Nessa semana da criança, nada como lembrar contos infantis. Eu adorava as histórias de Christian Andersen e dos irmãos Grimm, as fábulas de Esopo e La Fontaine. Passava horas viajando por aqueles mundos fantásticos com seus personagens formidáveis. Gostava de ler escondida, tarde da noite, com a lanterna embaixo das cobertas. Você também?
Num acesso de nostalgia, comprei há algum tempo “The fables of Aesop” (ilustrado, capa dura, por módicos U$ 1,30 no sebo da Amazon*) e reli a história de um cachorro, que de tão violento e desobediente, acabou ganhando um sino pendurado no pescoço para que as pessoas pudessem se precaver da sua presença. O bobo considerou aquilo como um prêmio e saiu se exibindo loucamente. Até que outro cachorro, mais esperto, avisou-lhe que o sino não era condecoração, mas um castigo, e até motivo de vergonha. Moral da história: não confunda fama com notoriedade. Eu acrescentaria outra: só os ignorantes são realmente felizes…ehehe…
Lições de moral à parte, esse grego que inventou a fábula humanizava os animais para dar uns toques para as pessoas menos atentas. Agora me dou conta de que a gente devia visitá-lo mais vezes.
Olha só a questão da fama e da notoriedade. Hoje em dia, as pessoas fazem loucuras inimagináveis, perdem a compostura, abrem mão da privacidade, colocam em risco até a própria dignidade, somente para ser famosos. Mas o que é a fama?
Vejamos o que diz a Wikipédia, esse Delfos do nosso tempo: Fama era uma deusa da mitologia romana que perambulava noite e dia sem conseguir se calar; falava verdades e mentiras com a mesma desenvoltura — o importante era a novidade. A Fama era representada por um monstro alado horrendo, cheio de olhos e orelhas. Tem também uma versão que diz que a divindade significa voz pública e, além dos múltiplos olhos e orelhas, também tem muitas bocas (acho mais coerente, para quem não pára de falar…).
Faz sentido que a Fama seja um monstro incontrolável. As pessoas lutam tanto para tê-la e depois vivem se escondendo, reclamando que não têm privacidade. Mas fazer o quê? A fama é isso mesmo: ser conhecido, célebre, estar na boca do povo, ser assunto das rodas, não importa o motivo: se você é famoso por causa do tamanho dos seus peitos ou pelos descalabros políticos que comete, a fama contempla todo mundo, sem preconceito. Basta ser persistente, criativo e ter poucos escrúpulos. Para a fama, o que importa é a novidade!
Maslow (aquele da pirâmide) nos ajuda a entender porque as pessoas querem ser famosas, afinal, todo mundo quer ser reconhecido e admirado, e, em última instância, as pessoas querem ser amadas. Não tem nada de mal nisso. Além do mais, fama geralmente vem acompanhada de dinheiro, coisa que ninguém dispensa, né?
Mas se as crianças (e seus pais) lessem mais Esopo, talvez se dessem conta de que, mais legal que ser famoso, é ser notório. A notoriedade consiste em ser conhecido também, mas por alguma aptidão particular, algum talento especial, alguma capacidade incomum. Dá bem mais trabalho, mas a pessoa preserva sua reputação e conta mais com o mérito do que com a sorte para ficar conhecido. A admiração é mais genuína e os 15 minutos podem durar anos.
O próprio Esopo prova que o negócio funciona mesmo; é só a gente pensar que daqui a alguns anos, depois que a mulher jaca tiver virado sementinha, esse sábio grego, com certeza, ainda vai continuar a ser lembrado.
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* Eu juro que não ganho nada para fazer propaganda da Amazon, mas é que o pessoal vive reclamando que livro é muito caro. Então aproveito para dar essas dicas — livros ótimos podem custar bem pouco.
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Julio Rezende
Você é bem notável, Lígia!
Aproveito muito do conteúdo do seu blog.
Que Deus lhe dê sempre graça e sabedoria!
Julio Rezende
Relações Públicas em Londrina.
Thiago Valinho
É… na verdade meu livro de infância foi do Saint Exupéry (Pequeno Príncipe). Saudades… hehehe Vou ver se aproveito do dia da criança para reviver as aventuras em outors planetas…hehehe
Um abraço,
THiago Valinho