Pines

Eis que eu ia passando por um sebo e achei “Pines”, do Blake Crouch. Como adoro esse autor (já resenhei Upgrade, Dark Matter e Recursion), achei que valia a pena levar. E valeu mesmo. Fico chocada como um ser humano consegue ser tão criativo e talentoso. De onde esse sujeito consegue tirar tantas ideias, minha gente?

Bom, mas vamos lá! 

Ethan Burke é um veterano piloto de helicóptero da guerra do Iraque que agora é um agente do serviço secreto americano. Ele tem uma esposa e um filho; ama demais os dois, mas, talvez por conta de traumas de torturas que viveu durante a guerra, não consegue se entregar totalmente a eles. 

Ethan vai para uma cidadezinha do interior para investigar o desaparecimento de dois agentes, colegas dele. Os agentes saíram para a cidade há 15 dias e simplesmente sumiram sem deixar rastros.

Ele sai de casa, encontra um colega novo, e os dois vão de carro até a tal cidade. Essa é a última coisa que Burke se lembra.

Ele acorda no acostamento da estrada sem se lembrar de nada; nem seu nome, nem porque está lá, absolutamente nada. Não tem carteira, documentos e nem celular. Ele entra na cidade, caminha meio sem rumo, sente dores e começa a se lembrar; eles estavam entrando na cidade quando foram atropelados por um caminhão jamanta gigantesco. Ele se lembra de ter visto o colega morrer, e mais nada. 

Por algum motivo, sabe que deve evitar o hospital. Sai sem rumo, tentando entender o que está acontecendo. Ele para num bar, uma garçonete topa lhe dar comida e bebida a crédito (ele está sem carteira). Ele também consegue um quarto num pequeno hotel, mas somente por uma noite. Ele tenta entrar em contato com seu chefe, com sua família; nada.

A cidade parece parada nos anos 1980. Computadores e telefones antigos, os poucos carros, idem. As casas, em estilo vitoriano, são muito parecidas. Olhando com calma, quase parece um cenário artificial, de tão perfeito. As crianças brincam nos jardins e, como a cidade fica num vale rodeada por montanhas bem íngremes cobertas com uma floresta super densa de pinheiros muito altos (daí o nome do livro; pines são pinheiros em inglês) e o cenário é belíssimo.

Ele acaba parando no hospital e a enfermeira não é das mais acolhedoras. Ele teima que quer falar com alguém da sua família, sem sucesso. A enfermeira lhe diz que seus pertences estão com o xerife da cidade. Ele vai até o tal xerife, fica por horas esperando na recepção, até que o homem lhe diz que não está com seus pertences. Ele deixa fazer uma ligação para sua casa, mas ninguém atende.

O negócio vai ficando cada vez mais tenso e Ethan não entende o que está acontecendo. Ele rouba um carro, tenta fugir da cidade, e descobre que a estrada volta sempre para o mesmo lugar. 

Uma garçonete lhe passa um bilhete com um endereço; ele vai até lá e encontra um dos agentes que estava procurando morto, numa casa abandonada, com claros sinais de tortura. 

Pelas suas contas, faz três dias que ele está nessa cidade sem conseguir se comunicar com ninguém. Mas o próximo capítulo se passa na casa, com a esposa e amigos, que fazem uma festa em memória a ele, que está desaparecido há 15 meses. 

Por outro lado, ele entra numa das casas da cidade e se depara com a outra agente (sua ex-parceira com quem, inclusive, já teve um caso). Ela parece casada e bem adaptada, só que com uma aparência 20 anos mais velha. Como assim? Ela desapareceu há pouco mais de 15 dias!

A tal garçonete se encontra com ele e diz que é impossível fugir, pois assim que descobrem que alguém tem planos, a população toda da cidade se reúne para perseguir, torturar e matar quem ousa escapar. Ela tira o chip que foi instalado debaixo da sua pele, e eles tentam fugir assim mesmo.

Gente, pensa numa história tensa e cheia de inconsistências e coisas mal explicadas! Como o autor vai fazer para arrumar todas essas pontas soltas? Seria uma realidade virtual? Extra-terrestres? E essas defasagens de tempo?

Ethan não se conforma e vai tentar escapar assim mesmo. Ele consegue fugir para as colinas com toda a população da cidade atrás dele (liderada pelo xerife). Lá ele encontra uns seres bem bizarros, enormes, agressivos e doidos para acabar com a vida dele. Mas nosso herói ainda assim avista uma construção e consegue se meter torres que parecem aqueles canos de refrigeração de ar condicionado.

E mais eu só conto na segunda parte, se você quiser saber o final, que é surpreendente. Lá vou dar todos os spoilers. Mas já adianto que o livro é de 2012 e já saiu até uma série da Fox chamada “Wayward Pines”, que é o nome da cidade (que, pra variar não assisti).

