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A glória e seu cortejo de horrores

Sério: como uma mulher pode ser tão multi talentosa como a Fernanda Torres? Eu já tinha lido o seu primeiro romance FIM e gostado muito. Mas em “A glória e seu cortejo de horrores”, ela se supera. 

Primeiro que não me conformo com a capacidade que essa moça tem de escrever em primeira pessoa em textos cujos protagonistas são homens. Eles sempre são meio pilantras, inseguros e um pouco perdidos na vida. E sempre muito, mas muito verossímeis. 

A história da vez é a do Mario Cardoso, um estudante de arquitetura que se rendeu a um professor que queria inculcar valores comunistas nos seus alunos e levou a turma toda para uma experiência no interior, a fim de conscientizar peões explorados por fazendeiros. O negócio deu ruim, mas dramatizações faziam parte das atividades, e o moço que mal entendia direito o que estava acontecendo, gostou da brincadeira.

E muito.

A ponto de abandonar a faculdade para ser ator. Seus pais ficaram decepcionados (o pai mais que a mãe) e o moço se aventurou por esse novo mundo que surgia em meados dos anos 1970, em plena ditadura militar.

A Fernanda é só um ano mais velha que eu, então também era criança nessa época, pela qual parece ser fascinada (é quando se passa a maior parte do livro anterior). Nada que uma boa pesquisa com fontes originais não dê conta; ela consegue descrever super bem os eventos, misturando personagens reais com fictícios da cena cultural carioca.

O livro começa como um Mario produzindo e estreando a peça O Rei Lear, de Shakespeare (a Fernanda já atuou nela na vida real), para tentar ressuscitar a sua carreira, em franco declínio desde que deixou a televisão. Na verdade, ele teve seu auge como galã de novelas e quando viu que estava perdendo a popularidade, resolveu voltar ao seu local de origem, o teatro.

A peça não dá certo por vários motivos e Mario se vê enrolado com notas fiscais furadas que seu contador teve que produzir para pagar comissões não previstas, se é que me entendem. Como ele terceirizava toda a parte financeira da produção e nunca quis entender os números, acabou ficando com a batata quente na mão e uma dívida enorme para saldar.

Ao mesmo tempo, sua mãe começa a desenvolver sintomas de demência e não pode mais morar sozinha. Aos 50, o antigo galã se vê endividado, sem trabalho, e tendo que cuidar da mãe sozinho. 

Mario tenta resolver todos os problemas novos que pipocam a todo instante, ao mesmo tempo em que vai lembrando de toda a trajetória que o trouxe até ali.

Tem sensibilidade, muito boa redação, um pouco de história real e muito de bastidores que só quem está do lado de dentro consegue descrever.

Ele arruma um papel numa novela bíblica para pagar as contas enquanto tenta achar uma solução para o problema da dívida, enquanto paga uma prima para tomar conta da sua mãe. 

Mas a coisa se complica ainda mais até um ponto inacreditável e posso dizer que o final é surpreendente. Adorei. E mais não digo para não dar spoiler.

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1 comentário

  1. […] Resenha do livro “A glória e seu cortejo de horrores“, de Fernanda Torres. O texto escrito está nesse link. […]

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