Peguei o livro do irlandês Gerard Donovan na mão e me senti irremediavelmente atraída, mas dessa vez errei. Imaginava que fosse um romance falando sobre as descobertas da física com toques filosóficos, mas nada disso. A quarta capa trazia umas frases genéricas e avisava que a obra era finalista do Man Booker Prize, um prêmio muito prestigiado. Caí no canto da sereia.
Não que o livro seja ruim, mas só li até o fim de teimosa, prejudicada pelo erro de julgamento e expectativa. O texto, apesar de muito bem escrito, é lúgubre, melancólico e muito triste. Relata uma tarde em que os prisioneiros de uma cidadezinha europeia, durante alguma guerra genérica, são levados para um terreno ao relento, no campo. O frio é demais (talvez isso tenha me incomodado mais que tudo). Neva e venta nervosamente o tempo todo.
O protagonista é o padeiro da cidade, sujeito irremediavelmente misantropo, que está cavando um buraco. Aparentemente, quem fiscaliza a obra é o professor da cidade. Os dois passam a tarde congelando e discutindo sobre as coisas da vida, história, filosofia, guerra, amor e assuntos variados.
Já estava quase no final quando descobri o que, afinal, o telescópio de Shopenhauer tinha a ver com aquilo. É que o professor explica que esse grande filósofo do século XIX disse que, para ganhar perspectiva de qualquer problema, devemos viajar 50 anos para o futuro e utilizar o telescópio invertido para olhar para nós mesmos, como somos e tomar as decisões com o benefício da retrospectiva. Faz sentido. Muito.
A trama, apesar de simples, é bem relatada e o final surpreende um pouco. A questão é que o livro é chatinho mesmo, mas vale a pena se a pessoa tiver paciência. Não me arrependi de ter ido até o final, só não digo que tenha sido divertido. De qualquer maneira, olhando pelo telescópio, daqui a 50 anos, isso não vai fazer a menor diferença…
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