Também encontrei o livro na versão em português na Amazon do Brasil. Não sei por que, eles decidiram manter o nome original (Pines). É só clicar aqui, ler correndo (a gente não consegue parar depois que começa) e depois ir na parte dois para ver se confere tudo certinho e não me esqueci de nada…rs

***

SEGUNDA PARTE (COM SPOILERS)

DAQUI PRA FRENTE É POR SUA CONTA E RISCO.

ESTÁ CIENTE E QUER CONTINUAR? BORA!

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 Como eu ia dizendo, Ethan resolveu se arriscar (já que não tinha nada a perder, pois sua vida sem a família não fazia sentido) e fugiu para as colinas. Todo estropiado, é atacado por seres muito esquisitos, tipo uns animais com pele transparente e muito agressivos. 

Quando ele consegue escapar pulando para um tubo de ventilação de uma estrutura escondida na floresta, descobre que há tipo uma base de pesquisas ali. Ele vê vários objetos antigos, refeitórios, laboratórios, enfim, uma estrutura gigantesca.

Lá dentro ele percebe novamente que está sendo perseguido e foge como pode. Até que chega numa sala onde caixas indicam o nome da pessoa, onde nasceu, a data de suspensão e o tempo de residência.

Mas quando ele encontrou a caixa com o seu nome, havia a data de suspensão como sendo 24 de setembro de 2012 (quando começa a história) e mais duas informações adicionais: 3 tentativas de integração e terminação em progresso. Nessa hora ele parou e esperou os agentes que o estavam perseguindo chegarem perto. Ele queria saber que diabos era aquilo, afinal de contas. 

Então um homem que parecia ser o chefe, explicou.

Em 1971, um geneticista descobriu que, por conta de toda a destruição, não apenas o planeta iria se modificar fisicamente, mas o DNA dos seres humanos também (microplásticos já foram descobertos em espermatozóides, sem falar na alimentação toda contaminada, enfim). Isso aconteceu porque desde a revolução industrial, os seres humanos agem como se a terra fosse um quarto de hotel de luxo e eles fossem astros do rock mimados. 

Então, nessa época, eles começaram a construir esse centro de pesquisas para tentar conservar alguns seres humanos para o futuro incerto; uma população de cerca de 600 espécimens que deveriam salvar a humanidade da extinção. A localização da cidade era perfeita, pois completamente isolada por montanhas altíssimas. Pois que expulsaram a população local, esvaziaram as casas e começaram a “congelar” as pessoas no centro de pesquisas. 

E quer saber o melhor? Essa conversa está acontecendo no ano 3850. O planeta de fato se transformou com as mudanças climáticas. Os seres humanos que sobreviveram foram sofrendo mutações e agora eram aqueles seres esquisitos de pele transparente que atacaram Ethan na floresta.

Ethan iria ser apenas “terminado”como uma experiência que não deu certo, pois essa já era a terceira tentativa deles de ressuscitarem e integrarem o homem à cidadezinha. Na primeira vez, ele tentou fugir e foi capturado. Na segunda, tentou fugir levando a mulher e o filho (sim, eles também foram levados para lá). Agora era a terceira e última chance dele. 

Mas por ser um guerreiro (e um heroi), com princípios claros e muita competência, o psiquiatra, dono do projeto, resolveu fazer uma espécie de chantagem: ele poderia viver com a mulher e o filho, numa casinha linda daquelas, e ocupar o lugar do xerife.

Mas aquele povo era todo muito esquisito: por que tanto ódio por quem tentava fugir? Por que não contavam logo que não tinha mais para onde fugir e aquele era o único lugar seguro do planeta? Por que as pessoas não eram informadas do que realmente estava acontecendo?

O psiquiatra disse que na primeira leva de pessoas que eles reanimaram para a integração, eles fizeram isso mesmo. Porém, o povo não deu conta de assimilar a situação e o número de suicídios foi absurdo. Eles tinham um número limitado de amostras; não podiam se dar ao luxo de perder tantas. 

Aí tentaram várias técnicas e a coerção e o medo era o que estava funcionando até o momento. As pessoas apenas se adaptavam e não questionavam; inventavam histórias para acalmar o coração, mas o índice de pessoas que tentavam fugir ficava sob controle.

Bom, eu achei a história genial e não esperava esse final. Porque eram várias descontinuidades de tempo;  colega dele, mais velha, nunca tentou fugir, então já estava há vários anos morando ali, numa boa — isso explica porque ela parecia tão mais velha; já o outro agente morreu na mesma idade porque tentou fugir várias vezes e não conseguiu. Acabou sendo morto pela população e serviu de exemplo para ninguém fazer o mesmo.

Só Ethan conseguiu ir mais além e descobrir tudo. O livro termina com Ethan no seu primeiro dia de trabalho como xerife e uma amostra do segundo volume (rola uma briga por poder), já que tem outro volume.

Posso dizer que esse autor é realmente muito, mas muito criativo e conseguiu responder todas as perguntas que apareceram durante a história (que foram muitas).

Se você já leu o livro e gostou, quem sabe dá para procurar a série. Não faço ideia se ficou ou não bem feita, mas a história promete.

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