Criatividade sem inovação

O design é irmão da inovação. Não diria que é o pai porque a inovação nasceu bem antes do design (ela nasceu com o mundo: ele, com a revolução industrial). Também não dá para dizer que a inovação é a mãe do design porque há montes de projetos onde os genes inovadores são flagrantemente recessivos. Fiquemos então assim: são irmãos ligadíssimos, unha e cutícula. Pois, no Brasil, um vive chorando no colo do outro porque estão os dois sem pai nem mãe.
Tentando responder porque o Brasil ocupa um longínquo 40o lugar em um ranking mundial organizado pelo prestigiado INSEAD, Nóbrega nos conta que depois de mergulhar em muitos estudos e estatísticas, chegou a conclusões bem tristes sobre a predominância do conservadorismo nas nossas empresas. Simplesmente não há ambiente para inovação no Brasil; o risco é desproporcional aos ganhos. Mas vamos por partes, a fim de que a linha de raciocínio fique mais clara.

Direita, volver!

Essa prevenção contra livros de auto-ajuda ainda vai me fazer perder muita coisa boa. O que me salva é que vivo cercada por pessoas inteligentes e bem menos preconceituosas que eu. Olha que sorte: um aluno da pós-gradução (profissional experiente que tem muito mais a me ensinar do que eu a ele) me apresentou um livro daqueles que você fica pensando: como é que eu vivi até hoje sem ler isso?

Trata-se de “A revolução do lado direito do cérebro”, de Daniel Pink.O autor apresenta, de maneira simples e didática (porém, muito bem fundamentada), as fases da nossa valorização como profissionais na história da economia recente.

Segredo não é para contar

Escondida lá no fundo da livraria, a Marilena Chaui, no excelente “Convite à filosofia”, explica que um dos legados mais importantes da filosofia grega para o pensamento ocidental é a formalização da diferença entre o que é necessário e o contingente. Além disso, os gregos nos ensinaram que o contingente pode ser dividido entre o acaso e o possível.

Olha só: o necessário é aquilo que a gente não pode escolher, pois acontece e vai acontecer sempre, independente da nossa vontade. Assim, sempre haverá dias e noites; o tempo vai passar; todas as coisas serão atraídas pela gravidade; você vai morrer algum dia.

Já o contingente é aquilo que pode ou não acontecer na natureza ou entre os homens. Quando o contigente é do tipo acaso, também não está em nosso poder escolher. Exemplos de acaso: não posso determinar se um motorista bêbado vai ou não abalroar meu carro e provocar um acidente; também não posso arbitrar que meu pai seja ou não um jogador compulsivo nascido na Croácia.

A salvação do design

Há apenas uma semana, se alguém me perguntasse que livro eu levaria para uma ilha deserta, responderia, sem titubear, “O jogo da amarelinha”, de Julio Cortazar. É um romance cujos capítulos estão estruturados para serem lidos em qualquer ordem. Cada seqüência que o leitor escolhe gera uma história diferente. Muitos livros em um. Ideal para uma ilha, não é?
Pois agora mudei.

Criatividade sem dono

— Pois é, a área técnica é muito limitada. Por isso escolhi trabalhar com criatividade.

— Sabe o que é? Não fico bitolado nesses detalhes técnicos porque sou muito criativo, viajo mesmo.

Vivo escutando essas frases de designers, publicitários, ilustradores, artistas plásticos e todos esses profissionais que se convencionou chamar “criativos”. É praticamente um consenso: eles são a parte criativa da sociedade. O resto das pessoas é bitolada, um pouco limitada, tem dificuldade para entender arroubos de inovação. Eu aceitava isso sem questionar muito. Mas, esses dias, ao ouvir pela enésima vez essa fórmula tão pouco criativa, comecei a questioná-la.

O escorpião e o cisne

Ontem fui ver Bruna Sufirstinha, admito, por pura curiosidade, já que não li o livro (Doce veneno do escorpião) e nunca consegui entender o motivo de tanto sucesso. De qualquer forma, talvez porque ainda estivesse bem impactada pelo Cisne Negro, vislumbrei um paralelo entre as duas histórias, que no fundo, são a mesma. Mulheres que têm a auto-estima debaixo do pé e querem, mais que tudo, ser amadas e admiradas. Para isso, torturam seu próprio corpo, machucam-se e ferem-se para o deleite de outras pessoas, no mais das vezes, perfeitas estranhas, que nem se dão conta do quanto custa isso.

Estilo para leigos e profissionais

Oscar Wilde, pela boca de seu personagem Lorde Henry, em “O retrato de Dorian Gray” diz uma frase que resume tudo sobre a auto-estima de uma mulher: “Ela se comporta como se fosse bonita. É o segredo do seu encanto”.

A frase não está no sensacional “Livro negro do estilo”, de Nina Garcia, mas bem poderia estar. Pra quem gosta de moda, nada mais essencial. Para quem gosta de pessoas, também. Nina escreve bem e conta como começou a prestar atenção em roupas e sobre a importância que elas passaram ter na sua vida.

A esfinge do mercado

Estou cansada de ouvir: “Mas o mercado quer o contrário do que eu sou! Preciso passar uma imagem de inovação e preocupação ambiental! A identidade é importante, mas tenho que dar o que os clientes querem para sobreviver no meu negócio!!”.

Sobreviver fazendo teatro? Na minha opinião, até uma companhia de teatro precisa ser fiel à sua identidade. A tentação de ignorar o que se é e divulgar o que você acha que o mercado quer ouvir é quase irresistível. Mas fuja dela se quiser sobreviver, e, principalmente, se quiser se destacar.

As tais regras

Quebrar as malditas e famosas regras, além de ser podre de chique, ainda nos dá uma maravilhosa sensação de transgressão. Quem não gosta?

Pois então. O negócio é que quebrar regras (pelo menos as do design), não é tarefa para amadores. Não basta cortar o cabelo no melhor estilo emo e sair arrastando o mouse descontroladamente para achar que está dando sua contribuição pessoal contra o mercado, culpado de todos os males da humanidade, da caspa aos bugs do CorelDraw.

Palavras que a gente não tem

Você sabe o que significa neko-neko em indonésio? É uma “pessoa que tem uma idéia criativa, mas que só piora tudo”. Você já teve um acesso de sekaseka? Essa palavra zambiense é usada para designar “alguém que ri sem motivo”. Em inuíte existe um termo especialmente criado para o ato de ”ir muitas vezes à porta de casa para ver se a pessoa vem vindo”. É iktsuarpok. Os alemães usam backpfeifengesicht para descrever “uma cara que merece um soco”.

Muito barulho por nada

Está rolando uma polêmica na internet por causa de um site, veiculado na imprensa como inovador, no qual o cliente decide quanto quer pagar por uma marca gráfica. Designers (ou não) postam suas propostas e ele escolhe a que acha melhor, numa espécie de leilão ao contrário (o cliente define o preço e os profissionais disputam os projetos). Será que isso prejudica os designers?