Nos anos 40 do século passado, época de ouro do jazz, os músicos se reuniam depois da meia-noite (ou seja, depois do fim das apresentações) para tocarem juntos sem pauta definida em algum bar. Essa grande brincadeira musical baseada no improviso e no talento de cada participante fez com que o termo JAM (Jazz After Midnight) migrasse para outras áreas. Jam também significa geléia em inglês; então, quando a gente reúne pessoas com talentos diferentes para fazer algo de improviso, está também, de certa maneira, fazendo uma jam session (e nem precisa mais ser depois da meia-noite).
Final de semana passado participei de uma Jam Service Design em Berlim. O evento faz parte do Global Service Jam que acontece na mesma data em mais de 100 cidades espalhadas pelo mundo e com o mesmo desafio.
A ideia é a seguinte: reunir em um final de semana um grupo heterogêneo de pessoas (que nem é tão heterogêneo assim, já que quem se inscreve geralmente está interessado no tema e já sabe algo a respeito) se reúne para desenvolver um serviço baseado num briefing bem abstrato (já expliquei aqui que nesses workshops a ideia não é resolver um problema específico). Nosso briefing se resumia na planificação de um cubo (sim, apenas o desenho de um cubo aberto) e precisávamos desdobrar esse conceito para criar um novo serviço.
Para tanto, utilizou-se as técnicas do design thinking; não houve nenhum tipo de introdução teórica ou contextualização para não-iniciados, por isso recomendo informar-se antes de participar para não ficar boiando. E não dá para ficar muito preocupado com a utilidade e viabilidade do resultado dos trabalhos; como o pessoal da organização mesmo diz, uma jam session é para criar inovadores, não inovações.
Do ponto de vista do método, não havia nada de novo (depois de vários livros e cursos é um pouco mais do mesmo); mas a experiência em si foi inesquecível. O tempo é curtíssimo para fazer as tarefas e trabalhar em equipe com gente que você nunca viu antes e com backgrounds diversos. No meu grupo havia duas austríacas, uma egípcia, duas italianas, uma eslovena e dois alemães. Tivemos que sair na rua para entrevistar pessoas em busca de inspiração, negociar ideias, testar protótipos, tudo isso enquanto a gente se conhecia no meio da maratona.
Para mim pesou um pouco a dificuldade com as línguas; o idioma oficial do evento era o inglês (que entendo perfeitamente, mas tenho dificuldade em falar porque ainda misturo muito com o alemão), mas penso que mais da metade dos participantes também falava alemão (que consigo me virar, mas não a ponto de defender com segurança ideias absolutamente abstratas e subjetivas; eu sempre tinha que pensar bem em como apresentar minhas sugestões usando as palavras certas, o que tirou um pouco da espontaneidade). Enfim, minha participação ficou aquém do que poderia render se tivesse fluência absoluta em pelo menos um dos dois idiomas (nos workshops que participei em português deu para contribuir muito mais). Mas faz parte, daqui a alguns anos vou estar melhor (e com menos dor de cabeça depois de uma gincana de esforço mental…rsrsr).
A organização, totalmente realizada por voluntários, foi de tirar o chapéu. A gente ocupou as instalações maravilhindas de uma empresa de design service (Service Innovation Labs) que, para mim, foi a maior demonstração de desapego da face da terra (jamais emprestaria um espaço com cadeiras Charles Eames e Hermann Miller para 40 pessoas que não conheço fazerem aquela bagunça…rsrsrsr). Teve pizza, jantar à luz de velas, cartunistas registrando o evento em tempo real, café da manhã coletivo, apresentação de cases interessantíssimos, enfim, tudo de mais bacana possível. Além da oportunidade de conhecer gente linda, elegante e sincera de vários pontos do globo.
Uma experiência que recomendo demais (algumas cidades do Brasil também participam). Se você tiver a chance, não a perca!
clotilde Fascioni
Que legal, deve ter sido bem interessante.