Eu sei que a Conceição Evaristo é considerada uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas e também uma das mais premiadas. Então, quando tive oportunidade, comprei o seu romance mais recente, “Canção para ninar menino grande”.
A escritora é realmente um acontecimento. Nascida e criada numa comunidade em Belo Horizonte, trabalhou como empregada doméstica desde os 8 anos de idade para conseguir estudar. De família muito humilde, a diva estudou tanto que é doutora em Literatura Comparada. Além de vários títulos e prêmios, é uma importante referência quando se trata de experiências de opressão e marginalidade, principalmente as vividas pelas pessoas negras.
Por conta desse contexto, minha expectativa era altíssima (detesto quando isso acontece).
Mas vamos à história. Fio Jasmin é o nome do protagonista, um belíssimo homem negro que, para variar, foi muito humilhado na escola quando criança. Criado por um pai extremamente machista que teve muitos filhos pelo mundo sem nunca ter apoiado mulher nenhuma, seguiu o exemplo dele, para orgulho dos homens todos da história.
O rapaz é maquinista de uma companhia de trens de Minas Gerais, de maneira que vive de cidade em cidade, sempre convivendo com seus colegas de trabalho, também homens.
Na cidade onde ele mora se chama Chegada Feliz e uma coisa interessante na história é justamente os nomes das cidades por onde Fio Jasmin passa.
São todos inventados (conferi no Google Maps); mas olha que lista: Vale dos Laranjais, Alma das Flores, Monte vazio, Vale das Almas, Remanso Velho, Ardência Antiga, Nova Ardência, Palma do Oriente, Águas Infindas, Dias Felizes, Grande Infância, Dois Laços, Vila Azul e Fé Rompida. E esses títulos sempre têm uma ligação sutil com a história que se desenrola no lugar.
Aos 20 anos de idade, sabe-se lá por qual critério, Fio Jasmin escolhe Pérola Maria para se casar e ter filhos (muitos, pois eles são a prova de sua virilidade).
Mas em cada cidade que o moço chega, seduz uma mulher diferente. Com algumas ele tem mais de um filho e não dá a menor bola para saber como estão sendo criados. A mãe que se vire.
Todas as mulheres da história têm, de uma maneira ou de outra, sua independência financeira, mas, por algum motivo, colocam o homem como o centro de sua vida — mesmo que esse homem, apesar de belo e sedutor, não dê a mínima para elas. Tem até uma que comete suicídio, tão desgostosa fica com o abandono. Pensa que Fio ficou com algum tipo de remorso quando soube? Achou que não era com ele. Apenas lamentou a escolha dela e mais nada…
Olha, para ser bem sincera me deu um profundo nervoso ao ler esse livro; eu não via a hora de acabar. É como se fosse a história de um Don Juan, que passa a vida seduzindo e engravidando mulheres, incluindo a sua esposa, em quem faz nada menos que 10 filhos. Todas são muito generosas com ele e não lhe cobram nada. Contentam-se com as migalhas de afeto que o príncipe negro lhes dá.
A narrativa é completamente passiva, como que passando pano para o comportamento daquele doce de menino. Ele é assim por traumas de infância (foi preterido de ser o príncipe na escola porque um menino loiro foi escolhido no seu lugar). Ou então pelo exemplo de seu pai, um perfeito e acabado modelo de homem tóxico, que usa as mulheres como se elas fossem brinquedos. Não porque seja um narcisista, imagine. Tipo a romantização do boy lixo.
Outra coisa que me irritou um pouco foi a escrita poética para as maiores barbaridades cometidas pelo protagonista, completamente alheio aos sentimentos dos outros, sem um mínimo de empatia. Um egoísta no seu estado mais puro.
As mulheres, curiosamente sempre chamadas por nomes compostos ou completos, simplesmente não resistem ao charme do moço. E não reclamam. Apenas uma, que teve 3 filhos com o Jurandir, esboça um sentimento de revolta, mas nada faz a respeito.
No final, Fio Jasmin consegue se abrir com uma mulher lésbica que ele encontra numa das cidades que visita; a única que resistiu aos encantos dele — e então viram amigos.
O título do livro vem de uma música que sua mais longeva amante fez para ele; a moça o conheceu aos 17 anos e passou os 35 anos seguintes à disposição dele. Pensa.
Olha, sinceramente. Desculpe, Conceição, mas não foi dessa vez que você ganhou meu coração. Fui até o fim porque o livro era curtinho e também por teimosia (vai que tem alguma surpresa no final, sei lá).
Enfim. Se você quiser experimentar, por favor leia e deixe a sua opinião. Provavelmente será bem diferente da minha, pois essa autora é muito aclamada e respeitada. E se você já leu, por favor comente! Adoraria saber onde estou me perdendo que não percebi a genialidade da obra.
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[…] Resenha do livro “Canção de ninar menino grande“, de Conceição Evaristo. O texto escrito está nesse link. […]