Certamente você já ouviu falar no mantra no mundo da inovação, condição conhecida por todos que frequentam o mundinho das start-ups: inovar significa arriscar. Isso quer dizer que tem que haver espaço para errar, falhar, fracassar. Desafio você a me recomendar um único livro sobre inovação que não traga essa mensagem em algum capítulo, alguma palestra que ignore a premissa.
Então todos concordamos que falhar faz parte do processo de inovar; é um dos princípios básicos do processo. Não quer errar, não se arrisque. Não quer perder dinheiro, não ouse. Não quer sofrer rejeição, não inove. Não quer se encher de dívidas, não empreenda. Empreender, por si, já é um negócio para gente corajosa que consegue domar seu medo; mas empreender inovando é um patamar acima de exposição ao perigo.
Dito isso, por que é que a maior parte da literatura de empreendedorismo e inovação só fala dos sucessos estrondosos? Por que os palestrantes do TED contam sempre histórias com finais felizes? Por que as revistas de negócios só colocam magnatas ou fenômenos financeiros nas capas?
O sueco Samuel West, ex psicólogo clínico com doutorado em inovação, não se conformava com isso. E ficou tão incomodado que resolveu ele mesmo tomar uma providência: construir o Museu do Fracasso (Museum of Failure). Diretor e curador da instituição inaugurada no início desse mês na cidade de Helsinborg, na Suécia, ele afirma que temos que parar de glorificar o sucesso e demonizar o fracasso; ambas as condições são igualmente importantes para a inovação. West pesquisou durante um ano e conseguiu reunir um acervo de 70 cases de verdadeiros desastres, tanto em serviços como em produtos físicos.
O lugar é um verdadeiro parque de diversões para quem se interessa pelo tema; traz vários casos famosos e conhecidos, como o Google Glass, o Newton (o “avô” do iPad, fabricado pela Apple) e a Bic for Her (aquela caneta pintada de rosa que seria, teoricamente, perfeita para mulheres que não gostam de usar canetas masculinas…rs). Ah, e tem também o jogo de tabuleiro do Donald Trump (West disse que tentou jogar de cabeça limpa, despido de preconceitos, mas o jogo é ruim demais da conta..rs). Deve ter muito mais coisa interessante, mas aí a pessoa precisa ir lá (é por isso que minha lista de lugares para visitar antes de morrer já está na metade da quinta encarnação…rs).
Não sei se está no acervo, mas o último fiasco bombástico que me lembro foi da Juicero, uma start-up que “inventou” uma máquina que espremia suco de fruta que vinha num sachê que somente a empresa fornecia (tipo uma Nespresso de suco). A engenhoca custava U$ 400, até que alguns sites resolveram testar a ideia espremendo o sachê na mão mesmo. Resultado: na mão era bem mais rápido, demonstrando que a máquina era absolutamente inútil. O pior é que eles já tinham levantado U$ 120 milhões para desenvolver o negócio, inclusive com investimentos da Google. Sim, há algo muito podre no reino das start-ups, mas isso é assunto para outro texto…
Segundo Walter, o objetivo é os empreendores entenderem que se até as grandes erram espetacularmente, então é ok um mortal comum falhar também. No mínimo confortante.
Bom, eu estou aqui trabalhando muito para não fazer parte desse museu. E você?
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NOTA: Para quem tiver curiosidade, participei pessoalmente de um caso de fracasso em inovação (que não deve estar no museu), quando trabalhei em uma equipe que desenvolvia drones há mais de 20 anos. Está tudo contado nesse post aqui.
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