela “Beyond Design: making socially relevant projects successful” (Tradução livre: “Além do design: fazendo projetos socialmente relevantes bem-sucedidos”) numa livraria em Amsterdam e me apaixonei pela diagramação e encadernação (o projeto é simples, mas muito eficiente — a marca dela). 

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Apertando as mãos

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Mas como é que não descobri essa mulher antes, minha gente? Foi o que pensei quando peguei nas mãos, por pura curiosidade, o livro “The Handshake: a gripping history”, que, numa tradução livre seria “Aperto de mãos, uma história emocionante”. Mas gripping é literalmente agarrar (a história “agarra” você), então o jogo de palavras ficou bem divertido. 

Fui obrigada a levar o volume para casa depois que li a segunda orelha, com o currículo da autora, Ella Al-Shamahi: é formada em genética, taxonomia e biodiversidade, está agora fazendo um doutorado em paleantropologia, e atua como comediante stand-up. A moça é especialista em Neandertais, escavações em ambientes hostis, além de ser apresentadora de TV na BBC e exploradora da National Geographic. Descendente de uma família do Iêmen radicada em Londres, Ella foi muçulmana fundamentalista a maior parte da vida, mas depois de anos estudando, viu que essa herança familiar não estava de acordo com sua visão de mundo.

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De novo, por favor!

Uma das coisas que amo fazer em Berlim é visitar mercados de pulgas aos domingos; geralmente só compro livros e louças, mas já adquiri várias roupas e acessórios também; adoro! Também gosto muito das lojas de objetos usados: tem muitas redes com diversas filiais pela cidade que costumo frequentar (em duas delas tenho até cartão de fidelidade).

UM NOME MUITO CRIATIVO

Pois ontem descobri um verdadeiro shopping de objetos usados. O nome não poderia ser mais original: Nochmall! Nochmal, em alemão, significa outra vez, de novo (perfeito para algo de segunda mão); e Mall (em alemã ou inglês) significa shopping. Então Nochmall, com dois “LL” fica um jogo de palavras para lá de divertido.

A tagline é “Alles ausser neu“, quem numa tradução livre significa “tudo, menos coisas novas“.

O complexo pertence à BSR, empresa municipal responsável pela limpeza pública (inclusive grandes objetos e coisas para reciclagem).

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2 jeitos de publicar um livro

Muita gente me pegunta: como faço para publicar um livro? Custa caro?

Bom, tenho 8 livros publicados em papel* e um e-book ilustrado; vou compartilhar minha experiência pessoal, mas não sou especialista.

Observe que aqui estou considerando apenas livros impressos. E-book é um formato eletrônico que aceita tudo; tanto livros de verdade como panfletos, apostilas, artigos, textos com ou sem ilustrações. Basta a pessoa gerar um pdf ou um epub, chamar o arquivo de e-book e está valendo.

Sobre o processo de escrever um livro, o professor Ênio Padilha, com dezenas de obras publicadas e sua própria editora, tem material excelente e de sobra no site dele.

Mas para colocar o filho no mundo, até onde sei, há duas formas:

1. PRODUZINDO UMA EDIÇÃO PRÓPRIA

Como funciona: você contrata uma editora (geralmente pequena) que faz todo o trabalho de revisão de texto, capa, diagramação, registro do ISBN e produção gráfica. Você paga por tudo isso e recebe os exemplares na sua casa.

Dá também para fazer todo esse trabalho de maneira independente, se a pessoa tiver conhecimento, tempo e disposição.

Tendo como bancar, seu livro vai sair, com certeza!

Custa caro? Não faço ideia — nunca publiquei um livro assim.

Se você não tem recursos, dá para tentar um patrocínio ou fazer uma vaquinha (há sites de crowdfunding como o Catarse, por exemplo).

Mas atenção: a promoção, venda e logística são por sua conta e risco. Quem tem talento e disposição, pode ganhar muito dinheiro dessa forma.

2. SUBMETENDO OS ORIGINAIS A UMA EDITORA CONVENCIONAL

Como funciona: você escreve seu livro e envia para os sites das editoras nas quais você gostaria de publicar. Mas é que nem vaga de emprego: a maioria nem dá resposta e você recebe muitos nãos. Não desista; com persistência um dia o seu sim chega…

A vantagem é que custa zero dinheiros. Você investe “somente” seu conhecimento, tempo, talento e muita, mas muita paciência.

Nesse caso, além da incerteza se a sua obra realmente será publicada algum dia, há outra má notícia: dificilmente você fará dinheiro com isso, pois o autor recebe somente algo entre 8 e 10% do preço de capa depois do livro vendido. E se quiser seu próprio livro, tem que comprá-lo.

É que nem monetizar vídeos no Youtube: você pode ficar rico se vender milhões de exemplares, mas é bem improvável de acontecer se você não é famoso.

