Esse livro foi super recomendado pelos influencers literários que eu sigo; então fiquei muito curiosa. O fato é que, quando minha irmã veio do Brasil para Berlim, coloquei na minha lista de compras e “Não fossem as sílabas do sábado”, de Mariana Salomão Carrara, veio junto com os outros 15 volumes que fiz a pobre Andréa trazer para mim na sua mala de bordo.
A autora já tinha sido indicada ao Prêmio Jabuti com outras obras e esse romance específico ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura de 2023. Olha, foi merecido. A moça escreve muito bem, apesar de eu não ter curtido muito a história.
Mas vamos lá. Tudo começa com Ana, uma arquiteta, casada há poucos anos com André, vai num sábado de manhã até uma molduraria perto de casa pegar um poster que eles trouxeram de uma viagem.
Só que o negócio é muito grande e ela não consegue carregar pelos três quarteirões sozinha. Aí Ana liga para o marido, pedido ajuda; que ele a encontre no meio do caminho.
Ele começa a demorar, depois não atende mais o telefone. Ela é obrigada a devolver o poster que não consegue carregar na molduraria para pegar outro dia, e volta para casa.
Quando chega na calçada, coalhada de paramédicos, ambulâncias e até polícia, descobre o que aconteceu: um vizinho do décimo andar se jogou da janela bem na hora que André estava saindo do prédio. Os dois morreram instantaneamente, com o choque.
Pior que esse sábado, não era um qualquer. Ela estava planejando como ia contar ao André que estava grávida. Pensa numa situação complicada.
Madalena, a esposa de Miguel, o homem que se jogou na janela, bate na porta de Ana depois de alguns dias do ocorrido. Mesmo diante da depressão da moça, de sua indiferença e da culpa que Ana coloca na conta dela como sendo a responsável por toda a desgraça que lhe aconteceu, por não ter impedido de alguma maneira o marido de pular, insiste em lhe dar apoio.
Madalena suporta todos os desaforos e queixas, mesmo não tendo culpa pelo ato de outra pessoa. Acaba se tornando a melhor amiga, mesmo depois que Ana tenta processá-la para conseguir algum suporte financeiro do que restou da herança de Miguel.
Olha, dá para entender a dor e o desespero de uma mãe solo nessa situação, mas a Ana é uma pessoa chata que só consegue olhar para o próprio umbigo. Sim, ela está sofrendo, mas Madalena não está propriamente dando pulos de alegria. Ela é uma professora, como André, então está longe de ser milionária.
Madalena se compadece da dor de Ana (talvez para fugir da sua própria e ter a sensação de que está fazendo alguma coisa) e, além de sustentar a casa dela pelos meses que a Ana não consegue trabalhar, tanto por causa da depressão, como por causa do bebê, ainda contrata uma babá.
Ana nunca pergunta nada sobre como Madalena está se sentindo, mas aceita de bom grado o suporte emocional e, principalmente financeiro, da amiga.
Ana se afasta de todos os amigos e, aparentemente, não tem família. Madalena é a única pessoa que lhe estende a mão de verdade. Mesmo assim ela tem isso como se fosse uma obrigação, já que foi o marido da outra que desgraçou a sua vida.
Olha, como disse, entendo perfeitamente a dor da Ana, mas a Madalena também é uma pessoa. E uma pessoa boa. Aliás, boa demais na minha opinião. Eu não teria essa grandeza e essa paciência.
Mas a história é sobre como essa amizade vai se construindo devagar e por insistência da Madalena, que também parece ser sozinha no mundo. Uma amizade forte, que resiste a todas as dificuldades e problemas que aparecem, inclusive na criação da Catarina, a filha de Ana.
Olha, a história é bem escrita, mas achei Ana, que narra a história, uma chata e egoísta no último grau. Mas eu não sou mãe, então talvez tenha aí alguma coisa que eu perdi na narrativa.
Enfim, é bastante dor e dificuldade, mas, como disse. Muito bem escrito.
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[…] Resenha do livro “Não fossem as sílabas do sábado”, de Mariana Salomão Carrara. O texto escrito está nesse link. […]