Não me lembro como “The One Thing: the surprisingly simple truth behind extraordinary results” (tradução livre: “A única coisa: a supreendentemente simples verdade por trás de resultados extraordinários”), de Gary Keller e Jay Papasan veio parar nas minhas mãos; a única certeza é que é um livro usado, pois veio cheio de anotações (adoro!).
A premissa do livro é um desafio que chega a ser quase cômico para mim: escolher apenas uma e única prioridade para se concentrar e ser bem-sucedido. Logo eu, a rainha do “tudo ao mesmo tempo agora”. A primeira coisa que pensei foi: tá certo. Na verdade, vai ver que eu não quero ser um sucesso; quero é me divertir….rsrs…
Mas vamos ao que interessa: o conteúdo do livro!
Primeiro preciso dizer que ele tem aquela linguagem um pouco irritante dos livros de negócios, que falam o tempo todo de sucesso como sinônimo de dinheiro, vendas, prestígio e tudo mais.
Mas enfim, a premissa dos autores é que a chave do sucesso consiste em responder à pergunta:
“Qual seria uma única coisa que você pode fazer essa semana de maneira que todo o resto se torne mais fácil ou até desnecessário?”
Não é uma pergunta de fácil resposta, mas penso que faz sentido tentar respondê-la. A ideia é definir as prioridades para que se possa focar e concentrar as energias todas no que realmente interessa, em vez de ficar desperdiçando atenção em coisas aleatórias e não tão importantes.
Para ilustrar, Keller e Papasan usam um experimento feito com dominós. Um artigo numa revista científica de física publicado em 1983 mostrou que não apenas um único dominó pode derrubar quase 4,5 milhões na sequência (esse era o recorde do livro Guinness), mas ele também consegue derrubar a próxima peça sendo ela 50% maior.
Em 2001 um físico criou um experimento físico com 8 peças em que cada uma era 50% maior que a anterior, numa progressão geométrica, resultando numa brincadeira em que o primeiro dominó media mais ou menos 5 cm e o último, quase um metro de altura.
Os autores falam que a chave está em descobrir qual é o primeiro dominó (que não deve ser tão grande) que vai disparar todo o processo. Achei interessante a metáfora.
Aí eles passam a contar histórias de sucesso diversas, totalmente adaptadas para caber nessa narrativa de uma coisa só. Adorei que a pessoa que leu antes de mim pegou um furo nos exemplos, em que ele diz que Bill e Melina Gates construíram uma fundação para fazer diferença no mundo e resolveram se concentrar numa única coisa: saúde e educação (Ué, não são duas então? Rsrsrsrs).
Bem, até aí estamos apenas na introdução, onde o esforço é para mostrar que se concentrar em uma única coisa (e descobrir qual é ela) é a chave do sucesso. Ele fala das pesquisas que nós não somos multitarefa (no que está coberto de razão; todos os livros que li sobre neurociência afirmam exatamente isso — a gente não faz várias coisas ao mesmo tempo — o que acontece é que a gente fica chaveando a atenção de uma coisa para outra).
O primeiro capítulo é todo dedicado a derrubar mentiras; algumas são óbvias (nem todas as coisas têm o mesmo grau de importância, não somos multitarefa, pensar grande é ruim, “querer é poder” e muita coisa que faz mesmo sentido). Na minha visão ele se enrolou um pouco para falar sobre a disciplina e os hábitos; ficou bem confuso — a premissa é que disciplina não é relevante. Ela só importa para criar hábitos e, esses sim, são importantes. Para mim, meio que dá no mesmo.
Mas tinha também uma reflexão que achei interessante, sobre o mito da vida balanceada. As pessoas consideram uma rotina equilibrada quando tudo está sempre certinho e dentro do planejado. Mas o conceito de vida equilibrada que eles apresentam me parece mais realista: quando você está concentrado numa tarefa específica (aquela “única coisa”), as outras partes da vida ficam realmente sub-representadas e um pouco esquecidas.
Não é uma situação sustentável, mas às vezes é necessária para a gente conseguir fazer algum projeto acontecer. Por exemplo: eu, quando estou fazendo um curso (seja como aluna ou montando o material como professora), fico muito focada ao ponto de fazer todas as outras coisas terem menos importância. Praticamente só vivo para isso por um tempo (que não pode ser muito longo — senão não tem como dar conta — a gente precisa saber que é temporário e enxergar claramente o final).
Aí depois do projeto encerrado, a gente volta, se equilibra, até se concentrar de novo em alguma outra coisa. Então, pelo que entendi, não é uma coisa só para a vida toda; é uma coisa só temporariamente, para concentrar mais energia nela.
Os outros capítulos exploram mais a idea, e, no final, ele fala das quatro coisas que impedem a gente de focar numa coisa só: a inabilidade de dizer não (verdade verdadeiríssima!), o medo do caos (que pode acontecer se você deixar um pouco as outras coisas de lado para se concentrar em uma só), hábitos ruins com relação à saúde (aí o corpitcho não dá conta mesmo) e um ambiente que não apoie os seus objetivos (quando tudo atrapalha — você não tem o suporte nem do lugar, nem das pessoas ao seu redor).
No geral achei o livro bom, se a gente descontar aquele discurso um pouco irritante da chave para o sucesso, dá para aproveitar algumas dicas interessantes.
Tem versão em português para quem quiser experimentar e saber mais. É só clicar aqui!
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