Ué, você se pergunta: mas por que então as pessoas (incluindo eu) escolhem a segunda opção?

Não posso dizer pelos outros, mas no meu caso é por duas razões:

  1. Vender é uma arte e dá quase tanto trabalho quanto escrever e produzir o livro. Além disso, tem toda a logística, burocracia, atendimento e relacionamento com o cliente associados ao negócio.
  2. Publicar em editoras maiores dá mais credibilidade ao autor, já que a obra passou pelo crivo de alguém experiente que literalmente pagou para apostar no seu conteúdo.

No meu caso, escrevo livros para gerar autoridade nos temas sobre os quais me dedico a estudar: inovação e liderança.

Todo o conteúdo que gero aqui e em outros canais como vídeos, podcasts, artigos, resenhas e pocket textos, não gera retorno financeiro (como os livros).

Mas eu, como todo mundo, preciso pagar boletos.

Então, minha forma de remunerar todo esse trabalho é vendendo palestras e cursos. A DMT Palestras faz toda a parte comercial e eu fico só na parte divertida, que é produzir conteúdo.

Esse pocket texto resume a ideia.

E você, já pensou em publicar um livro ou já tem algum publicado? Sua experiência foi diferente?

Meu nono bebê: Atitude Pró-Inovação

Depois de anos fazendo resenhas de tudo quanto é tipo de livro, essa é a primeira vez que faço a de um que eu própria escrevi. Atitude Pró-Inovação é o meu nono filhote; nele, faço praticamente um balanço da minha trajetória profissional nas entrelinhas. 

Publicar uma obra é quase tão trabalhoso quanto escrevê-la, pelo menos se o autor não está disposto a bancar a edição própria (como não tenho nenhum talento para vendas, sempre busquei editoras que já tivessem uma boa estrutura de logística, promoção e distribuição). 

Em 2018 eu já tinha o primeiro rascunho quando meu querido amigo Diego Trávez, da DMT Palestras, que me representa com exclusividade no Brasil, conseguiu um contato com uma editora grande. Examinando a minha proposta, eles toparam a publicação mesmo sem o trabalho estar concluído (foi a primeira vez que isso aconteceu comigo). Entreguei os originais e assinei o contrato em julho de 2018. Pois depois de um ano e meio sem notícias ou perspectivas, soube que a editora estava passando por uma crise braba de gestão. A pessoa com quem eu tinha contato lá foi desligada e fiquei bem perdida. 

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Persépolis

Persépolis é um clássico. Já ganhou prêmios diversos tanto como livro convencional como na categoria Graphic Novel. Na minha opinião, merecidíssimo.

O livro, totalmente em quadrinhos, desenhados pela própria autora, Marjane Satrapi, causou furor quando publicado em 2000, em francês. Em 2003 foi traduzido para o inglês e bateu recordes de vendas; até que se transformou em animação, em 2007, com o mesmo estilo visual dos quadrinhos. 

Mas por que tudo isso?

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O riscos da viagem no tempo

Eu já tinha ouvido falar da Joyce Carol Oates; por isso fiquei curiosa quando vi “Hazards of Time Travel” (tradução livre: “Riscos/ameaças da viagem no tempo”) num dos sebos que frequento. 

A história é a seguinte: Adriane Strohl é uma adolescente que vive numa distopia nos Estados Unidos. O atentado de 11 de setembro era justamente o que políticos com viés ditatorial esperavam como chance de eleger um inimigo público número um e com isso justificar todo tipo de atentado à democracia. Aos poucos, um Estado Totalitário foi se formando a ponto do governo ter controle sobre o comportamento dos cidadãos e distorcendo livros de história (como em 1984 e o Ministério da Verdade). Aqui eles vão mais além; até as evidências científicas são reinterpretadas para favorecer o grupo de controle. E os anos passam a ser contatos a partir do 11 de setembro; antes disso, a história foi simplesmente apagada dos registros.

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Vendo o que os outros não vêem

Dois policiais estão presos num engarrafamento. Estão de boa, pois é só a ronda rotineira. Eis que um deles olha para o lado e começa a admirar uma BMW caríssima. O motorista está fumando e, de repente, simplesmente joga as cinzas no banco do passageiro.

Que absurdo, um dos policiais pensa. Um carro caro desses! Aí começa a pensar: quem faria uma absurdidade dessas? Não o dono, que teve que comprá-lo. Não o amigo que pegou o carro emprestado. Somente alguém que não tenha nenhum tipo de contato com o proprietário, tipo, um ladrão, faria uma coisa dessas. Num estalo, o policial ligou a sirene, acionou o suporte e, de fato, o carro era mesmo roubado. Uma observação à toa gerou um insight que fez toda a diferença no trabalho do policial.

Pois o psicólogo cognitivo Gary Klein tem passado a vida profissional observando como as pessoas tomam decisões e tem um carinho especial por insights. 

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